3 vezes em que me senti inferior por ser altamente sensível (e como escapar dos rótulos no trabalho)

Quando subestimamos alguém, significa que não estamos botando fé. Estamos calculando a rota para pior e desconsiderando as chances daquela pessoa ser bem-sucedida numa tarefa.

Todo mundo está sujeito a passar por isso no ambiente de trabalho: julgamos e somos julgadas. Mas, para profissionais altamente sensíveis, acontece com mais frequência.

Pessoas com o traço da alta sensibilidade desafiam o ~status quo~ naturalmente, logo, é compreensível que haja resistência. O mundo do trabalho é quadradão e ainda não aprendeu a lidar com pessoas neurodivergentes, que fogem ao funcionamento padrão.

Pensando nisso, decidi partilhar sobre as vezes que me senti rotulada por ser altamente sensível e algumas ideias para ressignificar os sentimentos despertados em cada situação.

3 vezes em que me senti inferior no trabalho por ser uma pessoa altamente sensível (PAS)

#1 Quando falaram com normalidade de algo que não é normal

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Certa vez, o chefe da equipe entrou na sala comentando sobre um caso de estupro que havia me abalado imensamente. Servindo o café, ele afirmou, categórico: ~Estuprada por 33 homens… ela com certeza pediu por isso~. A equipe riu e seguiu trabalhando.

Aquilo me engasgou. Pedi licença para ir ao banheiro e tive uma crise de choro. Ao voltar, ouvi que eu era ~sensível demais~.

Sentimentos despertados: negligência, raiva e a sensação de ~o que eu sinto não é importante~ e ~estou convivendo com pessoas sem um pingo de empatia~.

Ressignificação: nossa cultura é doente, machista, mas eu não vou mudar o pensamento das pessoas chorando na frente delas. Se me faz mal ouvir algo, devo me manifestar e pedir que mudem de assunto. Posso, ainda, afirmar que aquele tema não é confortável para mim. Se mesmo assim, não houver respeito, me retiro, mudo de sala, faço o que for possível para me sentir bem.

Pensamento gentil: eu não sou inferior por ter empatia e me doer mais que a maioria. Isso significa que estou viva. Não me anestesiar diante de situações horríveis não é fraqueza. Posso aprender, inclusive, a me autorregular emocionalmente, para evitar os rótulos em ambientes mais rígidos.

#2 Quando subestimaram minha capacidade analítica e velocidade de raciocínio

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Não gosto de ser observada desempenhando minhas tarefas. A própria Elaine Aron, psicóloga que cunhou o termo alta sensibilidade, já disse: pessoas altamente sensíveis (PAS) costumam se sair muito pior que o esperado quando são observadas, pois se cria uma pressão interna horrorosa.

Mas, pior do que isso, foi quando notaram que meu tempo era diferente e me excluíram de uma dinâmica, dizendo: ~Não nos leve a mal, tá? Precisamos de alguém que pense mais rápido~.

Sentimentos despertados: inadequação, incapacidade, invisibilidade, menosprezo e a sensação de ~não sou boa o suficiente~ e ~sou defeituosa, pois ninguém gosta de pessoas lentas~.

Ressignificação: profissionais altamente sensíveis ~demoram mais~ porque possuem uma capacidade inata de sentir profundamente e considerar todos os ângulos de uma situação, o que é uma habilidade notável e valiosa em cargos de liderança.

Pensamento gentil: já reparou no quão cuidadosa você é? Regular a ansiedade e avaliar o momento para dizer a coisa certa é uma qualidade e tanto! Ser mais lenta em relação aos outros não é ruim: você possui mais tempo para desenvolver estratégias eficazes e com isso, pode diminuir a margem de erro na tomada de decisão.

#3 Quando fizeram uma reunião de mais de três horas e fui a única a me manifestar (da pior forma)

Era uma daquelas reuniões presenciais que já durava mais de duas horas e meia. Sem brincadeira: o chefe da equipe estava empolgadíssimo e alguns colaboradores se mostravam participativos, dando ideias, o que fez com que eu me sentisse mal, pois havia chegado no meu limite.

Aguentei mais uma hora. Meu cérebro não conseguia processar mais nenhuma palavra e meu corpo pedia socorro. A certa altura, me levantei e falei: ~Desculpem, eu não aguento mais. Preciso comer, não estou raciocinando e isso aqui já tá durando uma vida~. O pessoal riu e comentou: ~Tinha que ser a Patrícia, sempre esfomeada~.

Sentimentos despertados: petulância, fraqueza, impaciência e a sensação de que não tenho tanta energia como os demais, logo, não devo ser uma boa colaboradora.

Ressignificação: o cérebro de uma pessoa altamente sensível processa tudo com profundidade. Ficar falando de mil coisas ao mesmo tempo, fazendo o famoso ~brainstorm~ por muito tempo, é pedir para que uma PAS se sinta exaurida. Preferimos observar primeiro e agir depois.

Pensamento gentil: comer é algo inegociável para uma PAS. Meu metabolismo é aceleradíssimo e eu realmente perco a capacidade de raciocinar após longos períodos sem comer. Não sou menos por isso, mas vale ficar atenta à sensação de ~transbordar~, a fim de evitar rompantes e ataques de nervosismo que provavelmente passarão uma imagem negativa.

Escapando dos rótulos: valorize seu estilo único de trabalhar

Elaine Aron diz que é preciso reformular o nosso passado, pois nos fizeram acreditar que nossas características (decorrentes da alta sensibilidade) eram defeituosas. Vê-las como absolutamente normais pode fazer toda a diferença.

Portanto, foque nos seus pontos fortes. Dentre tantas habilidades, você possui um sistema nervoso altamente sintonizado, com circuitos mentais mais ativos em áreas relacionadas à atenção. Olha que vantagem: isso te destaca quando o assunto é planejamento e tomada de decisões.

Rótulos são dados quando as pessoas creem que há apenas um modelo a ser seguido. Mas o mundo do trabalho está mudando e há cada vez mais pessoas descobrindo que são altamente sensíveis.

As diferenças individuais não podem mais ser ignoradas nas corporações. Nesse sentido, profissionais altamente sensíveis podem trazer equilíbrio em ambientes competitivos.

Já escrevi isso antes, mas reforço: as PAS serão a quebra na forma automática de trabalhar. Elas serão o elo entre as pessoas. Para as PAS, o ambiente de trabalho não tem de ser hostil. Ele pode se tornar um lugar de aprendizado mútuo, diverso, ilimitado.

Não é à toa que a forma de trabalhar de uma pessoa altamente sensível sempre levará em conta o impacto sobre as outras pessoas e o autorrespeito.

Consciência e rápida noção do que deve mudar é característica de quem nasceu para modificar estruturas e viver a vida além do óbvio.

Então, VIVA.

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