No segundo semestre de 2017, participei pela primeira vez da Hub Escola, um evento que me marcou muito.
Descrito no próprio site como “o maior festival de inovação do Brasil, criado para pessoas inquietas que querem atuar gerando valor para a sociedade”, a Hub Escola aconteceu no início de setembro e durou quase uma semana. Foi realizada aqui em Floripa pelo time querido da Impact Hub em associação com a Acate.
Dentre tantas opções e categorias disponíveis, escolhi um workshop curioso, intitulado “M.A.R. – Medo, Amor e Revolução”. Embora a chamada fosse curtinha, eu logo me vi na descrição:
M.A.R. é uma experiência para exercitar a mente e praticar a escolha de caminhos coerentes com o potencial humano – proveniente do amor – ressignificando as ilusões do medo e criando mudanças com propósito individual e coletivo. Inspirado no oceano e baseado em uma metodologia de 7 passos, o workshop trabalha de forma leve e prática a observação, questionamento e transformação dos nossos medos em atitudes que nos aproximem de nossos sonhos e daquilo que buscamos construir para nossa vida e para o mundo. (Fonte: Workshops Hub Escola 2017)
Achei que casava com o meu momento: eu tinha acabado de me demitir, estava me reerguendo emocionalmente e meus sonhos mal tinham começado a sair do congelador.
Éramos uma turma com mais de 10 pessoas, e de início a facilitadora Raíssa Teles pediu que fizéssemos um círculo. Imaginei que teríamos de nos apresentar, como em todo novo grupo.
E tivemos mesmo, mas com um diferencial: ao invés de utilizar nosso discurso de vida atual, tínhamos que trazer o futuro para o presente – ou seja, falar daquilo que gostaríamos de ser como se já fôssemos. Daquilo em que queremos trabalhar como se já trabalhássemos. A mudança no rosto da turma foi geral: a atmosfera acabava de ficar mais leve.
Falar apenas do que sonhamos e queremos como se já estivéssemos vivendo aquela realidade foi emocionante. Uma verdadeira injeção de autoestima que me causou sensação de empoderamento imediata.
Tenho até arrepio de lembrar: sem pensar demais, eu me apresentei como uma escritora reconhecida que havia publicado um livro e viajava por aí inspirando pessoas a enfrentar suas inseguranças e encarar a depressão sem clichês.
Depois de ouvir meus colegas e encher os olhos d’água por ter me identificado com os sonhos de uma das participantes, pensei: “Esse workshop vai ser diferente de tudo que já vi”.
Realmente: foi.
Um dos momentos mais aterrorizantes – e ao mesmo tempo brilhantes! – foi quando a facilitadora propôs que analisássemos a questão do medo sob outro prisma. Como? Escolhendo um local público, de preferência onde houvesse algum movimento de pessoas, e deitando no chão. Simples assim.
Ao imaginar a cena, comecei a fritar de ansiedade. Como eu ia simplesmente sair andando pelo Passeio Primavera e deitar no chão? E se alguém me perguntasse o que eu estava fazendo? E se começassem a rir? E a minha calça, que era clara? Diante do meu desespero, ela apenas sorriu e respondeu: “Tente e depois você me conta o que realmente aconteceu”.
Eu queria ver no que ia dar e ao mesmo tempo não queria. Mas, já que é pra desafiar… desafiei: tremendo, me afastei do grupo e escolhi o lugar mais movimentado possível, literalmente a calçada do Passeio, bem de frente para um café com janelas enormes de vidro. E lotado de gente, é claro. Avaliei a área rapidamente, tomei coragem e estendi meu ~corpitcho~ no chão. Me senti ~A DOIDA~.
Tratei de respirar fundo e me distrair olhando para o céu, que estava incrivelmente azul, com nuvens bem branquinhas. Nisso, pessoas iam e vinham. Eu ouvia os passos e ignorava. Elas passavam por mim. Desviavam. Algumas davam uma olhadinha. Outras nem ~tchum~.
No início, achei que meu coração ia sair pela boca, tamanho nervosismo e vergonha. Estava calor. Confesso que me senti ridícula.
Quando percebi que eu já devia estar pegando poeira e criando raiz há pelo menos 10 minutos e que nada do que eu temia tinha acontecido, me veio à cabeça que a coisa não era tão complicada assim. Que eu estava suando frio por nada. Que eu podia criar a minha realidade e escolher como eu ia me sentir. Que as pessoas não definiam quem eu era e como eu deveria agir. Sobretudo, que meus pensamentos não denotavam a verdade: denotavam medo. E que, como as nuvens, eles não deviam durar muito tempo no mesmo lugar. Porque a vida é móvel… é impermanente… e a gente se preocupa demais…
Interrompi a avalanche filosófica que descia porque notei a movimentação do meu grupo lá longe. Fui me levantando devagar, coração calmo, com vontade de dar risada do que tinha acabado de acontecer.
Voltamos para a sala.
Entre risos, compartilhamos nossa experiência. E por vezes, é da simplicidade que vem os nossos maiores espantos: nada do que eu havia projetado aconteceu.
Para ser sincera, no fim das contas foi até um pouco frustrante, porque, na minha mente, tive certeza de que alguém viria me perguntar o que eu estava fazendo deitada naquele chão quente. Tive certeza de que iriam se importar. Pensando agora, se me perguntassem, talvez eu respondesse, sem querer realmente me justificar, que estava apenas observando as nuvens e seus formatos. Jamais desconfiariam que aquilo ali era um exercício de autoconhecimento e superação.
Deitar no chão e nada ter acontecido serviu para me confirmar três coisas importantes, a saber:
- Um pensamento é só um pensamento;
- Não, eu não sou o centro do universo;
- E as pessoas têm mais o que fazer!
É sério.
Inúmeras vezes eu me senti paralisada profissionalmente, achando que estava sendo observada o tempo todo, achando que estavam vasculhando a minha vida várias vezes por dia e que não daria conta de iniciar coisa alguma tamanho peso e expectativa que colocavam sobre mim. Eu, hein. Mania de perseguição total.
Cega, de tanto me importar com o que os outros iriam pensar, não conseguia ver que era eu (e uma montanha de pensamentos destrutivos) quem mais me fazia mal.
Difícil descrever num único post tudo que experimentamos.
Dentre tantas coisas, falamos sobre amor próprio, autorrealização e as barreiras que colocamos ao redor dos nossos sonhos. As desculpas que damos. A autossabotagem. As crenças. O fato de quase sempre não nos acharmos bons o suficiente.
Não era à toa que o workshop estava na categoria “autoconhecimento”: fizemos uma imersão, nos permitimos sentir e mergulhamos no oceano de nós mesmos.
E porque somos humanos, teve choradeira.
E porque somos humanos, teve riso.
E porque queremos ser cada vez mais humanos, teve olho no olho.
O que eu vi (e recebi!) foi muito afeto. Muito acolhimento. Muita compreensão. E tudo isso em silêncio. E tudo isso em um olhar. E tudo isso entre pessoas que até então nunca tinham se encontrado. Das coisas que levo pra vida: quando uma alma entende a outra, as palavras são desnecessárias.
Participar da Hub Escola e em especial do workshop M.A.R. foi libertador. Gratidão imensa às pessoas que fizeram tudo isso acontecer. Vocês são incríveis!
Alguns meses depois do workshop, posso dizer, convicta, que deitar no chão me fez uma profissional melhor e menos ansiosa.
No sentido de que toda vez que começo a criar minhocários mentais e sofrer por antecipação, escolho um cantinho ao ar livre e deito no chão, a fim de observar meus batimentos cardíacos e o céu: tem mais efeito que chá de camomila.
E se o negócio é ter coragem, apele mesmo: deite em um local público, se acomode no concreto. Pegue pó. Escute o coração. Depois você levanta, sacode a poeira, põe a roupa pra lavar e descobre em si alguém mais leve, autoconfiante e muito mais ousada.
Experimenta, vai.
Por menos, bem menos ~noia~ nessa vida.
Quem sabe você descobre que deitar no chão é só o que te falta para seguir em frente?
Vai na minha: se eu tô aqui hoje, me expondo e escrevendo, é porque funcionou para mim.
E você, já conhecia a Hub Escola? Viveu alguma experiência transformadora? Me conta nos comentários que eu quero saber!
OBS.: para saber mais do trabalho lindo que a Raíssa desenvolve, clique aqui.