Desacelerar é preciso: o que a era do slow content pode te ensinar

O marketing é impaciente.

Queremos escrever bonito, usar as palavras-chave certas, ranquear no Google, publicar, viralizar, gerar receita, ganhar reconhecimento e crescer nossa lista de e-mails. Queremos vender – e rápido. De preferência, pra ontem.

Você pode até pensar, por um momento, que não é bem assim. Que você não funciona assim.

Mas aí você se lembra de tudo que já ouviu sobre essa história de produzir conteúdo digital.

Aquele guru de marketing disse que se deixar de publicar um dia, já era, as pessoas vão te esquecer. Tua prima, especialista em rede social, reforçou essa ideia.

Naquele evento, também foi falado que quanto mais você produz, mais resultado você tem.

Até o próprio algoritmo do Instagram, que não fala, mandou recado: se você ficar uns dias sem interagir, te jogo no buraco.

Diante de tudo isso, fica um pouco difícil acreditar que desacelerar pode ser bom. Temos a sensação de que estamos perdendo, de que estamos ficando para trás.

Mas quero te convidar a pensar que dar um passinho para trás pode ser justamente o que vai te impulsionar.

“Se o conteúdo é rei, o contexto é Deus”: para quem estamos produzindo?

Cansei de ler por aí que ~o conteúdo é rei~.

Gary Vee, um dos caras que mais admiro no marketing digital, foi corajoso ao acrescentar que ~Se o conteúdo é rei, o contexto é Deus~.

Isso quer dizer que não basta sair produzindo enlouquecidamente. É preciso pensar nos porquês e em quem queremos atingir. É preciso pensar em como as pessoas estão se sentindo.

Na minha visão, o excesso de conteúdo, só pra disparar a informação, afasta e adoece as pessoas.

Todos os dias, vemos surgir milhares de textos, fotos, vídeos e o caralho a quatro na web. Enquanto você me lê, milhares de pessoas apertam o botão de enviar/publicar em alguma plataforma digital.

Por um lado, isso é fantástico. Por outro, fica o questionamento: o que vale a pena ser pescado nesse mar de informação?

Afinal, nem tudo que foi produzido tem relevância.

Quantas vezes já não baixamos um e-book gratuito e tivemos a sensação de conteúdo raso, feito às pressas? Ou começamos a ler uma matéria com título impactante e, no meio dela, nos demos conta da superficialidade com que o assunto era tratado?

Acredito que isso tem muito a ver com o marketing impaciente e os apressadinhos que enxergam na produção de conteúdo em massa o único jeito de se destacar.

Trabalhar no modo ~slow content~ (conteúdo lento/devagar, em bom português) é ir na onda contrária – o que não significa menores resultados.

Afinal, o que é slow content?

De forma resumida, ~slow content~ pode ser considerado uma aba do marketing digital, mas também é entendido como um movimento e um estilo de vida, mudando apenas o substantivo: slow food (comer consciente), slow blogging (blogar devagar), slow fashion (moda consciente).

Eu diria que ~slow content~ é uma forma de lerdeza saudável.

Assim como Carl Honoré em sua palestra ~Elogio à lentidão~, também acredito que a ênfase na velocidade diminui nossa qualidade de vida, saúde e produtividade.

Na produção de conteúdo, é a mesma coisa. Bons textos levam tempo.

Quando você opta por trabalhar no modo ~slow content~, que eu carinhosamente chamo de modo ~minhoca~, o seu foco deixa de ser na quantidade. Você não quer mais preencher tabela ou postar só pra não ficar de fora.

O seu foco passa a ser no conteúdo ~evergreen~, também conhecido como conteúdo ~sempre verde~.

O conteúdo ~sempre verde~ é aquele que se mantém relevante mesmo depois de muito tempo. Pode ser um conteúdo introdutório (como é o caso deste texto) ou algo mais denso.

O que interessa é que, de alguma forma, as pessoas vão se lembrar dele porque houve lições preciosas. Houve aprendizado.

Gosto de pensar no ~slow content~ como um verdadeiro retorno ao pensamento crítico.

Conteúdos escritos no modo ~slow content~ permitem que a gente se aprofunde e se conecte por mais tempo.

Quando embarcamos na onda do marketing impaciente, nossa escrita pode tomar um caminho perigoso e superficial.

Acabamos falando de assuntos complexos de forma rasa. Colocamos vários tópicos para acelerar a leitura. Pulam-se os parágrafos mais gordinhos. Escrevemos listas numeradas, sem fazer um fechamento das ideias. Não queremos pensar, não queremos refletir ou ficar com novas perguntas: queremos respostas, e queremos já!

Não tô dizendo que listas não sejam legais ou que agora todo mundo tem que escrever textão reflexivo. Ninguém ~tem que~ nada.

Mas pensa aqui comigo…

Se uma das nossas maiores habilidades é a capacidade de raciocinar, o ~slow content~ veio em boa hora. Nós queremos tempo para digerir o que lemos, o que aprendemos.

Queremos tempo para colocar em prática, sem aquele sentimento de fracasso caso não seja possível publicar algo superincrível hoje.

Desacelerar para acelerar

Para finalizar, quero trazer a noção de que desacelerar pode ser o empurrãozinho que faltava para o seu crescimento.

Como?

Te ajudando a focar naquilo que importa.

Uma abordagem de marketing mais lenta permite melhores estratégias – o que, a longo prazo, acelera o nosso crescimento, porque teremos feito tudo com consciência.

Textos serão mais bem escritos. Haverá verdadeiro interesse e análise do assunto abordado. Haverá paixão. A conexão com o público aumentará.

Você finalmente entenderá que menos é mais e que dá, sim, pra dizer MUITO mesmo publicando POUCO.

Dá, sim, pra se tornar relevante e atingir os seus objetivos focando em qualidade ao invés de quantidade.

A qualidade de suas ideias lhe dá o direito de produzir menos (Mary Ellen Slayter).

Li essa frase maravilhosa há alguns dias e ela ficou martelando na minha cabeça. Toda vez que bate uma frustração por ser uma tartaruga em relação aos outros, eu lembro dela.

Mais do que isso: eu lembro que, acima de qualquer algoritmo, eu tô escrevendo para outro ser humano.

E se eu quero conexão real com ele, se eu quero que ele acredite em mim e sinta-se à vontade, não dá pra escrever e me relacionar de qualquer jeito.

Não é só despejar conteúdo, sair correndo e aguardar a conversão.

Conecte-se primeiro, afofe o terreno.

Em tempos de conteúdo raso e distribuição tresloucada, quem consegue desacelerar, contextualizar e enxergar o outro, senta do ladinho de Deus.

Você tem algo a dizer?