Que a sensibilidade tem sido cada vez mais incentivada no ambiente corporativo você já sabe. Ela é prima da empatia, que dialoga com um futuro inclusivo e pessoas capazes de ouvir e identificar as necessidades alheias, conforme escrevi em 2019.
O mundo pós-pandemia pede por pessoas com a sensibilidade aflorada e é aqui que um grupo até então menosprezado aparece: o das pessoas altamente sensíveis, conhecidas pela sigla PAS.
Essas pessoas possuem o traço da alta sensibilidade, identificado pela psicóloga norte-americana Elaine Aron, na década de 90.
Os estudos no Brasil ainda são escassos, mas desde que comecei a falar do assunto, quatro anos atrás, vejo o interesse aumentar.
Só no Brasil, somos mais de 40 milhões de PAS. Não é difícil descobrir se você faz parte do bonde: basta fazer o teste. Fique tranquila: ser altamente sensível é apenas uma característica de personalidade, portanto, se vir alguém falando em ~diagnóstico~ e ~tratamento~, não acredite.
Alta sensibilidade requer gerenciamento e autorregulação, o que é muito diferente de tratar com remédio. Aos poucos, vou explorar cada um desses tópicos.
Nesta primeira edição, vamos destrinchar algumas características observadas em pessoas altamente sensíveis (PAS) durante o expediente.
Isso pode ser útil tanto para quem é PAS quanto para quem não é: afinal, saber lidar com pessoas neurodivergentes pode melhorar muito a qualidade do trabalho na sua empresa.
Pessoas altamente sensíveis (PAS) no trabalho: principais características para identificar
1. Elas são de-ta-lhis-tas.
Pode até parecer que não, mas uma PAS tá de olho em tudo. O cérebro altamente sensível tende para a análise e processamento profundo das informações.
É uma espécie de senso para notar o que nem todo mundo nota: a sutil mudança no humor de alguém, a expressão de medo no olhar daquela colega, um quadro torto na parede, enfim.
Pessoas altamente sensíveis (PAS) estão sempre com as anteninhas ligadas e isso é involuntário, logo, elas não precisam se esforçar. Absolutamente tudo que vivem será filtrado.
Onde encontrar essa PAS: caçando erros ortográficos num documento que ninguém queria ler; lembrando uma colega daquele evento importante; observando aquele chefe que mesmo numa sala lotada de mulheres, continua falando como se elas fossem homens, utilizando toda a linguagem no masculino genérico; sorrindo diante de uma flor nova que colocaram em cima da mesa, etc.
2. Elas possuem um espírito colaborativo.
Pessoas altamente sensíveis (PAS) não se importam apenas com o seu próprio bem-estar. É por isso que trabalhar num ambiente em que haja ~climão~ se torna insustentável.
Elas não suportam ~rusgas~, olhares enviesados e fofocas. Há preocupação em tratar todo mundo bem (às vezes, até demais) e o real desejo de colaborar. As PAS se sentem úteis e queridas quando percebem que fazem a diferença na equipe.
Onde encontrar essa PAS: alheia aos boatos que surgem, porque sabem que alguém sempre sairá ferida; atenta e cuidadosa para resolver situações sem discriminar; buscando soluções ao invés de se juntar para botar mais ~lenha na fogueira~.
3. Elas enxergam as outras pessoas, sobretudo as ~invisíveis~.
Sempre notei isso na minha trajetória: as PAS não fazem divisão social das pessoas no ambiente corporativo.
Para elas, o porteiro tá no mesmo patamar que o diretor da empresa. A faxineira é tão importante quanto a analista de RH.
Uma PAS tem consciência e sensibilidade suficiente para não cair na armadilha do ~alpinismo social~. Essa história de ~andar com gente influente~ não faz a cabeça delas.
Onde encontrar essa PAS: no refeitório, ouvindo e compartilhando histórias das faxineiras; cumprimentando todo mundo, sem distinção, independente da hierarquia; fugindo das pessoas engravatadas que tratam as demais como se fossem inferiores.
4. Elas provavelmente não são as mais falantes do escritório.
Nos primeiros dias de trabalho, você quase não ouvirá a voz de uma PAS. Elas costumam analisar para depois agir.
De início, uma PAS ficará mais no cantinho, observando. Infelizmente, por não curtirem o estilo de socialização comumente praticado nas empresas (gincanas? socorro!), a primeira impressão de uma PAS no trabalho pode não ser boa.
Onde encontrar essa PAS: tranquila, lá no canto dela, fazendo seu trabalho sem perturbar os demais; encolhida no meio de uma apresentação de funcionárias; sem graça quando tiver de falar sobre si mesma e ser o centro das atenções.
E aí, se identificou ou identificou alguém?
Lembrando sempre que…
… nada disso é REGRA, são mais observações e tendências gerais. Conforme você vai descobrir, por mais que as PAS partilhem um traço de personalidade comum, cada uma possui suas próprias particularidades.
Minha tentativa é de não engessar o negócio, pois rótulos são uma verdadeira pedra no sapato das pessoas altamente sensíveis (PAS).
Espero que com esse primeiro artigo, você tenha conseguido ampliar sua visão sobre o tema. Em breve, tem mais!
