Sempre achei intrigante como a sociedade (ou as pessoas que estão bem ajustadas a ela) tenta dar um jeito no que não faz parte do status quo.
O status quo é o estado ~natural~ das coisas. É aquele cenário de sempre, é a zoninha de conforto, é a necessidade de manter distância do desconhecido. É a recusa ao diferente, ao novo, à quebra de paradigmas.
É a insistência na tradição, no apego, é a resistência ao que poderia modificar anos e anos de convenções sociais.
Se você já ouviu por aí que ser sensível demais é ~frescura~, ~falta de surra~, ~drama de quem não aprendeu a lidar com a vida~, parabéns: você teve uma amostra da força do maldito status quo.
Logo, a norma é ser durona, segurar o choro, manter a pose, guardar para si tudo aquilo que transborda.
Um péssimo negócio para aqueles 20% da população mundial que nasceu com o traço da alta sensibilidade.
Colocando rótulos nas pessoas altamente sensíveis
Pessoas altamente sensíveis, também conhecidas como PAS, costumam ouvir desde muito cedo que sua forma de se comportar é inadequada.
Quem é sensível demais (aliás, o que seria demais?), geralmente, não compreende o porquê de tantos rótulos até conhecer outras pessoas parecidas com elas.
Ano passado, fiz uma rápida pesquisa nas minhas redes sociais, a fim de saber o que as PAS não suportam mais ouvir.
O resultado taí.
3 frases que as pessoas altamente sensíveis não aguentam mais ouvir
1. “Você se emociona fácil, né?”: quem vê de fora não entende o que se passa. Para uma PAS, um show nunca é só um show, um pôr do sol nunca é só mais um dia indo embora. Tudo pode ser muito intenso, emocionante, lindo, incrível, surreal, maravilhoso, ahhh, meu Deus do céu! Não é que ela vá sair gritando tudo isso, tem muito mais a ver com o SENTIR. Uma PAS pode estar paradinha, sem falar nada, admirando o sol nascer… mas por dentro, só ela saberá como aquilo tudo tá se manifestando intensamente.
2. “Se você continuar sendo desse jeito, vai sofrer muito na vida”: um clássico. Muitas PAS podem ouvir isso tanto dos próprios familiares – que acham suas reações exageradas – como de chefes e colegas de trabalho, que enxergam a sensibilidade como algo a ser evitado.
3. “Ser sensível é demonstrar fraqueza”: quase sempre, quem manda uma dessas faz o tipo durão/durona, mesmo quando algo sensibiliza. Pra mim, essa frase esconde pessoas com medo de entrar em contato com as próprias emoções, algo que muitas PAS já estão acostumadas a fazer.
Quando você aponta para mim, há três dedinhos apontando para você
A intensidade ou o peso com que algumas PAS vivem suas vidas pode incomodar e causar estranheza àqueles que não vibram da mesma forma.
O mais chato é que, dificilmente, uma pessoa altamente sensível chegaria em alguém mais durão e perguntaria: ~Ei, e esse coração de gelo aí, hein? Por que você tem tanta dificuldade de chorar?~. Mas debochar de quem sente demais parece razoável…
Quando o outro reflete algo que nos incomoda, ou que estranhamos, talvez tenhamos que olhar para nós.
Talvez tenhamos que parar de estranhar o que é incomum. Penso que é mais útil parar de tentar dizer a alguém como se portar.
Guardemos os conselhos não solicitados, as indiretas, as perguntas indiscretas, os comentários e o deboche sem fim.
Lembremos: o que não gosto no outro, eu mudo em mim.