Numa sociedade como a nossa, ser forte é sinônimo de fortaleza, de pessoa que aguenta tudo, que demonstra pouco, que tá sempre ali, segurando a barra.
Pra mim isso sempre foi a maior palhaçada. Força pra mim tem sentidos profundos, é coisa ampla. É ver amparo na delicadeza de uma flor, na chuva, num dia de sol. É saber que todo mundo tem limite.
Forte é quem dá a cara a tapa mesmo sabendo que pode doer. Não é mais forte quem foge ou camufla a dor. Força a gente precisa pra encarar as coisas. Fugir está sempre ao nosso alcance.
Há tantas coisas nos distraindo o tempo todo. A televisão. O rádio. As redes sociais. A fofoca do vizinho. O bar da esquina. As notícias nos jornais. As mentiras convencionais. O filho de alguém que nasceu, o filho de alguém que morreu.
A vida acontece todos os dias para quem se distrai. Para quem não consegue parar e olhar para dentro de si: o lugar mais doído de todos.
É um lugar de dor, então as pessoas acham que, evitando-o, seguirão com suas máscaras de pessoa forte. Esposa forte. Homem da casa. Tia que sustenta. Avó que segura as pontas. Cada um cumprindo um papel, vestindo uma fantasia, acreditando nela.
Você pode amenizar a dor por algum tempo. Há muitos disfarces, é só escolher.
Mas quando a dor aparecer, quando ela vier com tudo, sem pedir licença, quando ela explodir num surto, numa doença, numa exaustão, aí sim, você colocará a prova a força da qual tanto se orgulha.
Ser forte não é evitar o choro, a crise, não é fingir que nada aconteceu. Não é passar por cima, não é mostrar que não doeu.
Força é conseguir abrir os olhos, apesar do que se vê. Força a gente precisa pra modificar uma estrutura, pra mexer numa realidade. Força a gente precisa pra SER. Pra expressar o que dói.
Para se mostrar aos outros sem causar escândalo, basta estar de roupa. Se o corpo humano ainda é visto com repulsa, desejo que você sempre possa se vestir.
Porque pra ficar de alma nua, é preciso perder o medo de se despir…