Recolocação profissional: o que você precisa saber antes de fazer textão pedindo emprego no LinkedIn

Após cinco anos empreendendo loucamente e quebrando mitos sobre trabalhar com o que se ama, me vi esgotada. Há uma semana, tomei coragem e anunciei que estava em busca de recolocação profissional.

Dois posts no LinkedIn foram suficientes para me posicionar. Recrutadoras entraram em contato comigo e logo na primeira entrevista, fui contratada.

Mas, atenção: este artigo não é para te contar ~como conseguir um trabalho em sete dias~ e sim, te guiar sobre práticas que deram certo para mim e podem dar certo para você também.

Spoiler para ansiosas: o selo OPEN TO WORK do LinkedIn é furada. Vem comigo que te explico.

A decisão: migrar de empreendedora-dona-da-porra-toda para um cubículo no regime CLT

Se você empreende ou já empreendeu, sabe como pode ser difícil abrir mão do sentimento de liberdade e voltar a receber ordens.

É preciso pesar. Cada pessoa, uma história. A minha vivência não é igual à sua, por mais que ambas tenhamos pedido demissão de um emprego ~quadradão~ anos atrás.

Quando me demiti, em 2017, para arriscar até o que eu não tinha, eu sabia muito bem o que não toleraria mais. Saí da empresa dando ~tchauzinho~, feliz da vida, listando mentalmente o que deixaria para trás:

  • Adiós, colegas machistas! 👋
  • Adiós, inflexibilidade de horário! 👋
  • Adiós, pessoas falsas que fingem não me ver no corredor! 👋
  • Adiós, choradeira no banheiro do trabalho! 👋
  • Adiós, dinâmicas insuportáveis para a minha personalidade introvertida e altamente sensível! 👋
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Adióshasta la vistaarrivederci, até mais ver, que a porta bata onde o sol não bate, etc.

Ahhh… foi libertador!

Comecei atuando como redatora e revisora de textos freelancer, até passar pelo mercado de infoprodutos, aprender estratégias de lançamentos e criar meu próprio negócio de forma sustentável, vendendo curso e mentoria.

Deu bom? Claro que deu. É gostoso fazer seu próprio horário e ficar à frente de todas as decisões. Você se sente imparável. 

Com o tempo, porém, vem o cansaço. No meu caso, veio muito mais: depressão ao nível grave, ideias suicidas, morte de pessoas queridas e toda a angústia que só uma pandemia sem hora pra acabar consegue proporcionar.

Essa montanha-russa estava acabando comigo e a vontade de seguir adiante no meu próprio negócio. Precisava de uma pausa. Só que não adiantava diminuir o ritmo e esperar a comida cair do céu.

O ego gritando, inflamado, que era loucura voltar para o regime CLT. Havíamos conquistado tanto!

Bobagem. 

Voltar a flertar com o regime CLT não é motivo de vergonha, mas dependendo do tamanho do seu ego, pode ser complicado.

Sentimos que estamos dando um passo para trás, quando, na verdade, é apenas um caminho diferente para podermos atingir metas menores.

Decidir tentar uma vaga com carteira assinada virou sinônimo, para mim, de saúde mental. 

Que mané virar Top Voice no LinkedIn! Traz a paz de espírito em forma de boleto pago que tá bom demais. E ah, de sobremesa, terapia em dia, pode ser?

Quem já chegou muito perto do abismo, a ponto de perder a fé na vida, sabe que cuidar do próprio cabeção não é escolha: é necessidade.

Até para empreender no que se ama há limites

A vida é muito mais que pagar boletos, eu sei. Mas se eles existem e bancam parte da nossa sobrevivência, como ignorar?

Não, empreender não é um mar de rosas.

E digo mais: trabalhar com o que você gosta não é sinônimo de diversão, sabe por quê? Porque haverá sempre aquele campo que você não curte muito. 

O terror, para mim, é a parte técnica e burocrática. Dá pra fugir dela? Não. Ela existirá, você amando ou odiando seu trabalho. 

Sim, há vantagens em criar suas próprias regras. Aquela história de tirar uma sonequinha à tarde sem se preocupar demais é real, quando você é sua chefe. 

Mas cheguei num ponto em que as desvantagens se sobressaíram e aí, meu bem… só um textão de recolocação na causa.

Ouça a voz da experiência: o que não fazer ao buscar recolocação no LinkedIn

Posso não ter mais de trinta anos de carreira, mas desenvolvi bom senso para lidar com pessoas. Engana-se quem acha que o virtual difere do mundo real quando se trata de etiqueta e educação. 

Se o LinkedIn for a sua aposta para sair da lama do desemprego, recomendo ~printar~ as dicas abaixo, hein.

❌ Nem pensar: abordar recrutadoras assim, na cara de pau, via mensagem, sem nem dar uma sondada se estão em busca de alguém? Jamais!

❤️ Troque por: pesquisar a empresa, o site, conferir as vagas disponíveis e se possível, fazer contato com colaboradoras e funcionárias ANTES de chegar na pessoa do RH. 

🐱 Pulo do gato: uma vez tendo certeza de que ainda há vagas, você pode, de maneira sutil, mandar uma mensagem assim: ~Oi, Fulana, tudo bom? Vi que você é responsável pelo RH da empresa X e gostaria de confirmar se a vaga X já foi preenchida. Caso não, pode me passar o e-mail para envio de currículo? Obrigada pela atenção!~.

Viu só que elegância? Usei bastante essa abordagem nos últimos dias e garanto que funciona. Melhor ainda: se a Fulana do RH gostar de ti e do seu perfil no LinkedIn, a chance de pedir que você envie o currículo ali mesmo, na mensagem privada, é maior.

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Foca na elegância!

❌ Nem pensar: se candidatar por sites que anunciam as vagas. Falei diretamente com amigos recrutadores e eles confirmaram que a maioria dos currículos preenchidos nem chega nas mãos deles.

❤️ Troque por: pesquisar a vaga via LinkedIn e se candidatar apenas se a opção ~Candidatura simplificada~ estiver habilitada. Clicou no link para saber mais e foi redirecionada a um site que pede cadastro, criação de senha, preenchimento de currículo (mesmo você importando tudo em PDF!) e mais teste vocacional? Corre que é fria.

🐱 Pulo do gato: o bom e velho QI (Quem Indica). É isso mesmo: nada de ficar com vergonha de contar às pessoas que você tá na pista. Faça contato, especifique o que está buscando e pergunte se elas não estão sabendo de alguma vaga na empresa X. O mundo do trabalho é uma ervilha: alguém sempre conhece o Fulano que conhece o Ciclano que trabalha na área X e tá precisando de gente.

Nessas horas, vale até acionar aquele pessoal antigo que já trabalhou com você (isto é, caso você tenha saído numa boa; olha aí a importância de deixar as portas abertas!).

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Mantenha contato!

❌ Nem pensar: fazer textão choramingando, marcando empresas grandes, uma embaixo da outra, pedindo uma oportunidade ou um PIX por mensagem para pessoas que nem são suas conexões no LinkedIn. 

❤️ Troque por: se fazer notar. É boa na escrita? Demonstre isso, publicando posts, partilhando e-books criados por você, divulgando suas redes sociais. Tá buscando uma vaga de designer? Mostre do que é capaz, partilhe um projeto, uma ideia, dê um gostinho do que poderíamos ter ao contratar você. Atendimento ao cliente? Não saia comentando posts polêmicos e dando sua opinião na base do ódio: as empresas e principalmente as recrutadoras estão de olho nas suas atividades, pode ter certeza. 

🐱 Pulo do gato: sei que, às vezes, dá uma vontade danada de comentar e xingar no LinkedIn, mas, se estiver buscando recolocação, não perca a chance de ficar calada. Pense: você contrataria alguém que comentou um post de forma grosseira, do tipo ~Nossa, que história ridícula! E ainda errou na gramática. Nem escrever direito você sabe~ para atender o cliente da sua empresa? É mais ou menos por aí.

Chame a atenção pelo que você faz de melhor. Pare de passar vergonha dando alcance para publicações que não vão te levar a lugar algum. Foque em comentar posts que tenham a ver com o que você quer trabalhar.

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Mostre seu brilho!

❌ Nem pensar: colocar o selo verdinho, onde se lê OPEN TO WORK. Foi só ao colocá-lo no meu perfil que entendi o ranço que ele causa. Juro que não sei como surgiu essa ideia, mas acredite, ela existe: os selos verdinhos podem passar a imagem de pessoa ~folgada~, que não corre atrás do que quer. É como se você esperasse ser encontrada só porque avisou que tá aberta para trabalhar. Pior: as pessoas que mais reclamam e choramingam na rede, quase sempre, podem ser identificadas pelo tal selo.

❤️ Troque por: fazer um post alinhando suas necessidades (pode se inspirar no que eu fiz, ó) e contando que você tá procurando emprego, destacando suas habilidades, se expondo mesmo. Ah, dica de ouro: nada de escrever ~Em busca de recolocação~ no título, logo após o seu nome.

🐱 Pulo do gato: não menospreze as hashtags. Os editores do LinkedIn recomendam o uso de três hashtags, no máximo, mas às vezes eu testo colocar quatro ou cinco. O que interessa é acertar na escolha delas: se seu post vai falar sobre a busca por uma oportunidade, as que garantem mais visibilidade são #recolocação, #trabalho, #emprego, #desenvolvimentopessoal e #carreira. Utilize-as para encerrar o seu post. 

Lembrando que tudo que estou relatando aqui parte da minha experiência pessoal. Quer botar o bendito selo, bota, ué. Faz o teste e depois me conta.

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Pare, pense e reflita!

Pense bem antes de voltar para a CLT

É aqui que eu vou te frustrar: por fim, não voltei ao regime CLT. Me candidatei para alguns cargos interessantes, com salários bem medianos (entre R$ 1,500 a R$ 2,500) e horários inflexíveis (fora da CLT, descobri que trabalho melhor no período noturno), mas não obtive retorno e nem mesmo confirmação de recebimento do meu currículo.

No entanto, graças à indicação da Marília Lopes, musa dos vídeos no LinkedIn, recebi uma proposta para atuar como PJ (Pessoa Jurídica, ou seja, que possui MEI) tão boa, mas tão boa, que aceitei na hora, pois sabia que nenhuma oferta no regime CLT conseguiria cobrir. O que avaliei:

  • O valor total, líquido, sem descontos;
  • Mesmo com os encargos trabalhistas sob minha responsabilidade (imposto, décimo terceiro, vale-alimentação, coisa e tal), o valor que sobra continua o dobro do que eu receberia numa folha de pagamento do regime CLT;
  • A recrutadora, Julie Bazacas, foi tão gente fina e me deixou tão à vontade na entrevista que eu mandei a real sobre minha saúde mental e o uso diário de antidepressivos.

Além disso, ganhei de bônus tudo aquilo que eu gosto: flexibilidade de horário, o conforto de trabalhar de casa e uma equipe que não confunde ~redatora~ com ~gestora de tráfego~. Maravilha.

Tô falando pra você tentar apenas oportunidades PJ e descartar a CLT? De jeito nenhum. Faça o que é melhor para você.

Eu mirei na CLT mas o contrato PJ me tratou melhor como profissional e isso, pra mim, vale ouro.

Sendo alguém que vivenciou os dois lados da moeda, te digo: é possível adoecer tanto no regime CLT quanto ao empreender.

Conversando com algumas pessoas queridas, compreendi que não precisamos escolher apenas uma forma de trabalhar. Não é à toa que o ~modelo mosaico~ está em alta. Podemos desempenhar múltiplas funções.

Se essa mistureba é o novo normal, que bom! Ponto para a saúde mental. Diante de tanta desgraça, profissão do futuro é aquela que paga bem e não f*de com o nosso emocional.

Você tem algo a dizer?