Quem são (e onde estão) as pessoas altamente sensíveis?

Um ano tão desafiador como 2020 jogou luz sobre uma parcela de pessoas que costumavam ser invisíveis ou vistas como fracas pela sociedade: as pessoas altamente sensíveis, também conhecidas pela sigla PAS.

Uma PAS é uma pessoa que possui o traço da alta sensibilidade.

Neste artigo, você vai entender o que isso significa e as principais características de quem é altamente sensível.

Diferenças entre sensibilidade e alta sensibilidade

Bom, antes de tudo, quero deixar bem claro que não tô aqui pra dividir as pessoas em especiais ou menos especiais.

Sensibilidade é uma característica inerente ao ser humano, ou seja, todas as pessoas podem ser consideradas sensíveis.

De modo geral, a sensibilidade pode ser entendida como uma característica neutra e comum. Somos sensíveis à dor, a barulhos, a cheiros, etc.

Todas nós, sem exceção, somos capazes de enxergar beleza num pôr do sol, de nos emocionar diante de uma cena bonita, de chorar ouvindo música… e tudo bem. Sensibilidade é isso, essa capacidade perceptiva e sensorial das emoções, sentimentos e sensações, tanto físicas quanto sutis. 

A principal diferença entre sensibilidade e alta sensibilidade é a elevada resposta para tudo. Não é que as outras pessoas sejam insensíveis ou não liguem para determinadas situações: é só que, nas PAS, tudo é intensificado, tanto para o bem quanto para o mal.

Se um barulho de moto acelerando sem parar, às 7 da manhã, é capaz de incomodar uma pessoa com sensibilidade média/normal, em uma PAS, pode ser enlouquecedor. 

Se uma ida ao centro da cidade te cansa, mas não a ponto de você precisar voltar correndo pra casa e ficar bem quietinha, talvez você não tenha o traço da alta sensibilidade.

Para uma PAS, o ritmo de vida acelerado pode ser prejudicial, pois a alta sensibilidade é marcada por uma grande receptividade à estimulação.

O cérebro das pessoas altamente sensíveis trabalha dobrado para dar conta de todos os estímulos do dia a dia. É cansativo ter um sistema nervoso que reage rapidamente a qualquer informação.

Uma pessoa com sensibilidade média/normal não se sentirá tão afetada por tudo aquilo que a cerca ou que ela recebe. Tanto que, diante de uma reação emocional intensa por parte de uma PAS, ela dirá que “não é para tanto”.

Numa PAS, as mesmas informações serão recebidas, porém, não passarão batidas: haverá imensa absorção dos detalhes, uma percepção maior de tudo que foi dito, visto, ouvido… dentre outras questões, esse processamento lento e profundo caracteriza uma sensibilidade acima da média.

Todos os sentidos de uma PAS são igualmente afetados: tato, olfato, paladar, visão e audição.

As PAS captam inclusive estados emocionais das outras pessoas, embora nem sempre façam isso intencionalmente. É inconsciente.

Uma PAS que ainda não identificou sua forma de ser e estar no mundo, com suas peculiaridades, tende a se sentir mais exausta, mais esgotada, mais sugada. A energia acaba rapidinho!  

Daí a importância de identificar o traço da alta sensibilidade, a fim de se proteger e criar rituais de autocuidado.

Principais mitos sobre as pessoas altamente sensíveis

Embora pareça, o traço da alta sensibilidade não é assim tão raro. Segundo a Doutora Elaine Aron, pioneira no assunto da alta sensibilidade, este é um traço de personalidade presente em 15% a 20% da população, tanto homens quanto mulheres.

Infelizmente, nossa cultura menospreza pessoas que sentem demais, que vibram com intensidade e são movidas pelo afeto (não é uma loucura?).

Há uma tendência em associar sensibilidade com fraqueza, o que considero muito negativo.

Negligenciar a sensibilidade – e principalmente, a alta sensibilidade – contribui para diversos problemas de relacionamento e também para a manutenção do machismo.

Você já deve ter ouvido a clássica ~menino não chora~, né? Isso não é nada saudável.

Nas mulheres, atribuir a sensibilidade a uma personalidade mais fofa ou ~boazinha~ também não é interessante: torna-se uma forma de opressão.

O traço da alta sensibilidade ainda é pouco estudado no Brasil e isso, muitas vezes, o faz ser confundido com timidez, introversão e medo, gerando alguns mitos que precisamos quebrar urgentemente.

É incorreto dizer que…

…uma PAS chora por tudo e por nada;

…uma PAS é sempre muito tímida, tanto que não gosta de interagir nem de ir a festas;

…as PAS são medrosas e não gostam de novas experiências;

…a alta sensibilidade se caracteriza como um distúrbio;

…todas as PAS possuem dons sobrenaturais (vidência, canalização de mensagens, mediunidade);

…as PAS são como são porque vivenciaram traumas e sofreram abusos desde a infância, entre tantos outros mitos que, aos poucos, vou explorar em artigos.

As 4 formas de ser e estar no mundo que caracterizam as pessoas altamente sensíveis

Segundo a Doutora Elaine Aron, há 4 características fundamentais para identificar uma PAS. São elas:

1. Processamento cerebral profundo: toda informação ou situação chega até uma PAS de modo que pode levá-la a filosofar por bastante tempo. Ela precisa assimilar os fatos, digerir o que ouviu e relembrar cada parte daquele momento, o que a torna, muitas vezes, ruminadora de mágoas e assuntos que, para as não PAS, já estavam encerrados.
2. Hiperestimulação e saturação: o excesso de informação e estímulos é exaustivo para todas nós, mas principalmente para uma PAS. Um shopping center tumultuado, reuniões intermináveis em que todos falam ao mesmo tempo, uma música insuportavelmente alta, uma situação burocrática num banco: tudo isso pode sobrecarregar e levar o corpo e o cérebro altamente sensível à exaustão.
3. Reatividade e emocionalidade: uma PAS não consegue evitar se emocionar diante de algo bonito ou diante das dores dos outros. São empáticas por natureza, e sentem imensa compaixão pelas pessoas, animais e todos os seres vivos. Assim como o amor e o afeto se manifestam rapidamente nelas, a raiva e o sentimento de impotência por não conseguir mudar o mundo, também.
4. Sutilezas: detalhistas, observadoras e atentas, as PAS captam, quase sempre sem querer, o estado emocional das outras pessoas, ainda que de forma sutil. Muitas vezes, são capazes de perceber imediatamente a tensão num ambiente e saber o que se passa com seus colegas de trabalho sem que eles digam. No nível energético e espiritual, algumas desenvolvem a vidência, canalizam mensagens e percebem a presença de seres de outras dimensões.

De modo geral, uma PAS é alguém que precisa de mais tempo para absorver e processar tudo aquilo que vive, focando sempre no seu próprio bem-estar, antes de querer ajudar os outros.

Quando isso não acontece, ela se torna vulnerável a estados depressivos, ansiedade, estresse, codependência emocional e pode ser facilmente manipulada por pessoas narcisistas.

Ser sensível num mundo que não é: onde estão as PAS?

Foi preciso a Brené Brown lançar vários livros sobre vulnerabilidade e uma pandemia se instaurar para que algumas pessoas altamente sensíveis começassem a compreender que tá tudo bem ser como elas são.

As PAS estão por aí, querendo ser vistas e valorizadas. Você pode conviver com alguém altamente sensível, sem saber.

PAS são questionadoras, inquietas, sonhadoras, artistas, escritoras: verdadeiras agentes de transformação.

Preste atenção naquela sua colega que não suporta injustiça. Naquela que te escuta sem julgamento, e te faz se sentir acolhida.

Observe aquele ser que se abala com as dores do mundo e não tem vergonha de admitir que tá mal. Ou aquele que vibra com as cores do céu, do mar.

Preste atenção naquelas pessoas que te dão esperança de que a vida pode ser melhor e de que você não nasceu para ser refém de um sistema opressor.

Você não nasceu para ser moldada, encaixada, escravizada: você nasceu para se expressar, para sentir.

Sei que soa poético tudo isso. Mas, até a Forbes concorda comigo, quando diz que:

(…) as pessoas altamente sensíveis são as curadoras do mundo. As conselheiras. As observadoras de padrões, as modificadoras de sistema e líderes de movimentos. E sim, também são as dedicadas usuárias de máscaras – porque conseguem compreender a dor coletiva (ok, esse final, eu que escrevi).

Num mundo não tão sensível, as PAS se destacam. Elas reviram os olhos quando as outras pessoas falam em humanização, empatia, respeito, comunicação não violenta etc e tal, porque tudo isso já existe nelas, já lhes é natural.

Se você se identificou com o que leu e descobriu em si uma nova forma de ser e estar, não fica tímida, manda uma mensagem pra mim: eu tô precisando te encontrar.

[Crédito da foto: Bence Balla Schottner / Unsplash].