Há alguns anos, eu estava sentada numa cadeira confortável, com meus tornozelos e punhos gentilmente amarrados e diversos fios ao redor da minha cabeça.
À minha frente, um telão mostrava em tempo real o que estava acontecendo dentro do meu corpo.
Que esquisitice acompanhar o que fazemos conosco do lado de dentro: um único pensamento é capaz de agitar o coração, que manda um alô para o estômago, que começa a dar socos na barriga, que perde o controle de si mesma e devolve à sua boca uma incrível vontade de… vomitar.
Eu sabia que tudo estava interligado. Que nossa mente e nossos hábitos afetam nosso corpo e vice-versa. Havia estudado sobre isso numa aula de ciências, lá na quinta série.
Eu me lembrava de alguma coisa: vários corpos desenhados, vários esqueletos engraçadinhos no laboratório, além de uma professora simpática que mostrava como funcionávamos internamente.
É legal ler sobre o nosso corpo em livros, discutir as teorias e dar corda para a imaginação.
Mas VER, ao vivo e a cores néon, o quanto somos capazes de nos fazer mal é realmente assustador.
Conselho médico: pensar o que pensa
Quando recebi a receita médica, vi, além de mudanças na minha alimentação, uma frase destacada com canetinha verde-limão, em letras maiúsculas: PENSAR O QUE PENSA.
Não entendi na hora — acho que estava um pouco zonza por conta dos exames.
Mas, com o passar do tempo, isso passou a fazer sentido.
Pensar o que pensa significa vigiar o pensamento.
Para vigiá-lo, gosto de me imaginar como a segurança de alguma balada. Acompanha comigo: os pensamentos que vão prejudicar o ambiente — no caso, o meu cérebro, e, logo mais, o meu corpo — serão barrados por mim, logo na entrada. Atenta, sou capaz de vê-los chegando, sorridentes, bem bonitos, brilhando, prontos para o estrago, fazendo caras e bocas pra descolar um ingresso, mas eu, como segurança contratada da balada, não me rendo: mantenho a pose, coloco limites, faço cara feia e preservo o local.
Pegou a ideia?
Podemos aproveitar também a analogia natureba que Louise Hay — dona dos áudios sobre amor-próprio que gosto de ouvir antes de dormir — utiliza: nossa mente é como um jardim e alguns pensamentos são como ervas-daninhas.
Se não cuidarmos com elas, logo, teremos nosso jardim infestado, e o que era belo, começará a murchar.
Como cuidar do que vem à sua mente
A resposta é simples, mas a prática, não: foca no presente.
[Foto: @mari.vidailustrada]
Tenho pensado como boa parte do sofrimento humano está atrelado ou ao passado ou ao futuro.
A vergonha do que passou, as conversas que poderiam ter acontecido e não aconteceram e tudo aquilo que ficou para trás.
O futuro é outra armadilha. Nos preocupamos com ele, mas não sabemos muito bem o que ele nos reserva.
Queremos controlar, nos prevenir, nos preparar, adivinhar o que será. Esquecemos de observar o que acontece no tempo mais importante de todos: o agora. Esquecemos de contar as batidas do nosso coração saudável e de agradecer por isso.
Esquecemos de olhar para os detalhes que tornam a vida suportável e muitas vezes, belíssima.
Viver o agora e pensar o que pensa é difícil. Requer prática, como todas as coisas difíceis, mas é possível.
Acredito que observando nossos próprios sentimentos, admirando o jeito de caminhar e de viver dos animais, tomando nota do tempo da natureza, poderemos encontrar, nem que por apenas alguns minutos, momentos de paz dentro de nós.
Uma paz que não tem como existir no que passou e que não pode existir num amanhã que você nem ao menos sabe se vai chegar.