8 descobertas durante o primeiro ano de tratamento com medicação psiquiátrica

Escolhi a palavra ~descobertas~ para não ser mais uma falando em ~lições que aprendi~. Penso que qualquer doença mental nos modifica. Se é para melhor, não sei.

Só posso falar de mim. E no meu caso, foi. 

Romantização do sofrimento e pílulas de positividade tóxica

Longe de querer romantizar o sofrimento: não acho que precisamos ~sofrer para entender~. 

Inclusive, não suporto mais uma ideia que eu costumava abraçar: de que minha escrita só nascia na dor e que meus melhores textos eram frutos do desespero.

Romantizar o que é difícil parece fazer parte da nossa cultura doente.

Já ouviu que ~tudo que vem fácil, vai fácil?~ ou que ~não teria graça se fosse fácil?~. Isso é romantizar a dificuldade, os apuros, o sofrimento. Isso é acreditar que sempre precisamos passar por provações para atingir algum tipo de recompensa. Isso é um soco no estômago de quem enfrenta problemas de saúde mental.

Para completar, dá-lhe distribuição de pílulas motivacionais, recheadas de positividade tóxica. 

Dá-lhe dizer que ~se não fosse essa pandemia, não teríamos aprendido a agradecer mais~, ~se não fosse essa tragédia com mais de meio milhão de mortos, não teríamos a chance de nos reinventar~, etc.

Às vezes, penso que todas as pessoas estão gravemente doentes e que suas mentes não batem bem. A diferença é que algumas preferem não falar a respeito ou nem se deram conta, e outras, sentem essa necessidade de gritar suas dores aos quatro ventos, como eu.

8 descobertas durante meu primeiro ano tomando antidepressivos

Essa semana, completei um ano tomando antidepressivos. Esse é um marco importante pra mim porque, até então, eu era uma das pessoas mais resistentes à medicação, sobretudo psiquiátrica.

Espero que as descobertas a seguir possam te auxiliar, caso você esteja visitando o inferno.

  1. Psiquiatra bom é psiquiatra que FALA com você: consulta rápida de 15 minutos onde o ~doutor~ mal olha na sua cara e já vai logo passando a receita? Deus me livre! 
  2. Sua rede de apoio pode ser muito pequena: é na hora do aperto que você descobre com quem realmente pode contar. Eu me surpreendi muito: por vezes, a ajuda veio de onde eu menos esperava.
  3. A estranheza de sentir felicidade e considerá-la normal: tenho mais dias bons que dias ruins. Alguns, às vezes, são tão bons que chego a me assustar. Já mandei até mensagem para meu psiquiatra perguntando se é normal me sentir tão bem ou se eu estava enlouquecendo.
  4. Sua arte não é sinônimo de sofrimento: descobri que amor também vende. Verdade também converte. Falar e escrever sobre coisas bonitas, sobre o que preenche o coração também faz de você uma artista. Endeusar artistas doentes perdeu o sentido, para mim.
  5. Só quem é de verdade, ficará: há pessoas que gostam de você alegre, quando a vida tá boa, quando seu humor é incrível e te estranham quando sua vulnerabilidade vem à tona. Você sentirá verdadeiro amor e empatia por quem não te escolhe de acordo com o momento e respeita seus dias terríveis.
  6. Comprimido, sozinho, não faz milagre: comprimido é complemento. É primo da terapia no divã. A chance de melhora cresce quando se consegue aliar medicação e psicoterapia.
  7. A depressão não tem medida única: não seja doida de fazer um autodiagnóstico. Depressão tem várias facetas, níveis, intensidade e causas. O que acontece com você, pode não acontecer com outra pessoa, e mesmo assim, vocês duas podem desenvolver sintomas depressivos.
  8. Cada corpo é realmente um corpo: a dosagem mínima recomendada não faz mal à maioria das pessoas, mas, em mim, fez. Não é simples lidar com os efeitos colaterais. Cada corpo terá uma resposta, portanto, não se baseie no que outra pessoa sentiu. Ah, e se você é uma pessoa altamente sensível, a atenção deve ser redobrada.

Devagar e sempre

Lidar com a depressão requer muita paciência. É exercício diário de autocompaixão. É preciso receber amor das pessoas que você considera, sim, mas é ainda mais importante cultivar esse amor por si.

Ainda mais importante é lembrar que você não é a sua doença, o seu distúrbio, a sua falta de fé na vida. Você não é essa pessoa que cansou de tudo, que quer desistir, que viveu abusos emocionais de todo tipo. Você não É, você ESTÁ. E esse estado pode mudar.

Não vou dizer que ~só depende de você~ porque me parece óbvio que ninguém queria ter a saúde mental abalada.

Eu sei que você quer melhorar. E eu sei que dói reconhecer que a vida virou de ponta-cabeça. Sei que a sensação de fracasso pode ser forte. Não é confortável buscar ajuda. Aceitar medicação parece humilhante.

Mas, até agora, não conheci outra forma de voltar a achar a vida interessante.

Você tem algo a dizer?