Há muito tempo não participo de alguma atividade em que tenha que me expor e disputar algo. Taí uma coisa que nunca gostei: competir.
Nos campeonatos de natação, meu irmão se destacava, pois era rápido e tinha uma gana de vencer.
Por mais que me esforçasse e nadasse bem, eu ficava com os tapinhas de consolação e a clássica ~Tudo bem perder. O importante é competir~.
Lembro de ficar chateada, mas assentir com a cabeça: como criança altamente sensível, não suportava conflitos.
Ser colocada à prova, até hoje, me desperta sentimentos ruins. A sociedade em que vivemos não me deixa mentir: competição parece ser a alma de muitos negócios.
Ser, ter e ganhar mais do que alguém que você enxerga como rival: que belo objetivo! (leia com ironia).
Felizmente, essa mentalidade está com os dias contados.
Por que as pessoas altamente sensíveis (PAS) não suportam competir?
Pessoas altamente sensíveis (PAS) reagem de forma intensa aos estímulos e à pressão, principalmente social.
Tanto é verdade que, segundo a psicóloga Elaine Aron, que estuda o traço da alta sensibilidade há mais de 20 anos, uma PAS pode entrar em conflito consigo mesma quando é observada desempenhando uma tarefa.
Vivencio isso: mesmo que eu saiba fazer algo muito bem, como escrever, se você ficar em cima de mim, olhando, analisando, aguardando, criando expectativa, ou se me colocar ao lado de alguém, numa competição, é provável que me saia muito pior que o esperado.
Diante da pressão, o cérebro de uma pessoa altamente sensível atinge níveis quase insuportáveis de saturação.
Isso significa que o hormônio do estresse é logo ativado, sobrecarregando o sistema nervoso e comprometendo o desempenho.
Competir deixa as pessoas altamente sensíveis aflitas. Primeiro, porque elas não acreditam nessa necessidade de ~superar os outros~ ou ~ser melhor~. A forma que o mundo, sobretudo corporativo, incentiva à competição, geralmente vai contra os valores de uma PAS.
Segundo, que elas já se sentem tão naturalmente desencaixadas e julgadas – afinal, costumam ser vistas como medrosas, fracas, tímidas -, que colocá-las numa competição agrava a percepção que têm de si mesmas e contribui para a baixa autoestima.
De onde vem as comparações: a lógica da competição
Há quem diga que competir é natural e que isso sempre fará parte da estratégia de sobrevivência humana, mas eu concordo em partes.
Do tempo das cavernas para cá, nossa natureza competitiva aflorou de diversas formas, o que não significa que temos de continuar competindo loucamente. Sozinhas, vamos longe, mas em grupo, vamos mais rápido, não é isso que dizem?
Eu não entendo, de verdade, como a competição e a ~vontade de vencer~ a qualquer custo pode nos tornar pessoas melhores. Será mesmo que essa é a única maneira de ~provar~ o valor de alguém? Talvez estejamos acostumadas a trocar pessoas e suas inúmeras habilidades por títulos e troféus.
A competição pode até ser inevitável – competimos tanto pelas maiores quanto pelas menores coisas, como um lugar privilegiado à mesa ou aquele bendito banco vazio no ônibus -, mas o sofrimento que ela nos traz, não.
Como? Sabendo que você não é mais nem menos porque não conseguiu chegar em primeiro lugar, vencer aquele concurso, alcançar meio milhão de seguidores ou __________ (coloque aqui sua ideia de sucesso).
Pergunte-se: competir favorece a quem? A você ou a uma sociedade doente que está sempre tentando lhe dizer o quanto você ainda não é suficiente? Por que essa ânsia por ser a ~melhor~? Por que essa comparação doentia? Ser quem você é não basta?
Um mundo mais colaborativo não será feito por pessoas que ultrapassam os limites da ética. Pessoas que não sabem perder ou que acreditam que é preciso estar ~um nível acima~ de alguém estão enfrentando uma dura batalha interna e penso que nem ao menos sabem por que competem.
Quero crer que passar por cima dos outros, se vangloriar e torcer para a desgraça alheia não pode ser natural: fomos condicionadas a encarar a competição como o meio mais eficaz de evolução e desenvolvimento pessoal.
O senso de pertencimento: por que é tão importante para uma PAS sentir-se acolhida em grupos
Sempre curti trabalhar sozinha. Por vezes, eu me sentia vivendo num mundo à parte, em que todos correm contra o tempo e tentam provar ser melhores que os colegas.
Não seria mais interessante tentar superar apenas a nós mesmas? Afinal, nossa autocrítica é sempre tão afiada…
Gosto de lembrar como eu costumava ter resistência a grupos, até experimentar o sentimento de pertencer.
Quando você é inserida num grupo que te acolhe, que inspira, que te ajuda a evoluir (alô, pessoal da comunidade do Dimi Vieira!), seu amor-próprio cresce. E como ele cresce, você também se sente mais capaz de distribuir amor aos outros.
Fazer parte de um grupo saudável, com pessoas que apoiam e não debocham quando algo não dá certo, é fundamental para uma PAS.
É a partir desse senso de comunidade que uma pessoa altamente sensível fica confortável para crescer e aprender, tanto com seus próprios erros quanto com os erros dos outros. É assim que ela também descobre como é bonito sorrir diante do sucesso alheio.
Por fim, penso que o importante não é competir e sim, cooperar.
No mundo colaborativo que eu imagino, as pessoas param de se comparar, focam no que têm de melhor e estendem a mão, sem hesitar, porque descobrem que são únicas e que aquilo que amam fazer, ninguém pode tirar.