Egométrica e a nossa pouca capacidade de ser ignorada

Li um artigo da maravilhosa Flavia Gamonar há algum tempo e me deparei com a palavra ~egométrica~, que ela usava para se referir ao nosso ego e, claro, aos benditos (ou malditos?) likes, compartilhamentos, etc. Enfim, métricas.

Embora o termo tenha sido novo pra mim, a discussão, não é: desde muito cedo, somos influenciadas por números.

Quantidade virou sinônimo de validação e o pior é que aprendemos a levar essa (falta de) noção tanto para o lado pessoal quanto para as redes sociais, vitrines do nosso trabalho.

Quem nunca se chateou ao passar horas produzindo um artigo legal ou um carrossel lindão que, no fim, não gerou o menor interesse?

A importância que damos às métricas precisa ser estudada. Agora que o Instagram anunciou oficialmente que a plataforma dará prioridade a conteúdos em vídeo, é só questão de tempo até o desespero – que já era grande – por ser notada aumentar.

Experiências traumáticas? Temos!

Uma vez, convidei toda a sala para ir ao meu aniversário. Eu tinha 11 anos, se não me engano.

Éramos uma turma de 30 pessoas, mas só duas apareceram. Foi constrangedor. Eu não me senti querida: me senti menosprezada.

Comecei a me comparar e imaginar os possíveis motivos: na festinha de fulana, todo mundo foi. Na minha, só porque minha casa era mais humilde, num bairro pouco privilegiado, ninguém queria ir.

Esse tipo de experiência marca e a sensação de fracasso pode grudar na gente. O que quero dizer com essa história é que internalizamos o ~gostar~ e a apreciação pela nossa pessoa conforme a quantidade.

Sabe o que é isso? Uma ótima receita para a ansiedade.

Eu já li conteúdo ruim com milhares de curtidas e você?

Coloca uma coisa na tua cabeça: milhares de curtidas não significa, totalmente, algo incrível. Sim, pode ter chamado a atenção, mas não é tudo.

Estou aqui reforçando isso para você, mas também me impressionei quando dois textos meus alcançaram números impressionantes.

Só que é aquela coisa: impressionante. E só. Não fiquei mais rica nem mais bonita por causa deles. Fiquei mais estressada, isso sim – porque sentia que agora era preciso corresponder às expectativas.

Quantidade não é o mesmo que qualidade, mas, enquanto estivermos cegas, competindo nas redes sociais, ficará complicado lembrar disso.

Aprendendo a ser ignorada

Eu sou fã de ~niusléter~ (newsletter), porém nem sempre abro logo que recebo. De todas que assino, uma é capaz de me fazer parar tudo para ler: a do escritor Kalew Nicholas.

A capacidade de escrita dele é absolutamente incrível, fora que ele me parece ser alguém muito legal de dar um rolê, conversar, coisa e tal.

Crítico, divertido e muito sensato, os e-mails dele não são para qualquer um: textos imensos, que eu, particularmente, amo, porque é uma porrada atrás da outra.

Numa dessas, caí num artigo dele que dizia: ~Coragem? Não, na internet você precisa aprender a ser ignorado~. Era tudo que eu precisava ler.

Achei que eu estava sendo muito corajosa de dar minha cara a tapa nas redes sociais, após alguns anos isolada da web, toda traumatizada. Que engano! Se expor é fácil. Difícil mesmo é não se afetar quando você é ignorada.

Ainda mais se, quando criança, você teve alguma experiência na qual associou a ~falta~ com ~amor~. Como eu, naquela festa de aniversário que nem meia dúzia de coleguinhas foi.

Validação interna conta mais

Nós, adultos, nos comparamos quase o tempo todo. Podemos saber que o amor e o ~gostam de mim~ vão muito além das redes sociais, mas medimos e esperamos retorno igual criança.

Contamos os likes. Ficamos chateados quando tem poucos, surpresos e felizes quando tem muitos.

Gostamos de acreditar que existem fórmulas para atrair mais ou menos likesSelfie sorrindo, foto abraçando árvore, textão reflexivo ou post curto: o que será que dá mais ~certo~? Nenhuma das alternativas anteriores.

A moda agora é vídeo, dancinha, e tudo bem rápido e sincronizado, de preferência. Poxa! Instagram é terra de provação. E a gente leva, quase sem querer, esse tipo de coisa pro coração. Vai machucando devagarinho, vai doendo.

Eu sei que é duro deixar de se importar, deixar de notar quantos likes aquele teu conteúdo tão bem pensado recebeu.

Eu sei que é chato quando você escreve algo que parece sensacional na sua cabeça mas que, no feed das pessoas, não desperta a atenção.

Mas é preciso deixar tudo isso pra lá. É preciso respirar. Like não é sinônimo de amorlike não é medida.

Você pode ter poucos likes aqui e ser muito amada vida afora. Você pode parecer estranha demais em meio a musas fitness mas ser a pessoa mais engraçada e que cozinha melhor na sua família. 

Não receber um like não significa que não gostam de ti. Não significa que não dão importância. Às vezes é pura birra, às vezes não viram mesmo a tua foto nova, às vezes prometeram ler o seu texto depois e aquele depois virou nunca mais.

Às vezes estão mais preocupados em dar ibope pra galera da Globo, às vezes estão preferindo consumir outros tipos de conteúdo, porque somos muitos, somos tantos, e tem pra todo mundo e para todos os gostos.

Então, relaxa.

A menos que seu trabalho envolva marcas, posts patrocinados, parcerias, social media, etc., saiba: o like real, aquele que realmente conta e faz a alma vibrar, nunca poderá ser encontrado do lado de fora.

Você tem algo a dizer?