No restaurante:
– Eu sei tudo sobre você.
– Ah, é?
– É. Li bastante sobre taurinas.
Dei de ombros:
– E daí?
– Daí que você tá pensando no que a gente vai pedir pra comer, né?
– Na verdade, eu…
– Pode falar. Você é comilona. Tem cara mesmo.
Me olhou de cima a baixo:
– Mas é magra de ruim.
– É que…
– Não se preocupa que eu pago a conta. Você curte economizar.
Eu ia sugerir a gente rachar, mas àquela altura, achei melhor que ele pagasse mesmo.
– Vou te surpreender no sexo.
– O quê?
– Lençóis gostosos, nada pegajoso, o tipo de tecido é importante pra você. Vou com calma, respeito teu tempo. Você é carinhosa, gosta que te envolvam, nada de te jogar na parede e…
– Olha, eu acho que…
– Não. Deixa comigo. Cê vai ver só o que eu vou fazer com você, taurina.
O cara parecia muito mais deslumbrado pelo meu signo do que por qualquer outra coisa. Como boa taurina, ouvi minha intuição. Pedi licença pra ir ao banheiro. Escrevi para uma amiga:
– SOS. O encontro tá uma merda. Última vez que apostei no Tinder. Me liga. Vou usar aquela nossa desculpa e ir embora.
De volta à mesa. Ele sorrindo, sarcástico:
– Taurinas sempre tão elegantes, discretas. Você parece uma deusa flutuante.
Revirei os olhos. Ele não parava:
– Curvilínea, você. Tipo Vênus. Bocão. Peitão. Sorrisão. É, eu gosto. Se bem que você não tá sorrindo muito pra mim. Fazendo jogo duro, né? Sei. Conheço as taurinas.
Meu celular tocou. Atendi no desespero e fiz minha melhor cara de ~como-assim-minha-gata-não-está-bem~?
– Preciso ir. Você vai me desculpar. Minha gatinha de estimação não tá passando bem. Minha amiga que ficou lá tomando conta dela acabou de ligar.
– Sério? Vou com você.
– NÃO! Quer dizer, não precisa. Me viro.
– Tem certeza?
– Tenho sim. Tudo certo. Outra hora a gente continua a conversa.
Ele quieto. Me olhou bem nos olhos e declarou, encantado:
– Até pra me dar um fora você tem classe.