Nem toda mulher viveu a experiência horrível de um estupro.
Mas toda mulher sabe o que é ter medo do olhar de um homem.
Nem toda mulher mora numa rua ou bairro considerados perigosos.
Mas toda mulher sabe o que é andar olhando para trás a cada pouco.
Nem toda mulher tem receio de pegar Uber com um homem.
Mas toda mulher agradece mentalmente e respira aliviada quando a motorista é mulher.
Nem toda mulher passou por um relacionamento abusivo.
Mas toda mulher sabe o que é receber um olhar de reprovação pelo modo como se veste, se expressa ou dá sua opinião.
Nem toda mulher tem amigas invejosas.
Mas toda mulher cresceu ouvindo que éramos rivais.
Nem toda mulher odeia os homens.
Mas todas já tiveram motivos para odiar.
Nem toda mulher se sente oprimida.
Mas toda mulher já foi impedida de fazer algo só por ser mulher.
Nem toda mulher é submissa.
Mas todas já se submeteram a situações inacreditáveis.
Nem toda mulher corre atrás de homem.
Mas toda mulher é incentivada a entrar em jogos mentais e não se colocar em primeiro lugar.
Nem todas estão conscientes de tudo que já aconteceu para que pudéssemos chegar até aqui. Para que eu pudesse escrever um texto desses sem ser linchada, para que a sua filha pudesse andar por aí dizendo que não quer se casar, para que a sua mãe voltasse a trabalhar sem culpa, para que a sua avó, enfim, depois de anos, conseguisse quebrar o silêncio do lar.
Nem todas percebem quando são vítimas, quando são algozes, quando são feridas, quando calam outras vozes. Nem todas.
Mas todas, sem exceção, querem viver num mundo em que a gente não tenha vergonha de ser, de falar, de se expor. A gente luta, sangra e tudo isso dói. Quase não dá pra acreditar que é uma luta por mais amor.
No dia de hoje, esqueça o parabéns. Conquistamos muito pouco perto de tudo que ainda está ao nosso alcance.
Portanto, respeite nosso silêncio. Estamos aqui pensando em tudo que ainda dá pra fazer… em tudo que ainda queremos SER (e seremos!…).