“Chér”… o quê?
Anota aí: primeiro, você vai pegar um grupo de pessoas que amam o que fazem, diminuir a ansiedade e adicionar muita criatividade e amor. Vai mexer bem, chacoalhar, e dali sairão ideias e conteúdos incríveis. Junte um dia da semana, conte com um pouco menos de chuva e misture tudo para uma plateia animada, pronta para absorver o que vier.
Metaforicamente falando, isso é Share Talks (técnicas de ex-professora de inglês: pronuncia-se Chér Tólques).
Considerado um dos melhores eventos do país na pesquisa Trampos 2015 e reconhecido pela ADVB RS no Prêmio TOP de Marketing ADVB 2016, o Share Talks, antigo Papo de Marketeiros, aconteceu no primeiro fim de semana de junho em Florianópolis.
Novata na área de Comunicação e Marketing Digital, lá fui eu conferir como seria o famoso Share, num sábado meio nublado.
Começamos bem: o atendimento na recepção e no credenciamento foi dos melhores. Dei uma breve olhada ao redor e constatei a cor oficial do evento: roxo, a cor da criatividade, da imaginação e da transformação. Tive a sensação de que sairia de lá diferente de quando entrei.
Detalhista e apaixonada por palavras, logo reparei no crachá e no adjetivo antes do nome de cada participante: “ilustre”. Ilustre Patrícia. Era como uma discreta massagem no ego: a gente já entrava se sentindo respeitada.
Muita gente seguia para o coffee antes do credenciamento, mas fiz o caminho inverso. Primeiro me identifiquei e depois parti para a socialização. Um momento oportuno para o bom e nunca velho networking.
Aqui fica uma ressalva acerca do evento: poucas opções para as pessoas intolerantes à lactose ou adeptas do vegetarianismo e/ou veganismo. Ouvi uma garota atrás de mim: “Mas tem frutas”. E tinha mesmo. Mas sabe como é, a gente também ia gostar de algo mais quente para beliscar.
Os contatos que fiz ao redor da mesa compartilhavam do mesmo desejo; no entanto, embora ache válido lembrar desse ponto, não é nada que desqualifique o evento por completo. As pessoas que conheci ali eram fáceis de conversar, e, de alguma forma, estávamos todas reunidas por um mesmo objetivo: ampliar conhecimento.
Se é magia da ilha ou a energia contagiante do próprio evento, fica difícil dizer: só sei que, no auditório, o clima era de leveza e descontração. Pontual, o apresentador bem-humorado quebrou o gelo e deu início às apresentações, não sem antes informar sobre o uso dos “Pirulikes” como forma de manifestarmos nossa opinião (uma sacada genial que provocava risos quase toda vez!).
Dadas as instruções, o show começou.
Abriram com storytelling, seguiram pelos conceitos de criação e relevância cultural, para fechar a manhã com questões de gênero na publicidade.
Digo show porque tudo me parecia muito bem pensado: desde o cuidado com os slides até as questões de horário, fora o respeito com quem iria palestrar a seguir e a interação nem um pouco robótica com o público.
Senti que abraçaram de vez o verbo no present continuous: share (compartilhar) transformava-se em sharing (compartilhando).
Na pausa para o almoço, ninguém parecia cansado ou de saco cheio por ter de voltar; ao contrário, notei certa expectativa, ares de curiosidade.
Depois do meio dia, após tomar uma chuvinha na rua, fomos aquecidos com o poder do marketing de conteúdo, visualizamos estratégias para lidar com influenciadores nas redes e caímos na risada com o jeito gaúcho e alegre de quem falava de chatbots como se fossem nossos próximos vizinhos.
Caminhamos ainda por linhas editoriais e de respeito à autoria, finalizando com momentos históricos da plataforma oficial do Share: o Twitter. Inovação, tecnologia, empolgação. Para não falar da criatividade que sobe à cabeça do povo pós-evento:
Luiz, Ana, Passa, Flávia, Gabriel, Rodrigo, Fred e Bruno tornaram o evento único. Valeu a pena ouvir cada um de vocês. Mas quero deixar claro: os homens foram sim, muito bons, mas as mulheres é que me trouxeram verdadeira sensação de pertencimento. Ana, Passa e Flávia. Disruptivas. Destruidoras de paradigmas. Um arraso.
Ana passou por cima da dor de garganta e subiu ao palco com uma garrafa de chá de gengibre. Autêntica, não poderia iniciar a conversa sem mandar alguns recadinhos políticos mundo afora, marcando sua posição (e, consequentemente, a de sua marca) com muita simpatia. A plateia delirou, os gritos e as palmas foram incontroláveis: pessoas se sentiram representadas na multidão.
Passa nos fez viajar mentalmente, trazendo uma associação brilhante com os tempos da caverna para retratar a evolução de informes publicitários cujo objeto é a mulher.
E Flávia nos permitiu compreender as dimensões do marketing de conteúdo de forma inspiradora: ela realmente te faz acreditar que você pode SER e FAZER mais. Que o que você PRODUZ importa.
É fato: estamos todos em busca de melhorar aquilo que já era bom, de redimir onde erramos (destaque para a drástica mudança de postura da Skol, por exemplo, mostrada no case da Ana). Ver pessoas engajadas na quebra de padrões é arrepiante.
Essas mulheres me deram esperanças, e isso é (sempre) muito bonito. Enquanto elas falavam, observei alguns homens na plateia se mexerem, olharem o celular, distraírem-se, bocejando, como se aquilo não tivesse relevância. Não tem mal: eles certamente não serão maioria. A maioria está querendo acordar, está querendo ver o que pode fazer para ser melhor.
Definitivamente, eu não paguei para ganhar um certificado: eu paguei para ver mulheres empoderadas num ambiente majoritariamente masculino.
E o que aprendemos lá é aplicável a qualquer área de nossas vidas.
Participar do Share não requer conhecimento prévio nem qualquer habilitação. Não é só para publicitários, não precisa ser social media nem se fazer presente em todas as plataformas (até o Share, veja bem, eu não tinha nem LinkedIn). Precisa apenas ter interesse em melhorar como pessoa e, quem sabe, aplicar as lições não só no ambiente corporativo, mas também no próprio cotidiano, seja ele qual for.
Porque conteúdo bom impacta sim, engaja, movimenta o seu Twitter, traz mais seguidores no Instagram, gera comentários, mas sobretudo, MODIFICA alguma coisa na sua vida.
E por vezes, me refiro àquela vidinha mais ou menos, real, particular, de carne e osso, do trabalho de 8 horas diárias, da marmita requentada no almoço, do ônibus lotado às 7 e meia da manhã.
Share é um evento para ser e se sentir livre. Sem pessoas empertigadas, sem amarras. Sem gente te medindo da cabeça aos pés. Gente de mente aberta e coração mais ainda. Porque o negócio é interno, é de dentro para fora.
Visual é importante, com certeza, mas conteúdo é o que realmente move o mundo.
Foi bom: não teve ego esmagando iniciantes, não teve arrogância passeando nos corredores nem preconceito restringindo os espaços. Teve empoderamento, diversão, partilha, acessibilidade, cultura e conhecimento.
E geralmente é disso tudo – e um pouquinho mais – que a nossa motivação para comparecer a um evento desses é feita.