Storytelling não é sobre mim nem sobre você. É sobre nós

Semana passada foi o encerramento de um curso lindo do qual participei, intitulado “O Mapa da Narrativa – Storytelling para conexão com as pessoas”, coordenado pelo mentor de narrativas Olavo Pereira Oliveira, com quem trabalho.

Apesar de conhecer a metodologia desenvolvida por ele, acompanhar a correria na Narrative, as propostas da empresa, auxiliar no marketing digital etc e tal, ver o storytelling sendo colocado em prática por pessoas que eu mal conhecia – e também por mim mesma –, para além das teorias, foi no mínimo emocionante.

Foram três encontros semanais num lugar agradável, cercado por natureza, no coração da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Dava para sentir que tudo tinha sido pensado com o maior carinho, desde a escolha do local até detalhes da arrumação, para não falar dos comes e bebes.

Tudo pronto. (Foto: Ana Paula Santos)

Éramos, ao todo, 20 pessoas.

Dizem que um grupo nunca se forma por acaso. Ao longo do curso, isso ficou evidente para mim.

Antes do primeiro encontro, vínhamos nos comunicando por mensagens no WhatsApp e no Facebook, fazendo alguns desafios propostos pelo mentor. Mas sabe como é, né? Imaginar a pessoa do outro lado da tela é uma coisa, conhecer ao vivo é outra. Nossas impressões quase sempre se modificam. Com sorte, para melhor.

Eu diria que, de modo geral, estávamos todos interessados em “fórmulas matemáticas humanizadas”: queríamos somar conhecimento, dividir as dores, amenizar as dificuldades e multiplicar sentimentos nobres, como a compaixão e a empatia.

Como o intuito aqui não é o de dar spoiler a futuros participantes do curso – apenas atiçar –, quero me focar no ponto mais incrível, no que realmente nos leva a ser quem somos e fazer o que fazemos: ou seja, nas conexões.

Com a internet, a palavra banalizou, é verdade. Estamos antenados, sabemos de tudo e nossas conexões são, na maioria, virtuais. Mas aqui, trago o foco para as conexões “presenciais”. Mesmo que elas tenham começado no ambiente virtual, é literalmente fora dele que costumam se firmar e ganhar força.

Sendo assim, peço licença para começar a descrever o que mais me marcou em cada dia do curso:

1º encontro – Se (re)conhecendo

As apresentações nos permitiram (re)conhecer uns aos outros, ou deveria dizer uns nos outros?

Muitos pontos em comum foram encontrados. Cada pessoa, à sua maneira, expressou o que sentia, falou sobre sua expectativa, o que desejava e o que a motivava. E enquanto uma falava, outras balançavam a cabeça, em claro sinal de concordância. Primeiro ponto: identificação. Grupo partilhando de uma mesma energia, sintonizado: check!

Nesse quesito, tive dois casos particulares que gostaria de destacar.

Após os primeiros insights e conversas na roda, uma guria começou a chamar minha atenção.

Eu estava admirada: ela falava com firmeza, era clara no que dizia, coisa que eu não consigo fazer. Deslizo bem no papel ou numa tela em branco, digitando, mas falar é um parto. Se duvidar, minhas maiores complicações na vida foram justamente por não ter conseguido me expressar muito bem oralmente – não é à toa que entrego cartas quilométricas em términos de relações até hoje, por exemplo (pausa para você rir ou se espantar).

Continuando: a guria falava com clareza, e, o melhor, tudo que ela dizia ou sentia em relação a alguma dinâmica eu compartilhava. Tipo Bananas de Pijama, sabe? Eu pensava, ela falava. Comecei a achar interessante.

No intervalo, engatei conversa com um rapaz queridíssimo. Falamos de marketing, de nomadismo digital, da nossa mania de procrastinação e de café. Ele me contou ser um grande apreciador de café, então tratei logo de recomendar um local no meu bairro que é conhecido por servir o melhor café (os donos iam até Minas buscar). O rapaz agradeceu e disse que iria. “Legal”, pensei. E a conversa morreu aí.

Mas a conexão inicial fora estabelecida. Tanto com o rapaz quanto com a guria. Alguma coisa já nos “unia”.

Os encontros aconteciam no meio da semana. Naquele fim de semana, saí para dar uma volta. E qual não foi minha surpresa ao chegar no tal lugar que recomendei e dar de cara com meu colega de curso, tomando café todo feliz com a namorada?

Fiquei passada: ele realmente seguiu meu conselho. Não falei à toa. E nem ele.

Na hora, me veio à mente como esse negócio de gerar conexões é poderoso. Conexões movem o mundo. E se forem bem-sucedidas, ainda movimentam a economia!

Fiquei animada: duas pessoas com energia semelhante a minha haviam cruzado o meu caminho. Nada mal para a primeira semana do curso.

2º encontro – (Con)fusões

O segundo encontro me marcou pelo cansaço mental. Coisa minha mesmo. Muita (con)fusão de ideias, muita vontade de não reagir. Me senti perdida. Em meio a tantas possibilidades de desenvolver uma história, paralisei. Logo eu, que escrevo há anos e que encontro no ato de escrever libertação.

Identificando nossos medos. (Foto: Ana Paula Santos)

Sentindo-me acolhida naquele grupo amoroso, me abri: “Aí povo, não tô legal. Hoje eu não tô boa pra escrever, muito menos sobre mim. Estou incomodada”. Espanto no rosto de alguns, olhares consoladores no rosto de outros. E a resposta simples que tornou tudo mais leve: “Tudo bem. Acolha essa dor”.

Por fim, escrevi para os outros, não para mim. Não falei mais nada, só ouvi.

Ponto.

E ah, é: a guria do encontro passado, com quem tanto me identifiquei durante as partilhas, veio dizer que notou algo diferente. Que eu estava diferente. Caímos e trabalhamos na mesma equipe. E só o que tenho a dizer desse dia é: houve compreensão.

3º encontro – Vulnerabilidades e amor

A prova de que são nossas vulnerabilidades que nos unem aconteceu de vez no último encontro.

Construímos narrativas dignas de serem partilhadas. Enfrentamos medos. Escancaramos tudo. Porque, no fim, são nossas dificuldades que nos permitem criar histórias que comovem. É por isso que nos recusamos a destacar só o que foi bom, é por isso que exploramos todos os lados de um diamante. As pessoas não querem ver só o lado que brilha: querem saber qual o caminho até aquele brilho todo.

O último encontro foi marcado pelo fogo, pela música, pelo vinho e pelas partilhas. Por reencontros entre pessoas que nunca se viram mas que ligaram-se umas às outras por meio de suas histórias, de suas vivências pessoais.

Partilhas ao redor do fogo. (Foto: Ana Paula Santos)

Lembram-se da guria que me chamou a atenção desde o primeiro dia? O nome dela é Giovanna Régis. Somos gêmeas, no sentido mais lindo e abstrato da palavra. Não bastasse lermos a mente uma da outra, ainda escolhemos – sem querer querendo! – o mesmo tipo de roupa e cor de cachecol. Quem explica?

Para mim, o que fica é isso. São essas relações. Com a Giovanna, com o Matheus (o do café!). E com mais uma porção de pessoas incríveis que conheci.

Fazer um curso de storytelling não é só aprender sobre técnicas, mas desenvolver as suas próprias.

Storytelling é criar uma atmosfera tão confortável, que as pessoas queiram permanecer por si só. Não se faz um curso desses só para aprender a escrever e desenvolver suas ideias. Você vai a um curso desses para se reinventar e descobrir um pouco mais de você. De nós.

Alguns, como eu, vão achando que já sabem o bastante e tomam no meio da testa, se sentindo perdidos e amuados em determinado momento. Quem não queria falar por achar que não tinha nada a dizer escreve uma narrativa. Quem não queria aparecer faz um vídeo, libera para compartilhamento na “terra de ninguém” e vem parar aqui no blog, como vocês podem conferir abaixo:

Não ficou lindo? As meninas arrasaram!

O ponto é: não importa qual o ramo do seu negócio, não importa quão incrível é o seu produto. Quem está no fim da linha é uma pessoa, quem decidirá por alguma coisa relacionada a sua marca é uma pessoa.

E se você não comove essa pessoa, meu amor… não há tacada de marketing nem desconto que dê jeito. Foque em gerar conexões. Empatia. Em despertar algo, de verdade.

Anota aí: storytelling é fortalecimento de laços. É a chance de enxergar humanidade onde outros só enxergam etiqueta e poder de compra. Encontre humanidade em cada ser humano. Desenvolva seu trabalho sem perder isso de vista.

E, mais do que tudo, acredite: coisas mágicas acontecem quando a gente se conecta.

Sintonia de gêmeas. (Foto: Ana Paula Santos)

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