Vivendo de freela – e tomando na cara

Estou eu, bem de boas – ou nem tanto – quebrando a cabeça para finalizar um projeto, quando recebo, pelo LinkedIn, um pedido aflito: “Patrícia, preciso muito da sua ajuda!” Estranhei. Era quase meia noite. O sujeito não falava comigo há meses. Que seria?

Alma caridosa (e ansiosa!) que sou, lá fui eu, verificar o pedido urgente. Uma revisão básica de currículo.

O rapaz não gostava da língua portuguesa e eu não sou de fazer coisa pela metade, então já previ aquela caçada ortográfica minuciosa, errinhos de digitação, reorganização de conteúdo, formatação, alinhamento, readequação textual, espaçamento e por aí vai. Servicinho mamão com açúcar para mim, pois adoro brincar no Word e lidar com palavras.

Empolgada, cometi meu primeiro deslize: topei, sem nem ao menos conversar sobre preço. Erro de principiante. Anotei mentalmente e publico aqui a lição número 1

Não é só porque sei fazer algo praticamente de olhos fechados que isso não tem valor ou não vá me custar alguma coisa. 

Realmente eu não cobraria uma fortuna para revisar e arrumar um currículo, mas não importa: dedicaria um certo tempo na tarefa, e tempo – ainda mais para quem é freelancer – significa dinheiro sim.

O sujeito, é claro, adorou a benevolência desta que vos escreve e ainda pediu que eu devolvesse o documento o mais breve possível, avisando quanto custaria.

Novata no vale dospôneis freelas, concordei e, sem mais, arregacei as manguinhas. Após algumas horas, enviei o documento refeito, revisado, enxuto, coisa-mais-linda-de-se-ler antes mesmo do prazo estipulado. Defini o valor e esperei.

Passou meia hora. Passou três. Veio a lua, o sol e anoiteceu outra vez. Uma semana e meia, hoje. Depósito na conta que era bom, nem pensar. Uma palavrinha amiga se explicando ou pedindo desculpa pelo atraso? Muito menos. Silêncio mortal. E o bonito taí, zanzando na rede, vivinho da silva, provavelmente distribuindo seu mais novo e bem escrito currículo.

Fica o aprendizado, né não?

E se sobrar algum fiapo de raiva e espanto diante do ocorrido, vai lá, pega o que restou, adiciona um pouquinho de sarcasmo e transforma em artigo do LinkedIn ou post de blog (no meu caso, fiz os dois).

Quem sabe serve de alerta, porque com certeza tem mais gente – (sobre)vivendo de freela ou não – esquecendo que seu trabalho é importante e fazendo caridade por aí.

Você tem algo a dizer?