Vamos parar com esse negócio de “tudo bem não estar bem”

Desde que a quarentena começou, há 3 meses, vi pipocar uma frase que não é novidade para quem enfrenta ansiedade e depressão: “Tudo bem não estar bem”.

Com a chegada da pandemia e do isolamento, o número de pessoas ansiosas e depressivas aumentou, e até quem nunca teve nenhum problema de saúde mental começou a gostar dessa história de “tudo bem se sentir mal”.

E tudo bem mesmo!

Quer dizer, depende. Se você anda repetindo isso – e sentindo-se mal – desde que cortaram suas asas, lá em meados de março, abre esse olho!

Você provavelmente caiu na armadilha de se apegar a um clichê e acreditar tanto naquilo a ponto de se acomodar. A ponto de pensar que tudo bem ter perdido a força, o ânimo e não querer fazer mais nada. A ponto de acreditar que alguma hora passa. Por experiência própria: não passa.

A menos que você decida fazer algo além de repetir para si mesma que “tá tudo bem”.

Este artigo é um alerta para você que, como eu, enfrenta ansiedade, depressão ou simplesmente continua acreditando que todo esse incômodo que você sente é só questão de fase.

Não estar bem tem limite: diferenças entre tristeza e depressão

Tudo tem limite, inclusive o seu mal-estar, o seu não querer.

Uma coisa é você se sentir estranha ou triste por alguns dias, devido a acontecimentos recentes. Outra, bem diferente, é você ser assaltada por uma tristeza ou melancolia no meio do dia, quando, aparentemente, nada de mais aconteceu.

Uma coisa é você perceber que o seu coração tá acelerado porque aquela reunião importante vai começar daqui a pouco e há expectativa de ambas as partes. Outra é sentir um aperto no peito e perceber o coração batendo na garganta, assim, de repente, sem nenhuma explicação razoável.

Não sou especialista em saúde mental, mas lido com depressão e ansiedade desde os 15 anos. Por isso te digo que é importante observar a duração das coisas.

A tristeza é aquela visita com noção: entra na sua casa, toma um chá, conta umas histórias e vai embora. A depressão é abusada: além de tomar todo o seu chá, comer todos os seus biscoitos e contar mil histórias, fica – nem com a simpatia da vassoura atrás da porta você consegue mandá-la pra fora.

Tristeza é um sentimento normal que não afeta a sua produtividade. Você consegue se desvencilhar dela e seguir com as atividades do dia a dia. Você até tem vontade de falar sobre ela com outras pessoas, para se aliviar.

A depressão é aquela bola de ferro atada ao seu pé. Você caminha com dificuldade e é preciso o dobro do esforço para produzir, trabalhar, seguir a rotina. Ela afeta sua saúde, seu trabalho e a forma de se relacionar com as pessoas. Ela te diz que é melhor ficar quietinha e não se abrir com ninguém, porque ninguém vai entender. Com a depressão, você passa a ter umas ideias bem sombrias.

Se você se identificou com o segundo cenário, respire e abra-se: pode ser a hora de procurar terapia.

Se você não sabe o que fazer, faça terapia

Semana passada, aumentei a dose de terapia, porque percebi que meu desconforto estava aumentando.

Antes da quarentena, eu era atendida a cada 15 dias e olhe lá. Às vezes conseguia até ficar o mês inteiro sem recorrer ao divã, em perfeito equilíbrio.

Com a pandemia e o isolamento, me vi destrambelhando e precisando variar. Ampliei o repertório, porque ideias sombrias na minha cabeça também começaram a se ampliar. Uma terapeuta pra mim, é pouco – agora, tenho 3.

Não se engane com o “tudo bem não estar bem”. Definitivamente, não está tudo bem se você anda perdendo forças com frequência. Não está tudo bem se aquele teu projeto, que parecia tão apaixonante, agora te dá preguiça. Não está tudo bem se você se sente uma droga quase todo dia.

E se você me disser que o problema é dinheiro, eu vou te responder com uma palavra: prioridades.

Cortei academia, estética, baladas, delivery, viagens, locomoção. Meu foco agora é aluguel, comida, minha gata e TE-RA-PIA.

Confesso: metade do que eu ganho tá indo em terapia. Mas eu não me importo de investir. Ou melhor: tanto me importo – comigo, com a vida, em continuar viva – que eu invisto.

Por isso, se você também anda na corda bamba, para um pouquinho pra pensar. Quanto vale a sua saúde mental, o seu bem-estar, a sua vontade de viver?

Pega o meu exemplo aí.

Metade de mim, trabalha para que eu possa continuar morando sozinha, perto da praia, me alimentando decentemente, coisa e tal. E a outra metade trabalha para sentar no divã, ligar a câmera e começar a chorar, digo, falar.

Me divido pra poder sobrar. Pra poder caber. Metade aqui, com força, com garra, dando a cara a tapa e metade na terapia, chorando, assumindo minhas dificuldades e procurando formas de superá-las.

Metade aqui, metade lá.

Mas, se quer saber, só assim tenho conseguido me sentir inteira.

Você tem algo a dizer?