Um ataque de ansiedade virou isso aí que você (talvez) vai ler

“Meu Deus”, pensei. “É o COVID, só pode”.

Corri no Google, comecei a rezar e repetir “não, não, não”, comecei a negar com a cabeça e digitei “bolo na garganta”, “garganta trancada”, “algo preso na garganta”.

Não é nenhuma novidade que enfrento ansiedade e depressão desde os 15 anos, mas essa da garganta é nova pra mim.

De repente foi ficando difícil respirar. Parece que fui tomada por um desespero qualquer. Assim, do nada. 

Mas que diabos? Eu estava calma até meia hora atrás. Eu estava feliz, escrevendo, cuidando do meu site, fazendo acontecer.

Que eu saiba, não tenho nenhum problema de respiração. Asma, bronquite, sinusite, essas coisas. Nunca tive. 

De repente me peguei com as mãos na garganta, puxando o ar. Calma. CALMA. Eu tô viva. Eu continuo viva. Eu tô aqui. Presença. Foco. Socorro. Deus. Universo. Anjos. Alguém aí?

Desci as escadas, nervosa. Fiz um chá de guaco. Sou fã incondicional de chás de quase todos os tipos. Guaco. Bom pra garganta.

Tô tomando que nem água enquanto escrevo esse texto porque eu preciso me aliviar de alguma forma. Eu preciso acreditar que eu não tô morrendo. Que essa sensação estranha na garganta vai passar.

Começo a formular teorias. Bora escrever pra disfarçar essa angústia. Deixa eu fingir que eu não acho que tô morrendo.

Então vamos lá.

Talvez eu tenha engolido pelos da minha gata — afinal, dormimos juntas e tá na época da troca de pelos. Ela literalmente tá virando um leãozinho para se proteger do frio. Faz sentido, não faz?

Talvez tenha sido alguma coisa que comi e não desceu bem. Mas é estranho, porque estou com essa sensação de algo atravessado já tem uns dias. Só que hoje tá forte demais.

Isso tá me lembrando de quando engasguei com espinha de peixe e meu pai veio em meu socorro, enfiando pedaços de pão goela abaixo. Diz a minha mãe que eu já engoli um anel quando criança e, também nessa vez, meu pai foi o salvador da pátria.

Mas agora não tem peixe nenhum. Nem peixe nem anel. Não tem espinha, não tem pão, não tem meus pais. Se eu morrer asfixiada, não tem ninguém pra ver. Meu Deus, não tem ninguém pra ver.

Para. Foco no texto. Você não vai morrer. Presta atenção no barulho lá fora. Passarinhos. Motor acelerando. A vizinha falando alto. O vento.

Meu coração tá acelerado e eu não tô entendendo por que. Vem uma vontade de chorar. Por que não aparece alguém e enfia a mão na minha garganta? Por que não vem alguém pra me salvar?

[…]

Parei pra chorar. Mas chorar mesmo, de tremer o corpo todo. De vitimizar. De perguntar por que isso tá acontecendo comigo e quando é que vai passar.

Pensei em ligar para algumas amigas. Não. Deixa. Eu não saberia explicar.

Pensei em conversar com pessoas que ando conhecendo pela internet, de quem eu sinto uma vibe boa. Não. Deixa. Eu não saberia explicar.

Pai? Mãe? Não posso ligar pra eles, vou assustar.

Vou tentar descrever exatamente o que eu tô sentindo. Dizem que tenho a imaginação fértil, pra alguma coisa isso tem que servir. Vou descrever o cenário.

Eu tô na minha casa. No meu quarto. Tô aqui sentada, no cantinho onde trabalho, digitando num velho Macbook branco, de frente para uma janela. Há um pouco de sol lá fora.

Faz frio. Estou tremendo vez ou outra, mesmo usando roupas quentes. Sinto meus olhos menores do que o normal porque acabei de chorar. Quero abraçar alguém. Qualquer pessoa. Alguém. Não tem ninguém. Tá bom.

Minha garganta não dói pra engolir. Não tem nada raspando aqui. Posso comer o que eu quiser: não é esse o problema. Não dói pra tomar água. Álcool não experimentei.

A sensação é de que, mesmo tomando e comendo qualquer coisa, fica um pedaço entalado na garganta. De que lado? Paro um pouco e penso. Mais pra esquerda. É. Mais pra esquerda que pra direita.

Eu consigo respirar fundo. Não é esse o problema. Eu consigo falar, tossir, gritar. Ninguém está ouvindo, mas eu estou gritando.

Tem alguma coisa aqui que eu não sei o que é. Quero acreditar que é um pelo, que é algo físico, que já vai passar. Daqui a pouco some. Daqui a pouco desce. Tem que passar.

Eu não me sinto engasgada. Eu me sinto… sufocada? Tá difícil encontrar as palavras certas.

Parei de ler as matérias sugeridas pelo Google porque posso começar a acreditar que é câncer. Câncer na garganta. Sensação de algo preso? É câncer.

Estou ruim. Não! Pensamento positivo. Estou bem. Estou confusa, mas estou bem. Estou me forçando a engolir o que quer que seja isso. O que é isso? Por que você taí? Qual o problema? 

Falar com o corpo. Eu acredito nessas coisas, então vou falar com o meu corpo. Vou pra cama. Apagar. Desligar. Mas antes, vou perguntar pro meu corpo o que ele quer. O que ele quer me dizer com essa coisa entalada na garganta, que simplesmente não dói, não raspa, mas incomoda tanto quanto?

[…]

Pedi auxílio espiritual. Eu não enxergo seres de outras dimensões, eu os sinto. Minha terapeuta veio. E eu escrevo isso da manhã seguinte. A sensação de algo preso permanece, mas muito menos que ontem.

No fim das contas meu medo não é de morrer.

É de continuar vivendo uma vida que não é bem minha. Uma vida que não é exatamente o que quero pra mim. Uma vida que sufoca, que corta, que não abre espaço pra que eu possa respirar.

Hoje é o dia seguinte.

E eu… eu tô respirando.

1 pessoa se atreveu a comentar

  • Estou com esse bolo na garganta
    Não dói não raspa me alimento normal bebo normal tem hora que some mais já volta vou para o Google só doença feia
    Quando converso com alguém some kkk
    No fundo sei que e ansiedade mas tem hora que me dá um pânico que acho que e algo grave