[Textin] Para seguir em frente

Encontrei contigo na rua, sem querer: porque o Universo não escolhe hora nem lugar. Você me olhou e me convidou pra tomar um café – em seguida se corrigiu, pois lembrou que eu prefiro chá. “Vamos naquele lugar que você gosta. Eu pago”. Fui: não porque queria ver você finalmente pagar alguma coisa, mas porque eu precisava testar a quantas andavam as minhas estratégias de bloqueio. Eu me blindei desde que a gente terminou: só queria ver se ainda estava funcionando.

Você pegou na minha mão, sentado de frente para mim, e disse com o seu tom de voz mais suave: “Me perdoa por tudo”. Eu fiz um sinal com a cabeça, respirando devagar, percebendo que o que eu sentia era um tipo de dó frio, que não corta a alma, que não faz sofrer. Você disse que se eu te desse uma chance você poderia me mostrar que estava mesmo diferente. Continuei respirando, calma, e ouvi meu coração. Não valia a pena. “Estou mesmo bloqueada”, pensei. E sorri: tudo certo no reino das emoções. Te deixei falando por mais alguns minutos, imersa em mim mesma: só para ter certeza de que estar com você não fazia mais sentido nenhum.

Hora de ir pra casa: porque eu não tinha nada a dizer. Você ainda segurando a minha mão, me olhando, pedindo por favor, fica só mais um pouco, não vai agora não. Mas depois que a gente passa a seguir comandos do coração, ninguém é capaz de nos fazer duvidar outra vez. Fiz uma cara qualquer, sorri sem graça para você e vitoriosa para mim.

Levantei e continuei o caminho que eu estava fazendo quando a gente se encontrou. Sem nenhuma perturbação mental. Me lembrei de uma frase que vi circulando pelos postes do bairro, e ri sozinha do trocadilho genial: “Para continuar seguindo, enfrente”. Em frente: repeti, feliz. Porque eu enfrentei.

***

[Este texto é a base do episódio 6 do meu podcast! Clique aqui para ouvir].