Me enchi de você. Tomei os teus problemas como se fossem os meus. Abracei as suas dificuldades como se eu tivesse que superá-las. Diminuí quem eu era pra poder caber em ti. Não falei mais daquele sonho que eu tinha pra te deixar confortável. Comecei a desconfiar das minhas próprias roupas ou do que elas poderiam te causar. Duvidei do meu tempero e da minha forma de lidar. Ignorei o coração, batendo num ritmo tão diferente do seu. E você bem sabe o que acontece quando a gente faz esse tipo de coisa: a casa cai. A alma sai para passear, pede um tempo pra pensar.
Você me tomou como se toma um copo de bebida qualquer. E me dói muito perceber que eu permiti. Você me serviu porque eu te servi. Você bebeu com gosto, e a bebida desceu leve: porque havia leveza em mim. Você bebeu o que há de melhor. Não era uma troca justa: eu também bebi, mas me senti vazia. Bebi você e todas as suas manias. Bebi você e toda a sua esquizofrenia. […]
É tarde da noite. O copo ainda está ali: você, não mais. Sinto um vazio: é o silêncio pedindo que eu volte a transbordar. Porque eu me enchi de você… e me esvaziei de mim.