Esquece essa história de que pra me conquistar tem que ter corpo sarado, carro do ano, graduação completa, emprego estável e apartamento na praia: eu sou movida por palavras.
Escorregou no português, botou acento no lugar errado, pecou no excesso de reticências: tudo isso eu relevo. Abriu a boca pra falar bosta: eu me nego. Próximo da fila, faz favor! Me tratou feito objeto, me comparou com outras como se fossemos todas iguais? Dançou. Meu tesão é proporcional à sua inteligência.
Performance é legal, mas ser pega por uma filosofia de vida compatível, por ideias, valores e sentimentos parecidos é surreal. Pode falar que eu tô sendo exigente. Se é que não percebeu, eu gostaria de foder com você e não te descartar depois. Gostaria que não rolasse vácuo algum, que a gente conseguisse se achar no escuro e não ter medo ao acender a luz.
Então vai, mostra como se faz: me fode bonito com as palavras, me fala dos teus sonhos, me leva pra viajar contigo, brinca com a minha imaginação, lê pra mim uma poesia, me leva ao ápice falando de revolução, de feminismo, reconhecendo onde há machismo, não desvaloriza minha luta como mulher, apoia meus tropeços, meus recomeços, diz que você ao menos sabe quem foi Simone de Beauvoir.
Quer me pegar? Seja inteligente. Que eu sou fogo sim, mas não vou queimar por qualquer um. E se tu me vem com ideia errada, a gente não fode em lugar nenhum.