O descontrole é visível.
Ontem eu vomitaria, hoje já poderia engolir. Ontem eu te queria distante, sai pra lá, deixa eu correr que tô atrasadíssima. Hoje eu não me importaria de atrasar.
Ontem meus olhos focavam no que não é bom, naquilo que aborrece, nas marcas, nas dores. Hoje eu só queria olhar teu rosto, olho no olho, abraçar, pegar, tocar, sentir que está tudo bem, porque estava mesmo.
Ontem eu era toda repulsa, toda sensação esquisita que me vem quando acho que vou contra mim mesma, quando inverto os valores, quando pressinto que vou passar mal, e passo. Hoje calmaria, hoje todo abraço, cada pedacinho seu eu realmente queria encontrar.
Ontem suas palavras não surtiam nenhum efeito, seu olhar não encontrava o meu, minha alma não estava realmente lá. Eu não me fazia presente. Hoje eu estava inteira, hoje eu podia sustentar e acreditar em cada coisa que você dizia.
Ontem repugnância, quase nojo, quase raiva, quase ódio. Hoje aceitação, reconhecimento, quase gratidão. Pode e não pode ser amor. Pode ser compaixão, pode ser dó. Ontem poderia ser tudo, hoje eu só veria amor no lugar da razão.
Ontem eu raciocinava fria, ontem qualquer movimento seu me estressaria, ontem chovia e eu não queria me molhar. Hoje tempo bom, garoa chata, mas eu ficaria com você sob o luar.
Ontem nostalgia, vontade de botar uma mochila nas costas e viajar. Hoje indecisão, vontade de levar você comigo, de te chamar.
Ontem aniversário solitário, colheita razoavelmente alegre, passeio no bosque e foto sem par. Hoje diversão, risadas, sonhos divididos entre framboesas e nossos pés.
Ontem reflexão, pedra e pau no meio do caminho. Hoje abertura, mãos dadas e trilhas estreitas.
Ontem lua só, vento frio, cama imensa, um certo vazio. Hoje lua cheia, ventania e pouco espaço, mas você sempre disse que eu caberia num abraço…
Não sei amar.
E o pouco que consigo, você tem provas: é bipolar.