Três miseráveis letrinhas formam uma das palavras mais difíceis, para mim, de se dizer: NÃO. Essa dificuldade é coisa velha, lá dos tempos do guaraná Pitchula e das festinhas com canudinho de maionese. Maldita necessidade obsessiva de agradar.
Não dizer NÃO é não colocar-se em primeiro lugar. A duras penas venho aprendendo isso, e vou te falar que preferia escrever com a mão esquerda de olhos fechados do que negar algo a alguém.
É interessante que geralmente o que me pedem eu deveria negar. Geralmente não é coisa lá muito boa, muito sensacional. Geralmente mexe com minha filosofia de vida, com os meus valores, com o meu próprio bem-estar. É muita autossabotagem para uma pessoa só. E eu, ainda que por vezes ache que não, eu sou uma só.
O mais absurdo é o sofrimento que eu mesma crio tanto antes quanto depois. Antes de dizer NÃO, e depois de dizer sim, que fique claro. Quando digo NÃO, aí é festa, pode trazer o guaraná que eu até finjo que gosto e o recheio do canudinho de maionese eu mesma me proponho a alterar. Depois do NÃO, fica tudo mais leve. Trabalhar e dormir é mais gostoso, ir para algum lugar te perturba menos, tudo parece realmente fluir quando você se livra da mania de agradar. E na verdade não é que você se livre: para alguém, para um terceiro, você se livrou, desagradou, aborreceu, surpreendeu; mas para você mesma, você fez um agrado. Você cuidou, pensou em si, e isso – ISSO! – é o que de fato interessa.
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[Este texto é a base do episódio 9 do meu podcast! Clique aqui para ouvir].