Não precisamos de mais dados sobre a saúde mental dos brasileiros: precisamos saber o que fazer com isso.
Mais do que alertar e expor como estamos doentes, é necessário ensinar às pessoas como agir.
Há tanta gente incrível sentindo dores profundas… há tanta gente medíocre agindo como se essas dores não existissem.
A partir de uma crise horrível que tive ontem, escrevi esse artigo na esperança de auxiliar tanto quem precisa de ajuda quanto quem estende a mão pra ajudar.
Crise não tem hora: a importância da rede de apoio
A primeira coisa que devemos entender é: crise não tem hora nem lugar. Sim, eu posso estar muito bem nesse exato momento e daqui a pouco experimentar sentimentos que corroem, como se eu nunca tivesse saído do inferno da minha própria mente.
Ter uma rede de apoio confiável é fundamental. A rede de apoio é formada por aquelas pessoas que vão te segurar com rapidez e te lembrar do quanto você é amada.
4 dicas para formar sua rede de apoio
- Infelizmente, nem sempre nossos familiares são as melhores pessoas para constituir nossa rede de apoio. Se durante uma crise, eles não te passam sensação de segurança e parecem ficar tão desesperados quanto você, descarte.
- As pessoas que você escolher não precisam estar disponíveis fisicamente o tempo todo. Logo, você pode escolher alguém que está longe.
- Tenha pelo menos cinco pessoas em mente para acionar quando você entrar em crise. E não, não vale incluir sua psicóloga: ela já ~apaga incêndios~ o dia inteiro.
- Converse com essas pessoas abertamente e pergunte, sem medo, se você realmente pode contar com elas. Tem gente que diz ~conte comigo~ só da boca pra fora.
O que dizer a alguém durante uma crise?
Quando entramos em crise (depressiva, do pânico, ansiedade, etc.), podemos ficar irracionais.
Por mais que você fique atenta aos gatilhos e situações que talvez despertem memórias doloridas, tem horas que o desespero toma conta do corpo e da mente e você acha que não vai aguentar.
É nessa hora que a pessoa escolhida da sua rede de apoio entra pra te auxiliar. Separei alguns pontos importantes para quem se dispõe a estender a mão:
1. Evite a palavra NÃO
Uma pessoa em crise precisa de amor, de carinho, de conforto, então evite dizer ~Não fica assim~, ~Não precisa desse drama~, ~Não pense mais nisso~, ~Não chora~, ~O que houve que você ficou desse jeito?~. Quem está em crise não consegue raciocinar o suficiente.
2. ~Eu estou aqui pra você~
Reforce para a pessoa que ela não está sozinha. Diga que vocês estão juntas nessa. Diga que você a ama e que ela importa.
3. Peça-lhe para respirar
Quando liguei para meu amigo ontem, eu já não conseguia falar. Estava chorando descontroladamente. Ele me pediu para respirar profundamente, enquanto fazia a contagem. Me pediu para fechar os olhos e disse: ~Força, Paty, vamos: inspira, 1, 2, 3… expira, 1, 2, 3, 4, 5, 6…~. Imaginando que ele estava ao meu lado, de olhos fechados, eu consegui me acalmar.
4. Não dê pitaco: ouça
Às vezes, a pessoa em crise só precisa falar, gritar, chorar no ombro de alguém. Ela só precisa externalizar tudo que dói. Se você se dispor a ouvir, sem julgamento, sem interferência, sem conselho, pode acreditar: será de muita ajuda.
Quando o caso é mais grave
Se você é parte da rede de apoio de alguém que sofre com transtornos mentais, esteja preparada para acionar a ambulância. Pegue os números de telefone dos familiares, de conhecidos em comum.
Caso a pessoa peça para você ligar e não for possível retornar naquela hora, avise um amigo dela ou alguém da família. Mantenha contato.
Nem sempre você poderá interromper sua rotina para atender quem está sofrendo. Então, assegure-se que há mais alguém além de você para auxiliar. A pessoa em crise precisa saber que ela não foi abandonada numa hora tão difícil.
É por isso que a manutenção e prevenção se faz tão importante. Se eu te ligar e disser que não aguento mais e desejo morrer, talvez eu não queira, realmente, desaparecer.
Talvez eu só queira escutar, num tom de voz amigável, que apesar de tudo, ainda vale a pena estar aqui.