Autoexigência, autoestima em xeque, autossabotagem, autoconfiança abalada, problemas de autopercepção. Tudo começa com o prefixo auto, indicando que não é fulana ou ciclana ocupando o lugar da gente através desses sintomas: é a gente mesmo.
A síndrome da impostora foi alvo da web há alguns anos, mas voltou a ter mais destaque em Abril passado com uma publicação do El País, explicando quão impactante ela (ainda) é, sobretudo para as mulheres.
E hoje, passeando por artigos do LinkedIn, dei de cara com um texto inspirador da Lígia Braga, que, além de mostrar superação pessoal, prova que não estamos sozinhas na trajetória até as tomadas de decisões – por vezes, demoradas, mas muito bem pensadas.
Isso tudo porque refletimos uma tendência ao perfeccionismo. Queremos nos destacar, ao mesmo tempo em que não nos achamos merecedoras. Uma questão paradoxal e que tem por base as influências da cultura machista na forma como nos comportamos e (re)agimos.
Numa época em que a minha avó ainda precisava esconder a barriga por ter engravidado antes do casamento, Simone de Beauvoir já explicava: não somos criadas para o sucesso nem para o merecimento.
A socialização e distribuição dos papéis sociais é diferenciada para homens e mulheres, e isso produz efeitos negativos na percepção de nós mesmas enquanto seres capazes.
A síndrome da impostora é apenas uma das muitas questões.
Não é se fazer de vítima: é constatar que não ocupamos os mesmos espaços que os homens, e que quando o fazemos, ainda carregamos uma carga emocional e uma cobrança altíssima. As pessoas duvidam muito mais do que uma mulher é capaz de fazer.
A sensação de ser uma farsa ocorre de tempos em tempos.
Ando nessas: por vezes, acho que tenho potencial, mas algo vem e me derruba. Passo a duvidar do que faço e da importância que isso tem, como tão bem descreve a autora desse texto. Desconfio que minhas conquistas têm muito mais a ver com meu comportamento carismático do que com meu intelecto. O julgamento alheio me persegue.
Entre lapsos de coragem e a vontade de sair correndo, me sinto numa montanha-russa. É uma eterna luta pela quebra de barreiras que nos são impostas – e que abraçamos! – com o passar do tempo; mas quando percebo que não sou a única, a força reaparece.
Acho que é assim, através de exemplos, que a gente também se livra das máscaras, assume o que quer e o que realmente é: uma pessoa na multidão, de fato, porém igualmente capaz de produzir, ganhar espaço e viver coisas incríveis.