Olhe e aprenda: 7 deslizes de português já cometidos no LinkedIn (que podem causar má impressão)

Ontem foi o dia da língua portuguesa (pela segunda vez – a primeira celebração aconteceu no dia 5 de maio e a terceira acontecerá dia 5 de novembro… é, o nosso idioma é mais popular do que parece!) e eu me peguei pensando sobre o medo que muita gente ainda tem quando o assunto é erro de português.

Talvez o problema esteja justamente na palavra ~erro~.

Vi uma publicação genial no Instagram essa semana, em que a autora sugeria que trocássemos a mania de certo e errado por adequado e inadequado, principalmente quando a questão fosse a língua portuguesa. Gostei.

Gostei porque me lembrei que aprendemos isso no curso de Letras, nas matérias que tratavam de sociolinguística, preconceito, inclusão e flexibilidade da língua. Como revisora de textos, utilizo essa abordagem.

Sou a favor de uma comunicação mais empática, que vê além dos erros de ortografia e gramática (não é que eles não sejam importantes, sabe? É só que não se pode dizer se alguém escreve bem ou não somente a partir deles).

Acho bem complicado enxergar a língua portuguesa como algo engessado, ainda mais em tempos de redes sociais.

A linguagem da internet sempre me fascinou por conta dessa abrangência toda: são tantas formas de dizer, de escrever, de brincar, de passar a mensagem adiante… por que se limitar?

Língua é código social. É contexto.

Então cabe a nós aprender a utilizá-la de acordo com o momento.

Deslizar no português em uma rede profissional é aceitável?

Já que o contexto deste texto é o LinkedIn e eu escrevo diretamente para as pessoas que utilizam essa rede de forma profissional, vale pensar sobre a pergunta que acabei de fazer.

Não vou falar em erros, vou usar uma palavra mais gostosa e escorregadia: deslizes. Porque ninguém tá livre de dar uma escorregada de vez em quando.

Mas, quanto antes você aprender o que é adequado, melhor pra você.

Convenhamos: deslizar feio no português pode causar má impressão, mesmo que você seja muito boa ou muito bom naquilo que faz.

Sendo o LinkedIn a rede profissional mais conhecida do mundo, é interessante ficar atenta.

Então bora se espertar?

Segue aí minha lista de 7 deslizes de português que já vi rodando no LinkedIn – mais de uma vez.

1. “Estamos a mais de 15 anos no mercado…”

Um clássico: a confusão entre a e .

De forma bem simples, o primeiro refere-se ao futuro e o segundo, ao passado. O a é utilizado com tempo e distância (“a dois metros”, “daqui a pouco”) e o substitui o verbo “existir” e “fazer” (“moro aqui há 3 anos”, “tô há meia hora te esperando”).

Neste post, expliquei direitinho quando usar um e outro.

2. “Quer ter um perfil profissional, mais não sabe por onde começar?”

Outro clássico: mas e mais.

O mas é contraste, compensação, e o mais, intensidade, quantidade, oposto de menos. “Eu quero ter um perfil mais profissional, mas não sei por onde começar”.

Expliquei melhor e dei vários exemplos sobre como usar essa dupla aqui.

3. “Qual a sensação que aquele produto te trás?”

Uma sensação de desespero! Gente, acho que de todos os deslizes desta lista, este é o que mais me corta o coração.

Trás é usado para falar de algo que você não tá vendo, que fica na parte posterior, na parte de trás. E traz é do verbo trazer.

Expliquei com toda a paciência do mundo quando se usa um e outro neste post.

4. “Desde de que estou na rede, compartilho histórias da minha vida…”

Leia de novo: o problema está na repetição (de-de), em desde de que. Isso quando não vemos escrito “des de”, assim, separadinho.

Anote: desde que é suficiente, lindo e compreensível.

5. “Precisa organizar suas idéias? Conte com agente!”

Eu sempre me espanto como ainda tem gente acentuando a palavra “ideia”, que perdeu o bendito acento já tem uns anos.

Assim como paranoia, heroico, jiboia e assembleia, não se acentua mais a coitada da ideia. E o que dizer do “agente”? Se nem o 007 engole essa, que dirá a gente…

6. “E tudo isso por um preço bem bacana, à partir de 69,99!”

A crase é um novelão mexicano com direito a muito drama e chororô. São muitas possibilidades e isso pode ser irritante.

Às vezes ela é facultativa, às vezes é taxativa. No caso de “a partir”, tá decretado: com verbo, não se usa crase.

7. “Publique com freqüência para ter resultados…”

Eu tremo quando o trema (ü) aparece! Vamos parar de ressuscitar esse acento, gente, por favor.

Concluindo…

… por hoje, deu, né?

Separei apenas 7 deslizes, mas vamos combinar: a lista poderia ser bem mais longa.

Por exemplo, nem cheguei a comentar do uso do por que separado, sem acento, junto e acentuado – expliquei tudo sobre o quarteto fantástico aqui -, entre outras peripécias escritas e não corrigidas por aí.

Mas fica o alerta para a escrita em redes profissionais e uma ressalva para a vida: língua é construção.

Logo, para que ela funcione bem e todo mundo se entenda, há algumas ~regras~ que são aplicáveis – o que não significa que você deva criar paranoias e paralisar na hora de escrever.

Este artigo não tem a intenção de te deixar pilhada nem de tratar a língua portuguesa com rigidez.

Aprendemos isso durante anos, mas tá mais do que na hora de desconstruir as imposições e normas que, ao invés de ajudar, acabam passando por cima de uma das habilidades mais incríveis que temos: nossa própria forma de comunicar.

Você tem algo a dizer?