Empatia antes da moda: o que aprendi sendo professora (e você também pode aprender)

A palavra “empatia” ainda está na moda. Teve seu ápice em 2016, quando de repente diversas empresas de comunicação e marketing pareceram adotá-la em seus princípios éticos e descrições profissionais.

Era um tal de “mapa da empatia” pra lá, “postura empática” pra cá… não nego de forma alguma a importância e o significado da palavra, só acho curioso ser tratada como se fosse recém adicionada à língua portuguesa.

Professores e professoras de todo o mundo já tiveram muitas razões para perceber a importância da empatia.

Em sala de aula, muitas vezes é preciso se colocar no lugar do outro, ação que vem acompanhada do elemento básico para ativar o comando empático no nosso cérebro: a escuta. Saber ouvir é coisa bonita de se ler, mas não tão simples de praticar.

Passei por algumas situações de escuta empática enquanto dava aulas. Já lecionei em escolas públicas e particulares. Já dei aula em casa. E qualquer que fosse o contexto e o local, sempre havia um momento em que não dava para fingir que algo não estava acontecendo.

Seja porque, do nada, o aluno te olha e diz a clássica “Não fica brava, prof., mas é que…” ou porque te confessa algo muito mais tenebroso como “Não consegui estudar porque meu pai escondeu meu livro e espancou a mim e a minha mãe”. Nessas horas, bate a vontade de enfiar a cabeça na areia como uma avestruz, quando, por um momento ou dois, não se sabe o que dizer.

Ser uma pessoa e, principalmente, uma professora empática é mais que oferecer o seu ombro e os seus ouvidos. É, ao mesmo tempo, ouvir e buscar a melhor forma. É não passar por cima daquilo que acabaram de te contar, e procurar meios de tornar o processo menos penoso.

Uma vez, após reencontrar na segunda-feira um aluno bastante responsável que faltara a semana toda, perguntei: “E então, sumido? Como foi o finde?” (sempre tive um jeito muito informal em sala de aula). Ele, funcionário de uma empresa do setor alimentício, no auge dos seus 40 e poucos anos, respondeu sério: “Foi péssimo. Meu pai morreu e fiquei me controlando para não chorar na frente dos meus filhos”. Minha garganta deu um nó.

E então, o que você faz? Segue o barco? Fingir que não ouviu não é uma opção. E só dizer “I am so sorry” (a aula era de inglês) já não seria suficiente, pois a essa altura o aluno já tinha os olhos marejados.

Lembro que não dei a mínima para o plano de aula feito dias antes: deixei o aluno chorar, apertei sua mão e dei-lhe o tempo que precisava. Deixei-o à vontade. Se quisesse ir, se quisesse ficar. Ele se recompôs, e passamos ao estudo daquele dia da forma mais leve possível.

Ao fim, ele me disse uma daquelas coisas que a gente, enquanto profissional, não esquece: “Vir para as suas aulas é divertido, porque me distrai das dificuldades que passo no dia a dia”.

Hoje em dia não dou mais aulas, mas tenho guardado na memória todos aqueles que me fizeram sentir especial de alguma maneira e colaboraram para o desenvolvimento de um comportamento empático. Porque estamos falando de pessoas, afinal.

E quando se trata de pessoas, não tem manual nem receita de bolo. Não dá para automatizar uma reação, e ter empatia não é como planejar uma estratégia de marketing e aguardar o resultado: é algo muito mais sutil.

É possível treinar a empatia a partir de 3 perguntas-base durante o processo de escuta. São elas:

#1. O que essa fala traz? (notar sentimentos de tristeza, alegria, derrota, entusiasmo, etc na fala do outro)

#2. Estou realmente ouvindo ou já pescando argumentos para rebater? (concentre-se em cada palavra, e evite a todo custo responder com base no que VOCÊ já passou)

#3. Como isso pode ser solucionado/melhorado/amenizado? (o que pode ser feito para que o cenário/sensação inicial que a pessoa relatou mude)

Com essas três perguntas em mente, guie suas ações, não importa o cenário: em uma sala de aula ou no escritório, tanto você quanto o seu interlocutor só têm a ganhar.

A empatia, uma vez descoberta, não sairá de moda tão cedo, pode apostar.

[Em tempo: feliz dia dos professores adiantado! Aos que moldaram minha infância, adolescência e aos que surgiram no início da vida adulta e que tanto me ouviram dizer “nunca serei professora!” para anos depois me descobrirem em sala de aula. Agradeço aos que tiveram imensa paciência comigo e aos que ainda terão, pois independentemente da aula ser ou não presencial, uma coisa é certa: eu não pretendo parar de aprender.]

Você tem algo a dizer?