Era uma festa de calouros à beira do Rio Mondego. Eu morava na cidade há algum tempo, mas ainda não tinha saído. Queria ver como era encarar festa de gringo, só eu e minha sombra (e uma bebida, talvez). Festa de gringo entre aspas: afinal, eu estava na terra de Fernando Pessoa. Pensando bem, daria até pra ultrapassar meus limites alcóolicos que eu ia entender a língua.
Mas a fama dos portugueses em Coimbra não era lá muito boa, e eu como moradora podia comprovar: num primeiro momento, eles não eram tão amigáveis assim. Festar no Brasil e festar no exterior: taí uma baita experiência cultural e social.
A cidade era um ovo, dava pra fazer tudo a pé: então tratei de pensar positivo, e desci pro recinto no fim da tarde. Passando pela ponte de Santa Clara, comecei a me agitar: havia um palco montado, luzes, música alta, gente gritando, algazarra e um pouco de fila para entrar. Por um tempo, fiquei só olhando, analisando que tipo de gente eu iria encontrar. É meio emocionante encarar algo assim totalmente sozinha: o coração vai acelerando, vai dando vontade de sair correndo, a gente se sente meio besta. Mas segui.
Assim que passei pela roleta da entrada, corri pegar uma cerveja e me enfiar no meio do povo. A música tava ótima, o povo espremido e animado. Um rapaz novinho começou a me encarar e a chegar perto pra dançar. Dei brecha, e dançamos até eu me cansar. Para me livrar, disse a ele que precisava ir ao banheiro. Naquela muvuca de gente, desapareci e não olhei pra trás. Peguei outra cerveja e me dei um tempo noutro canto. Estava lá, curtindo, só observando, quando me chega um e diz: “O que uma menina tão linda tá fazendo tomando um fino sozinha?”. Sorri e perguntei se ele queria dividir o chopp – ou o fino, na linguagem deles. Ele quis e engatamos uma conversa animada. Expliquei que, no Brasil, fino era o nosso chopp. Ele achou engraçado, mas se mostrou aberto e até me surpreendi que ele soubesse tantas coisas sobre cidades brasileiras.
Tudo ia bem, as músicas cada vez melhores. Eu estava adorando, até ele começar a insistir pra gente ir embora e ficar mais à vontade, de preferência na minha casa, que era perto. Eu o olhei com mais atenção: ele era muito bonito. E, até então, bom de conversa também. Eu ficaria com ele, mas, ao mesmo tempo, queria continuar dançando. Ele insistindo, charmoso, me fazendo rir. Por fim, topei, meio receosa. Quando finalmente saímos do recinto, bateu aquele arrependimento. Comecei a reclamar no meio do caminho, mas uma vez saindo do recinto, não podíamos voltar. Ele tratou de me acalmar: “Não fica assim, vais ver só uma coisa… valerá a pena”. Irritada, só consegui responder “Tomara” […].
Em casa, tudo aconteceu muito rápido: depois de um pouco de conversa, ele tirou a camiseta e se jogou no meu sofá. Fiquei quase sem reação: que baita corpo… Ele era um português sem frescuras, autoconfiante, atirado até demais. Começamos a nos pegar. O levei para o quarto de hóspedes, ele só de calça jeans, a cueca de cor branca – horrível – já à mostra. Pegou a minha mão e colocou sob o zíper, malicioso: “Estás pronta? É agora que tu vais ver… abre”. Obediente, curiosa e não tendo nada a perder, abri.
Quando ele tirou a cueca branca horrorosa, dei um grito. Transparente que sou, mandei logo: “Tá doido?! Eu não vou dar conta disso aí não!” Ele riu, orgulhoso, e insistiu: “Claro que vai… vem, vaqueira”. Minha vez de cair na gargalhada. Ri até a barriga doer, me apoiando na beirada da cama, quase sentando no chão. Vaqueira? Me poupe! Se tem algo que sei fazer muito bem é compreender meus limites e dar o fora. Mas ainda fiz a pergunta básica, só para confirmar a intuição: “Tem camisinha?” Novo sorriso dele: “Tenho… mas não adianta. Já testei todos os tamanhos. Nenhuma serve”. Eu não duvidei, mas quis pagar pra ver. Ele tinha várias no bolso, e eu também.
Tentamos, e o que era pra ser uma cena sexy se tornou um dos cenários mais hilários da minha vida. Nada servia naquela desgraça. NA-DA. Ele ficou me olhando, com cara de coitado: “E agora?”, mas eu já sabia o que fazer. Levantei, vesti uma camiseta qualquer e me encaminhei para a porta: o apartamento era meu, mas eu quis ser gentil. Ele entendeu, e começou a se vestir, entre risos, balançando a cabeça e murmurando: “És fraca”. Não deixei por menos: “Fraca? Se ao menos UMA camisinha te servisse, poderíamos tentar. Mas não sou otária: acabei de te conhecer, tá pensando o quê?”. Ele ficou sem resposta, e foi andando devagar para a porta, escancarada. Ainda achou bonito me dizer: “Vais mesmo perder? É uma chance única… aposto que nunca viu nenhum assim…”. Como resposta, revirei os olhos. Ele viu que não ia ter jeito: “Tudo bem. Tens razão. Tiveste juízo…”. Concordei, quieta, quase mudando de ideia – que rapaz bonito, meu Deus -, a ponto de ele me encarar e perguntar: “Que foi?”. Respondi, rápida, cortando vontades: “Nada. Nada não”. Ele saiu, ainda rindo, e de certo me achando fraca.
Garotos e o maldito culto ao pau. Melhor assim: aquele orgulho era tão grande quanto o… enfim. Provavelmente, de tão fascinado pelo próprio membro, ele mal pensaria em mim. Fechei a porta aliviada. Ainda em tempo de espiar pela sacada e vê-lo descer a rua. Na verdade, já estava parado, conversando com uma garota. Ela parecia estar bem envolvida na conversa dele. Talvez fossem conhecidos um do outro. Ou talvez estivessem querendo conhecer o corpo um do outro…
Lá de cima, imaginei a cena. Sorri e simplesmente me peguei desejando “boa sorte” em voz alta – para ela, é claro.
[Foto linda da cidade de Coimbra: Ana Dores].