Dizem por aí que há fórmulas para se chegar ao topo do sucesso. Acho isso estranho – afinal, onde é o topo para mim pode não ser para você.
Eu não cheguei ao topo do sucesso — até porque não acredito nisso.
Na minha mente, as coisas funcionam mais ou menos assim: a gente realiza um sonho hoje, desenrola um novo projeto amanhã e põe pra rodar ano que vem.
Feito isso, partimos para alguma outra coisa. Estamos sempre a um passo de novas ideias e vontades.
Gosto de pensar que será assim até o fim dos tempos. Pra mim, quem não sonha já morreu.
E ainda que a minha lista de sonhos seja longa, não tenho como dizer que não ando orgulhosa de mim mesma.
Mês passado, atingi um dos meus objetivos profissionais e queria compartilhar como isso aconteceu.
Mas ó: se você tá esperando uma fórmula mágica ou a revelação de um segredo que vai mudar radicalmente a sua vida, pode parar a leitura por aqui.
O papo agora é sobre vulnerabilidade e como ela – uma característica até pouco tempo considerada negativa – me abriu portas.
Ser vulnerável tá na moda?
Não posso começar a falar do assunto sem observar o rumo que a coisa tomou.
Não é de hoje que rola uma espécie de ativismo pró-vulnerabilidade, já reparou?
Há uma certa insistência no ar para que as pessoas falem mais sobre si mesmas, a fim de se aproximar de potenciais clientes e vender algum produto imperdível.
Como se ser vulnerável fosse aquilo que faltava para a sua estratégia de venda funcionar.
Ouça a voz da experiência aqui: não é assim tão bonito ser vulnerável. Vulnerabilidade requer coragem, porque o que vem a seguir geralmente não é a coisa mais linda de se ver.
Mas desde que a maravilhosa Brené Brown abriu o bicão para falar de vulnerabilidade como algo positivo e fortalecedor, o povo – e a galera do marketing – resolveu que era uma boa abraçar a ideia.
Alguns nem se quer abraçaram: esmagaram logo.
De repente, parece que todo mundo quer ser vulnerável.
~Vulnerabilize-se! Assim você vende mais. Abra seu coração, assim prestarão mais atenção em você. Conte uma historinha trágica e de superação no corpo do e-mail: é batata e vai converter~.
Não diria que estão errados.
Eu mesma adoro uma história comovente. Gatilho de tragédia e superação funciona comigo – quando o texto é bem escrito e eu tenho alguma conexão com a pessoa que escreveu.
Do contrário, dá a sensação de que estão forçando a barra.
Definições de vulnerabilidade segundo a nossa sociedade
Digitei ~o que é ser vulnerável~ no Google e o resultado foi a coisa mais horrível do mundo. Apareceu o seguinte:
~Vulnerável significa uma pessoa frágil e incapaz de se defender. Alguém que está suscetível a ser ofendido ou machucado. O termo é geralmente atribuído a mulheres, crianças e idosos, que possuem maior fragilidade perante outros grupos da sociedade~.
Achei essa explicação limitadíssima.
E o pior é que esse tipo de coisa GRUDA na cabeça de muita gente.
É a partir daí que se cria o ~efeito manada~ de pensamento (também conhecido como inconsciente coletivo).
Por um lado, compreendo a definição que o Google me deu. Por outro, acho perigosa.
Aceitar que ser vulnerável é ser indefesa dá medo e alimenta a ideia de que se formos nós mesmas seremos julgadas sem dó nem piedade.
Isso é a maior besteira: de máscara ou não, expondo nossas ideias ou não, o julgamento alheio acontece.
Então por que não ser verdadeira? Por que não se mostrar?
Desde pequena, associo vulnerabilidade com sensibilidade e coragem.
Não me assusto com pessoas que choram demais, que enxergam beleza em cada pequena coisa, que se declaram, que se expõem, que vibram com intensidade e reconhecem quando erram, porque eu sou uma delas.
É engraçado você passar a vida toda ouvindo que o seu jeito de ser e de se expor vai te causar problemas. Que o melhor é se fechar. Que a vulnerabilidade é algo ruim.
Como diria Brené Brown numa mesa de bar: esquece essa ladainha de uma sociedade robótica.
Demonstrar o que se sente e principalmente, ser você, é transformador.
10 mil seguidores em 5 dias: como, onde e por que
Desde que comecei no Instagram, há 3 anos, eu bato na tecla de que seguidores não pagam contas. Sigo pensando assim.
É claro que eu me imaginava sendo reconhecida pelo que escrevo e tendo pelo menos 10 mil seguidores, com direito a link liberado nos Stories e uns mimos a mais.
Seria hipócrita dizer que não queria isso.
E acho, inclusive, que nos últimos 6 meses, trabalhei bastante para que isso acontecesse. Só que não estava acontecendo.
Implementei uma nova estratégia e abordagem de conteúdo no dia 15 de outubro de 2019.
Até o dia 8 de março de 2020, eu era mais uma conta com mil seguidores e uns quebrados, por mais que eu publicasse com frequência e escrevesse com o coração.
Como de costume, o Dia Internacional da Mulher rendeu textão, pois essa é uma data que me incomoda muito. Não consigo ficar quieta.
E lá fui eu, esculachar alguns pensamentos no Instagram.
Animada com o rápido retorno do texto ~Nem toda mulher (mas toda mulher)~, resolvi escrever também sobre os homens.
O texto ~Nem todo homem (mas todo homem)~ foi publicado dois dias depois.
Pronto.
Ali, me servi aos leões. Pulei de cabeça na fogueira da vulnerabilidade.
Sou acostumada a escrever para mulheres, mas para homens, é raro.
Bateu a ansiedade. Vieram as paranoias.
Passei tão mal, mas tão mal, que resolvi desligar a internet e só acessar o meu perfil no dia seguinte.
Eu não escrevi pensando em ganhar seguidores.
Sempre que publico um texto, penso: se ao menos uma pessoa ler e captar a mensagem, se isso a tocar de alguma forma, a ponto de fazê-la repensar sobre algum aspecto da própria vida, ficarei feliz.
Acordei no dia seguinte e os dois textos haviam viralizado.
Mais de um mês após a publicação e eu continuo recebendo mensagens sobre como as pessoas se sentiram.
O resultado em números é lindo demais para não ser compartilhado, olha só:
Em resumo, foi assim que eu vi o meu perfil bater os famosos 10k em menos de uma semana: expondo a minha opinião, mesmo morrendo de medo.
Na verdade, nada acontece da noite para o dia.
Escrever como se estivesse nua é algo que faço desde 2017. Insistir no que você acredita é trabalho de formiguinha.
Escrever tão abertamente é a minha forma de ser e estar no mundo.
Quando você dá a cara pra bater e se permite ser vulnerável, coisas difíceis e maravilhosas podem acontecer. Prefiro focar no que é bom.
Os números ali em cima me impressionaram, mas o que marcou de verdade foram as conversas com pessoas de tudo quanto é canto.
Elas se abriram comigo no direct, compartilhando suas histórias, suas dores e reflexões.
A troca de mensagens foi intensa. Houve reciprocidade.
Quando você se abre, cria espaço para que o outro também se expresse. Para que ele queira chegar mais perto.
No fim das contas, vulnerabilidade também é sobre fazer o que você acha certo.
Nunca dei muita trela para falações sobre o que funciona ou não em rede social, por exemplo.
Lembro que há uns dois ou três anos, a onda era evitar textão, porque ~ninguém ia ler, já que o Instagram é uma rede mais visual~.
Ignorei o recado e continuei publicando textão.
Foto bonita e bem editada é legal, mas as pessoas se lembram (ou se esquecem) de você pela legenda.
Eu confiei no que estava fazendo.
E dá-lhe textão reflexivo.
E dá-lhe escrever o que eu pensava, sem medo de ser feliz. Fui ficando cada vez mais escrachada. Perdi completamente a vergonha.
Não busquei: fiquei vulnerável.
Acho que vulnerabilidade é a capacidade de se expor e confiar. De falar o que ninguém tem coragem. De ir lá, fazer, dizer ou escrever o que alguns ficam só pensando.
Por conta dos textos que viralizaram, dei entrevista, recebi convites, fiz parcerias e novas amizades.
Mas o que mais me emociona é que, com tudo isso, veio também a força que eu precisava para retomar a escrita do meu primeiro livro – que andava jogado às traças, sofrendo com a minha falta de autoconfiança.
O que você pode aprender com essa história toda?
Ser vulnerável não deve ser entendido como regra ou medida de sucesso.
Alguém pagando de sensível só pra vender não vende.
Eu, lá em 2017, pagando de redatora SEO, vestindo a capa da profissional freelancer que cobra pouco, não era contratada. Porque aquilo não me realizava.
Meu ponto é: seja o que você QUER ser.
Seja aquilo que te toca e não o que está na moda. Autenticidade é entender o que funciona melhor para você.
Se você faz a linha durão e gosta disso, tudo bem. Assuma o que te agrada.
Você não precisa se derreter todo agora só porque a vulnerabilidade se tornou uma virtude.
Aí que tá: descubra o que faz de você… você!
Eu não sou durona: sou puro comercial de margarina.
Detesto cagação de regra em cima de texto.
Meu negócio é escrever soltinho, numa linguagem simples, descomplicada, do tipo que chega fácil até o coração das pessoas. E descobri que isso vende.
No mundo dos negócios, não existe certo ou errado. A linha durão vende. A linha manteiga derretida também.
Não é que escrever para ranquear no Google seja ruim. É só que não faz muito sentido pra mim.
De toda essa história, o que fica é algo que ouvi num curso de storytelling uma vez:
Se faz sentir, faz sentido.
Lembre-se disso antes de vestir um rótulo e tentar ser quem você não é.
Definitivamente, não é assim que se chega ao topo do sucesso — caso você ainda acredite nele.