Vou começar este artigo com uma pergunta simples que, de vez em quando, me deixa paralisada ou meio sem graça: “E aí, tudo bem com você?”
Talvez você já tenha passado por isso.
Imagine a cena: a pessoa te sorri, cumprimenta e pergunta, no automático, como você anda.
Quase que inconscientemente, você começa a problematizar a coisa toda na sua cabeça e solta um: “É… então…”. Mas talvez uma resposta de bate-pronto, tipo “comigo tudo ótimo!” fosse melhor.
Seria como fazer uso daquele clichê horrível do “fake it until you make it” (finja até que você se torne).
A ideia é mais ou menos essa: tudo bem não tá, mas vai ficar.
Acho que, por vezes, a transparência pode ser um problema.
É característica minha, por exemplo, não saber disfarçar muito bem – o que quer que eu esteja pensando, você vai ver estampado na minha cara.
Mas, contrariando essa fala, tenho aprendido a arte de não pensar demais. E do otimismo também.
Sim: o otimismo é uma arte. Porque digamos que não tem sido assim tão fácil não se deixar contaminar por tudo que está acontecendo.
O que está acontecendo no Brasil?
Calma que esse subtítulo é só pra chamar a sua atenção. Realmente tem muita coisa ABSURDA-NÃO-DÁ-PRA-ACREDITAR acontecendo no Brasil. Mas no mundo como um todo também.
Claro que, nas últimas semanas, nós ganhamos destaque porque a maior floresta tropical do mundo está queimando como nunca antes.
E sem querer entrar em méritos políticos aqui, mas já entrando, as decisões de quem está atualmente no poder não têm cheirado bem (para não dizer outra coisa).
O mais louco é ver pessoas que apoiam decisões que ferem outras pessoas.
A gente meio que vai perdendo a fé nas coisas, vai se decepcionando devagarinho e deixando de acreditar que ainda tem jeito. E que essa fase é só… uma fase. Necessária e – infelizmente – dolorida, para a nossa própria evolução.
Se importa que eu use mais um clichê aqui? Pelo amor ou pela dor. Adivinha qual caminho temos escolhido?
Digo “temos” porque somos parte de todas as tragédias que estão ocorrendo. De cada decisão que atrasa. Que dá um nó no cérebro. Que alimenta uma vontade de sair correndo.
Somos, por vezes, hipócritas. Sim, a Amazônia está em chamas, e o governo pode ter culpa no cartório, mas não é só ele, concordam? Há quanto tempo diversas ONGs tentam nos alertar para a questão das queimadas? Há quanto tempo você não pensava em plantar uma árvore, em diminuir o consumo da carne, em fazer ALGO pela natureza?
É preciso que os desastres aconteçam e causem dor para que a gente se mobilize, já reparou? Triste: mas verdadeiro.
Dói ver que as pessoas entram facilmente numa onda de ódio e raiva, sempre apontando para o externo, incapazes de pensar e olhar para si. Tudo é o outro. E olhar para dentro, alguém se habilita?
É esse inconsciente coletivo, que dissemina violência e anima revoluções de sofá – com um notebook apoiado nas pernas e podendo se esconder é fácil fazer revolução, não é mesmo? – que acaba afetando a nossa capacidade de lidar com as dificuldades.
É esse povo viciado em compartilhar notícia ruim e alimentar desespero que esquece do que ainda há de bom por aí.
É essa necessidade de escancarar tudo e apontar culpados, sem propor soluções, que deprime quem tenta ir na direção contrária.
E se quer saber, ainda acho que há algo mais grave por trás de tanta zica.
A distração do seu propósito/missão ou seja lá o que for
Quanto mais gente distraída com as tragédias do mundo, melhor.
Pensa aqui comigo: pessoas que só focam no ruim se deprimem com mais facilidade, certo? Logo, começarão a ter problemas de todo tipo: físicos, emocionais, mentais, espirituais… um prato cheio para a indústria farmacêutica, hein?
É loucura compartilhar posts, imagens e vídeos do caos, achando que está contribuindo para alguma coisa além da sua bagunça interna.
Somos constantemente testados. A que ou a quem estamos dando ouvidos? O que viemos mesmo fazer aqui?
Quando você se distrai, sua energia enfraquece. Quando você dá extrema atenção para as desgraças do mundo, você se esquece de que é um ser cheio de potencial, que pode fazer a diferença, ter ideias brilhantes e inventar soluções.
Ver uma parcela de gente desesperada serve a interesses alheios. Em outras palavras, quer mesmo saber o que tudo isso significa? Manutenção do sistema. Matrix. Acredite você ou não!
Quem tá na lida, focando no que interessa, fazendo acontecer, trabalhando para si, procurando ficar bem, se esforçando por enxergar beleza (afinal, ela não desapareceu), cuidando da própria saúde mental, tá é no mínimo fazendo dinheiro, meu amor! Tá é lucrando, criando curso online, escrevendo livro, plantando ideias, espalhando coisas boas e seguindo a vida porque, não importa o que aconteça, a vida não para.
“Credo Paty, então tenho que ser positivo o tempo todo? Não posso me indignar mais com as coisas?”
Calma, não é isso. Você pode surtar, sim. Você pode repensar, se afastar, ou mesmo compartilhar as tragédias e bradar desaforos, se isso te fizer bem.
Lembra: tudo bem não estar bem (socorro, que hoje eu tô virada nos clichês). Tudo bem você ceder à pressão e desanimar geral.
Mas não por muito tempo. A vida tá acontecendo: independentemente do seu humor.
Seguindo o bonde (e a vida)
Sei que não é fácil continuar caminhando, ainda mais com tantas coisas difíceis acontecendo.
Por diversas vezes, nos últimos dias, me perguntei como é que algumas pessoas conseguiam simplesmente seguir com seus afazeres, trabalhos, rotina e coisa e tal sem dar uma palhinha sobre as queimadas na Amazônia. Sem mostrar de que lado está, sem comprar uma briguinha.
Veja bem: tô aqui pagando de conselheira, mas eu mesma caí no conto do vigário. Me distraí. Desanimei de escrever, de atualizar minhas redes. Cedi à pressão. Entrei na energia do coletivo, comecei a achar que vamos todos morrer logo e é isso aí.
E fiquei assistindo pessoas que admiro, sobretudo profissionais, darem o melhor de si, lançarem produtos, acordarem com ânimo, disposição, apesar de tudo. Como pude me esquecer de Clarice Lispector e uma de suas maiores lições? “É preciso viver. Apesar de”.
O recado é esse.
Foco no que interessa, gente. Eliminem as distrações.
Não é que você não vá se importar: é que nem tudo está ao seu alcance. Por isso você não deve se afetar (tanto). Segue o bonde, segue firme no que você se propôs a fazer.
Trabalhe para não depender do sistema, de um chefe, de alguém te mandando o que fazer. Se alinhe. Reacenda aquela ideia, aquele desejo de mudar. Analise tua vida, pense como pode melhorar e como você gostaria que fosse – se ainda não é.
Decidir como você reage a tudo que acontece é transformador. E o melhor: isso, sim, está nas suas mãos 🙂