Quando eu tô bem, você me quer. Quando a energia tá lá em cima, quando o riso é fácil, quando dançar é tudo que me interessa: você bem me quer.
Me ver nua, ouvir minhas histórias, registrar memórias divertidas: é disso que você gosta. É isso que você aguenta. Teu limite é como o de uma criança que aprendeu a brincar e vai tirando as pétalas da flor, dizendo em voz alta: bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer… o mal você descarta.
Minhas dores, meus dias complicados, aquele vazio que chega sem explicação, um sufoco no coração: você não sabe o que dizer. Você não oferece colo, ombro, nem uma palavra de prazer: quando eu tô mal, você mal me quer. Me vendo com os nervos à flor da pele, você recua, arranja compromisso, dor de cabeça e hora-atividade.
Tudo bem: talvez você realmente não esteja pronto para amar alguém. Talvez você queira ver só o lado que brilha, talvez você tenha medo das próprias emoções. Talvez você queira se esconder quando eu começo a sofrer. Respiro fundo e repito mentalmente: vai, é melhor você correr.
Que eu saiba amor de verdade não tem gente pela metade, amor de verdade tem instabilidade, e é nesses altos e baixos que eu descubro o quanto você quer ficar. O quanto você quer amar. Porque eu sofro sim, e dispenso a delicadeza de quem me olha, pega as pétalas boas e coloca o restante num vaso sem cor.
Amor é coisa maior que isso, e eu quero alguém comigo: mas alguém sem medo, alguém que não desapareça na primeira dificuldade, alguém que não passe por cima do que eu sinto, alguém que me aceite e me ame por inteiro, não importa o dia ou humor. Alguém que queira amar de todo jeito, seja ele qual for.
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[Este texto é a base do episódio 4 do meu podcast! Clique aqui para ouvir].