Às vezes, é preciso desistir: sobre o que estou sentindo nesta quarta-feira de cinzas

Estou aflita digitando essas palavras. Daqui a uma hora, tenho terapia. A consulta nem bem começou e eu já estou pensando que 60 minutos olhando e falando com a minha psicóloga não serão suficientes — por mais amorosa e paciente que ela seja.

Dia difícil, hoje. E eu nem mesmo sei por que.

Quarta-feira é dia de escrever artigo longo, ou pelo menos assim eu defini. 

Nunca me preocupo na sexta, que estabeleci como o melhor dia para publicar textos curtos, crônicas e diálogos divertidos no LinkedIn. Tenho tanta coisa escrita nesse estilo, que quase não preciso pensar.

As quartas é que são um estorvo. Escrever para gerar autoridade? No quê? Em divagações?

Resolvi deixar o papel me levar. Quarta-feira de cinzas. Um descanso na loucura.

Depois de anos curtindo o Carnaval, é estranho pensar que não estou nele, porque ele simplesmente não aconteceu.

Resolvi sentar na frente do computador, olhar para esse espaço em branco e começar a preenchê-lo com o que viesse à cabeça.

Pensei em tantos títulos para o artigo de hoje. Pensei que falaria sobre insistir. Sobre ter garra, força, energia vital.

Mas não sei falar do que não sinto.

Me perguntei diversas vezes: como não desistir? Como se manter otimista num mundo caótico? Como parar de se importar? Parar de se importar é o mesmo que desistir?

Pesquisei, no Google, motivos para não desistir. Motivos para continuar. Motivos para tentar.

Como não sei para onde estou indo, nenhuma dica serviu.

Que desânimo é esse? Eu já tomei minha dose de antidepressivo após o almoço. Faço isso desde agosto de 2020, religiosamente.

Não sei dizer o que está acontecendo. Ansiedade acumulada. Tristeza acumulada. Dores pelo corpo. Vontade de ficar deitada. 

Queria dar um fim bonito para esse texto. Queria encontrar um trecho, a palavra perfeita, alguma coisa que encaixasse.

Mas hoje, eu não tenho nada. As palavras se apresentam, confusas, porque refletem como eu estou. Aérea. Pura névoa.

Deixa… 

Deixa estar.

Não posso falar sobre insistir. Sobre perseguir os sonhos, as vontades, sobre construir impérios com autenticidade.

Deixa.

Deixa vir.

Talvez o que esse texto tenha me mostrado é que, embora seja quarta-feira, só por hoje, eu preciso desistir.

Você tem algo a dizer?