Se você é adepta(o) das redes sociais, com certeza viu a cor amarela tomar conta do feed de muita gente, acompanhada pela hashtag #setembroamarelo.
Já estamos quase no fim do mês, mas o que tudo isso significa pode ir além.
Muito se fala em saúde mental, em cuidar das pessoas, funcionários de empresas e de quem você ama.
Mas por que só em setembro surge uma campanha contra o suicídio, sendo que a vontade de morrer se manifesta (provavelmente) em todos os outros meses? E a título de curiosidade, o que a cor amarela tem a ver com isso?
Há alguns dados curiosos a respeito da campanha que vale a pena mencionar, antes de mergulhar numa reflexão sobre o que pode ou não levar alguém a querer tirar a própria vida.
- Primeiro: dia 10 de setembro é considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
- Segundo: a cor amarela se tornou referência em 1994, após Mike Emme, um jovem de 17 anos, se suicidar com seu carro amarelo, um Mustang 68. No funeral, fitas amarelas com a mensagem “Se você precisar, peça ajuda” foram distribuídas. Desde então, a família abraçou a causa, chamado atenção para a prevenção, e a cor amarela foi oficialmente institucionalizada para falar sobre o assunto.
Setembro Amarelo é legal, mas e os outros meses?
Você já parou pra pensar como essa vontade de morrer se manifesta?
Campanhas e profissionais de psicologia afirmam que nunca é da noite para o dia. Você não acorda num belo dia de sol e resolve se jogar da ponte. Acontece gradualmente, após um acúmulo de questões.
O suicídio pode ser uma decisão muito bem arquitetada, e a pessoa pode pensar nisso com frequência.
Mais do que materializar, só a visualização da coisa toda acontecendo já é algo para ficar alerta.
Por isso, atente-se quando alguém compartilhar com você frases como:
“Imaginei como seria me matar com uma corda”.
“Pensei em me matar naquela noite, depois que todo mundo foi dormir”.
“E se eu morresse… será que sentiriam falta de mim?”
As frases variam, mas o sentimento de desespero é o mesmo.
Durante minhas crises, já adulta, eu costumava fazer essa visualização diversas vezes, com armas.
Quando adolescente, cogitava morrer com cartelas de pílulas para dormir: algo que, na minha mente, me faria desaparecer, mas sem tanto alarde.
A verdade é que a dor começa pequena. Vai doendo um pouco aqui, um pouco ali… mas a gente vai fingindo que tá tudo bem. Seres humanos e a eterna mania de passar por cima do que sentem. De sufocar sentimentos. De esconder as dificuldades. De aparentar eterna felicidade.
Viver numa sociedade que nos julga constantemente também não ajuda: se escondemos nossas dificuldades, é porque sabemos que, em alguma medida, as reações dos outros tornarão tudo pior.
Afinal, a última coisa que alguém que está sofrendo precisa é ouvir clichês do tipo:
“Vai dar uma volta que passa”.
“Você tem que sair mais, se divertir, sair dessa cama”.
“Maior frescura isso aí. Eu também passei por isso, não é tão difícil assim”.
Há um tabu gigantesco em torno do suicídio e das dores que levam alguém a tomar essa decisão.
Menosprezar o que o outro sente e disparar frases de positividade tóxica não vão ajudar.
Nossa sociedade precisa se desconstruir e aprender a CALAR para OUVIR. As pessoas são únicas, e o que parece bobo pra você, pode ser um desafio pra mim.
Acolher, se mostrar disponível, oferecer o ombro pra chorar, praticar a escuta empática, acompanhar a pessoa ao médico ou a um psicólogo, indicar uma terapia alternativa, incentivá-la a falar: atitudes simples, mas poderosas!
Com um pouquinho mais de tato e sensibilidade, é possível tirar a pessoa da própria confusão mental e trazê-la para a realidade de uma forma amorosa, mostrando que ela não está sozinha e que, diferente do que pensa, tem a quem recorrer.
Onde buscar ajuda?
Sem querer entrar muito em méritos de quantas pessoas se suicidam por dia e expor estatísticas, esse texto é mais um lembrete para que a gente olhe para as pessoas em TODOS os meses.
Setembro a coisa ganha destaque, mas os outros meses podem virar uma espécie de manutenção.
Observar não custa nada. Dá, sim, para perceber os sinais (pois eles existem!).
E uma vez ciente de que é preciso buscar ajuda, as chances de que a pessoa se sinta melhor são imensas. Há opções para todos os gostos e bolsos.
O Centro de Valorização da Vida, responsável pela campanha Setembro Amarelo, é uma organização que busca prevenir o suicídio oferecendo apoio emocional, atendendo de maneira voluntária e gratuita qualquer pessoa que precise conversar sobre como se sente, sob total sigilo.
As conversas podem ser feitas através de telefone (ligue 188), e-mail, chat online e até mesmo via Skype. Muitas pessoas não sabem, mas esse serviço está disponível 24 horas por dia durante toda a semana.
E se você já passou por isso, superou e quer ajudar outras pessoas, saiba que também há espaço: no site do CVV você se cadastra para ser alguém que vai ouvir e colaborar com quem não está legal do outro lado da linha.
Concluindo…
… seja alguém que facilita a vida dos outros. Mesmo que você sinta que não pode ajudar (às vezes a gente não pode mesmo), procure não atrapalhar.
Suicídio não é frescura. Depressão não é frescura. O mundo precisa de mais pessoas dispostas a quebrar esses mitos e falar sobre eles. É porque os encobrimos que eles continuam acontecendo.
Mais consciência, menos julgamento: taí uma das melhores formas de ajudar 🙂