[Textin] Ilha

“Por que você me deixou? Eu te amava do jeito que você era…” Acordei sobressaltada com essa fala pipocando o pensamento. Dei logo um jeito de levantar, me chacoalhar: a quem eu estaria me referindo? E pensar pra quê? As imagens não voltaram nítidas, eram borrões: mas já estava claro a quem eu me referia. Inacreditável… ou não. Afinal, não tem bem um ano que a gente terminou. Que você terminou.

Será mesmo que eu teria continuado? Será que teria levado aquele absurdo, aquela migalha toda até muito mais longe? Sim, porque, do teu lado, era só isso que havia. A abundância dos teus sentimentos estava reservada a desconhecidos. Sobretudo se mudarmos uma vogal: a desconhecidas. Teu espírito competitivo aflorou depois de um tempo de convivência, e você se mostrou mesmo interessado em ser sempre o melhor: para os outros, não para mim.

Você queria estar sempre à frente. Sempre achei que faltava um bicho no horóscopo: leão é pouco pra você. Quem sabe um pavão diante de um espelho te definiria melhor? Narciso te definiria. Colocada à sombra, eu aguardava, quieta. Droga: estou me vitimizando outra vez.

É só que, depois de tudo, eu ainda não consigo entender. Eu não sei o que houve, e isso me enlouquece. Eu não sei nem lidar, e isso paralisa. Eu tô cheia das perguntas e não tem você aqui pra explicar.

Por que você não viu que eu continuaria te amando, independentemente do que fosse? Por que preferiu correr ao invés de entrar nessa luta comigo, armado, ao invés de não só se proteger mas também me mostrar que eu não precisava ser forte sempre? Por que preferiu não tirar essa armadura, e se fechou completamente?

Eu estava disposta a tudo, eu estava disposta a muito, e você preferiu não ver. Preferiu navegar por outros mares, porque a ilha na qual eu havia me tornado já tinha perdido a graça. Já não era novidade. Prestes a afundar, em vão busquei você, que dispensou, que disse não, que nadou pra longe, onde de fato eu nunca pude – e nunca quis – alcançar.