A arena, o julgamento alheio e os ecos da minha primeira live

Tem dias que eu penso que essa quarentena tá mesmo um pé no saco de tanta live. E tem dias que eu agradeço quando assisto uma live que me agrada.

Pode ser que eu tenha me assustado com a quantidade de lives que surgiram no início do isolamento. De alguma forma, me cansava só de ver os anúncios.

Até que me atrevi a dar uma chance para assuntos que realmente me chamavam a atenção e compareci a algumas lives. E olha… não é que eu gostei?

A ideia de proximidade, de ouvir o outro, de ver alguém literalmente se virando nos 30 foi fazendo a minha cabeça. Quanto menos roteirizado o negócio, mais eu curtia. Quanto mais vulnerabilidade, melhor.

E chegou o dia em que, absolutamente enfeitiçada, resolvi fazer a minha primeiríssima live. Não sem dar uma filosofada antes, é claro.

Encare o seu monstro

Nunca esqueci um professor que, um dia, ao me ver chorar pela décima nota vermelha em matemática, me puxou num cantinho do corredor e disse que aquilo tudo só ia passar quando eu enfrentasse o meu medo.

Ele sabia que eu amava português, redação e queria viver disso, mas disse, enérgico, que eu devia é abraçar meus livros de matemática com o mesmo amor.

Lembro de olhar pra cara dele, chocada, e choramingar: ~M-mas eu não gosto de números, cálculos e essas coisas todas… me sinto burra~. Ele abriu um sorrisão e retrucou: ~Então talvez faça mais sentido tentar uma faculdade de engenharia ou de matemática, não? Enfrente o seu monstro ou ele nunca vai desaparecer~. E saiu, pisando duro.

Fiquei chateadíssima. Como eu podia pensar em cursar qualquer coisa que envolvesse matemática? A maior vitória seria sair do Ensino Médio e nunca mais ter de lidar com números!

Sim, fui uma adolescente dramática. Na verdade, ele apenas queria me colocar para pensar.

Com o passar do tempo, creio ter entendido sua ideia: se algo te aborrece, encare, olhe de frente. Não passe por cima. Mais ou menos como quando a gente sufoca sentimentos, sabe? Melhor falar logo o que tá pegando.

No caso, eu cansei de ficar fazendo cara feia para aquela montoeira de lives na minha timeline. Tava na hora de encarar o bicho.

Live: um novo formato de conteúdo?

Primeiro, me familiarizei com o assunto. Como falei, passei a escolher algumas lives e ver como é que a coisa acontecia. Passei a observar os resultados, analisando o antes e o depois.

A real é que, por mais que a gente produza conteúdo em texto, outros formatos também podem ser legais, como é o caso das lives.

Eu escrevo para a web desde 2017 e gravo podcast desde o ano passado. Adoro um textão, tô seguindo firme publicando no meu blog e no LinkedIn e até me arrisco gravando e editando vídeos em casa, mas live, eu nunca tinha feito.

Lembro que quando uma amiga sugeriu isso, tremi da cabeça aos pés. Entrar ao vivo? Assim, no tribunal da internet, totalmente à mercê do julgamento alheio? Não, isso já é demais.

E aí, um belo dia, depois de muito pensar, lá estava eu, convidando a Laís Schulz, uma das profissionais que mais admiro, pra fazer uma live.

Meu pensamento foi: em dose dupla, dói menos.

Isso se mostrou mais ou menos verdade. Porque, no fim das contas, fiquei um pouco refém da minha vulnerabilidade.

Autocrítica e o (maldito) julgamento alheio

De modo geral, deu praticamente tudo certo: Laís e eu entramos ao vivo, pontuais. As pessoas foram chegando, interagindo e a conversa foi acontecendo naturalmente.

Tudo bem ia bem, a minha ansiedade já tinha ido embora, eu me sentia leve e feliz, até que… a minha convidada saiu de cena, devido a um problema de conexão com a internet. Travou. Deu ~tilt~. A tela dividida desapareceu e eu me vi, na vertical e sozinha, por quase 20 minutos.

Assim que a Laís sumiu, minha mente entrou em pânico. E agora? Sigo sozinha? Encerro? Finjo que nada aconteceu? Toco o barco? Me junto ao vizinho inconveniente e começo a cantar Marília Mendonça em alto e bom som?

Incentivada por quem me assistia, resolvi continuar e responder as perguntas que haviam passado batido. Foi um eterno equilíbrio entre me centrar, responder e às vezes choramingar em voz alta, porque a coisa não estava saindo como eu havia imaginado.

Ao fim da live – sim, a Laís retornou a tempo! -, várias mensagens de pessoas que assistiram começaram a chegar, apoiando, e eu me lembrei que somos sempre nossas maiores agressoras.

Minha autocrítica foi gigantesca. E tudo isso pra quê? Medo do que vão falar?

Sofrer por conta do julgamento alheio não faz sentido. É ridículo temer a fala de alguém que só observou, entende? De alguém que não se dispôs a passar pelo que você passou.

É a famosa citação da arena, de Brené Brown:

“Se você não está na arena, fracassando vez ou outra, porque não se arrisca a ser corajoso, então, não quero saber o que pensa do meu trabalho” (Brené Brown)

Aí, na moral… Brené Brown e eu poderíamos ser melhores amigas.

* * *

E você, tá na arena, se arriscando vez ou outra? Ou o julgamento alheio ainda faz a sua cabeça? Compartilha comigo, que esse assunto pode ir longe!

Você tem algo a dizer?