Sobre escolhas: por que algumas pessoas estão surtando e outras não?

Dê uma boa olhada ao redor e pense em todo mundo que você conhece. Em todas as pessoas que, de alguma forma, fazem parte do seu círculo. Familiares, amigos, colegas de trabalho.

Agora reflita: diante do cenário atual, quantas dessas pessoas estão surtando? E quantas parecem conseguir levar as coisas com um pouco mais de calma?

No artigo de hoje, vamos investigar o que pode estar por trás disso.

O que é surtar?

Eu amo esse verbo: surtar.

Eu surto, você surta, eles surtam, nós surtamos.

Surtar é primo de despirocar.

Eu despiroco, você despiroca, eles despirocam, nós despirocamos.

Prefere algo menos informal?

Surtar é entrar em crise. É se questionar infinitamente e sentir que seu cérebro deu ~tilt~. É se deixar levar pela ansiedade, é como dar as mãos ao medo e a uma porção de pensamentos que não colaboram para o seu bem-estar.

Em tempos de pandemia, ~surto~ me parece a palavra oficial, não só para descrever o aumento de casos como também a reação psicológica de algumas pessoas.

Leia de novo: de ALGUMAS.

Por que será que algumas pessoas surtam e outras não?

O poder de escolha

Quando comecei a fazer terapia, 15 anos atrás, eu repetia para quem quisesse ouvir uma frase que, hoje, aos 30, considero insuportável: ~Eu não tenho escolha~.

Era um tal de ~Me zoaram na escola, mas fazer o que, eu sou feia mesmo, não tenho escolha~ que nossa!

Demorei demais para entender que a gente não pode escolher o que vai acontecer, só como vamos reagir.

Aos 15, eu encarnava o papel de vítima. Com o passar dos (d)anos, compreendi o que tanto me falavam nas sessões de terapia.

Nós não somos o que nos acontece. Somos o que fazemos com aquilo que nos acontece.

A real é que ninguém escolheu o cenário que estamos vivendo agora.

Ninguém escolheu a propagação rápida da doença, a distorção da mídia, o baque na economia, os interesses políticos acima da vida das pessoas. Ninguém.

Mas aconteceu. Tá acontecendo.

E é aí que entra a nossa capacidade de escolher.

Não tem como pegar o vírus pela goela, enforcar e botar num saco de lixo bem fechado, certo? Certo.

Também não dá pra sair gritando que a sua empresa é nova no mercado, que você tem conta pra pagar e passar por cima das recomendações de saúde.

O que ajuda é se perguntar: peraí, o que realmente está ao meu alcance?

A partir dessa pergunta, percebemos que o poder de escolha continua nas nossas mãos.

Pequenas grandes atitudes para mudar o seu mundo

Gosto de observar pessoas e de ouvir o que elas têm a dizer.

Posso não ter dados estatísticos aqui comigo, mas só de fazer uma ~análise comportamental~ durante esses dias de quarentena, juntei algumas peças do quebra-cabeça para tentar chegar a uma conclusão sobre as diferentes reações humanas perante o caos.

Tenho visto de tudo.

Gente que, por conta do confinamento, se agarrou ainda mais às redes sociais. O celular é a primeira coisa para a qual a pessoa olha ao acordar.

Tem gente que mora no centro da cidade, num prédio caindo aos pedaços, sem uma graminha ou um jardim para pisar e vai muito bem, obrigada.

Outros possuem a casa dos sonhos, com um quintal enorme, espaço ao ar livre e mesmo assim não param de reclamar.

Algumas pessoas passaram a rezar mais, crente de que a fé move montanhas (e o vírus).

Outras afundaram em si mesmas, certas de que o fim do mundo chegou e que a humanidade não tem mais jeito.

Quando o vírus chegou ao Brasil, confesso: eu me vi desestabilizar.

E olha que, tecnicamente, pouca coisa mudou para mim: moro sozinha, amo ficar quieta, não sou de sair muito e trabalho em regime home office, ouvindo o barulho dos passarinhos e do mar.

Mesmo assim, despiroquei.

Até que me lembrei: eu não tenho domínio do que acontece lá fora nem de como as pessoas vão se comportar. Mas a mim mesma, eu posso dominar.

E foram uns dois ou três dias ali, buscando voltar para o meu centro, fazendo terapia a distância e mais uns rituais de ~bruxa~ moderna, a fim de trazer consciência para o corpo e a mente.

Pequenos gestos que fizeram toda a diferença.

Como me disse um amigo: não precisa mudar o mundo.

Começando por você e mudando as SUAS atitudes, o mundo já vai te parecer um lugar bem melhor.

Hábitos em comum das pessoas que não estão surtando (tanto)

Se você der uma boa olhada ao redor e investigar, mesmo que superficialmente, o que estão fazendo aquelas pessoas que, a seu ver, não parecem tão doidas diante do caos do mundo, vai descobrir alguns hábitos saudáveis em comum.

É, não adianta fazer cara feia nem revirar os olhos…

Essas pessoas estão cuidando da saúde física e mental. Elas não se abandonaram. Elas não se deixaram engolir pela falação externa.

Reuni aqui os hábitos em comum que observei por aí (e adotei).

Sei que somos diferentes e que cada um reage conforme o que tem consciência. Você tem todo o direito de não querer fazer nada da lista a seguir.

Como eu disse antes: questão de escolha.

Mas uma coisa é certa: se tá dando certo para alguém, pode dar certo para você também.

Os hábitos em comum

  1. Acordar um pouco mais cedo (principalmente se possui filhos) e tirar um tempinho para organizar a cabeça e listar as tarefas do dia;
  2. Fazer pelo menos 1 ou 2 atividades físicas durante todo o dia. Pode ser coisa simples, como yoga de 10 minutos sem sair da cama, dançar no meio da tarde, alongamento à noite… não importa: qualquer hora é hora. Sentiu o corpo travar, o cansaço bater? Mexa-se!
  3. Filtrar o que consome na internet (e perceber quando a ~infoxicação~ toma conta do corpo e da mente);
  4. Ler mais: livros e notícias boas;
  5. Desenvolver a resiliência, ou seja, a capacidade de ficar bem mesmo no meio do fogo cruzado, consciente de que há coisas que estão no seu controle e há coisas que não;
  6. Praticar o autocuidado: dormir sem culpa, respeitar o seu tempo de assimilação das coisas, não conversar com quem não agrega, cozinhar de forma amorosa, sendo grata, fazer um agrado só para você etc;
  7. Meditar: sem aquela pressão de ~esvaziar a mente~, de preferência. Só o fato de fechar os olhos por alguns minutos, se concentrar na sua respiração e deixar os pensamentos passarem já ajuda a diminuir a ansiedade e o estresse;
  8. Ouvir músicas bonitas, que elevam a vibração e passam uma mensagem positiva. Quando me sinto deprimida, costumo ouvir essa música aqui (a voz dessa mulher muda a minha energia na hora);

… entre outras coisas.

Te pareceu óbvio?

Pra você ver: quando a gente mergulha no caos, abraça o desespero e se deixa contaminar pelo inconsciente coletivo, até o óbvio desaparece diante dos nossos olhos.

Os hábitos que listei são simples – e nem por isso menos eficazes.

Lembrando que não é só porque uma pessoa faz tudo (ou quase tudo) que coloquei ali que ela estará sempre bem.

Essas pessoas surtam, sim. Mas numa frequência bem menor.

O equilíbrio não é linear – cair faz parte

Eu adoro a metáfora da montanha-russa para dizer que vivemos entre altos e baixos.

Afinal, em alguns dias realmente vai dar tudo certo – às vezes até demais! – e em outros, não.

Com meus 10 minutinhos de yoga diários, diretamente da minha cama, tenho reforçado essa história.

O equilíbrio não é linear.

Traduzindo: não é porque você aprendeu como ficar mais centrada, como respirar consciente e silenciar a falação da mente que vai ser sempre assim.

Falo por mim: não é porque hoje consegui ficar numa pose de yoga sem sentir dor que amanhã também conseguirei (mas eu vou tentar, hahah!).

Haverá alguns dias impossíveis. Fato.

No fim das contas, esse negócio de se manter equilibrada é como andar de bicicleta: você sabe o que tem que fazer para não destrambelhar, mas nem sempre conseguirá evitar. Por mais que você tome cuidado, pode acontecer de você cair.

Mas eu espero, de coração, que você não se dê por vencida – e ainda que devagar, volte a reagir.

Você tem algo a dizer?