Sonhei que você e ela formavam o par perfeito pra mim. Ela era loira, cabelo curtinho, olhos amendoados e aquele corpo do qual já te falei. Eu adorava as ideias de vida dela, mas amava ainda mais aquele corpo. Você não me julgou por isso e eu passei a gostar de você mais um tanto.
“Você nunca fez sexo a três, né?”, você perguntou, divertido, e respondi que não. Ainda não. Na minha mente, nós três já fizemos de tudo.
Na vida real, eu estava engatinhando na ideia. Mas sentia que você poderia me orientar. Você se divertiria tanto quanto eu. Eu sabia que você daria conta. Sentia isso de longe, só de te ver chegar. Ah, você daria muita conta… me pegaria primeiro ou as duas de uma vez. Ou pegaria só ela e eu enlouqueceria assistindo. Depois você ficaria assistindo. Todo mundo teria a sua vez, todo mundo poderia fazer o que ninguém, até hoje, me fez.
“Desde quando você tem essa pira?”, você quis saber, mas eu não soube responder. Quando vi, eu estava dando em cima de mulheres quase sem querer. Acho que é natural. Quanto mais me conheci, mais percebi a delícia de ser mulher. Somos tão infinitas… ser mulher é se reconhecer tão linda a ponto de se desejar. De passear pelo próprio corpo e aprender a ter prazer só de imaginar.
Você sorria com os olhos enquanto eu te descrevia vontades sobre as quais não consigo parar de fantasiar. Não sei como nem quando, só sei que vai acontecer. É um pacto que fiz comigo. E você sabe que tudo que eu quero eu consigo.
Ela tá vindo pra cidade, já te avisei. Tá tudo convergindo pra isso. “Ah, é?”, você riu, apertando minha mão, brincando com o meu cabelo. Estávamos de frente um para o outro. Me levantei e sentei no seu colo, me encaixando do jeito que você gosta. Fui me aninhando de propósito. Você com as mãos na minha cintura, me puxou alguns centímetros mais perto. Encaixe perfeito. Você me olhando, encantado e quase louco. Falei baixinho, enquanto me mexia e sentia você pulsar: “Sim… falta pouco…”.
Eu tinha lido algumas coisas sobre como criar um clima e tinha jogado fora. Não queria inventar, não queria criar caso, queria sentir o que poderia acontecer.
Você concordou, enquanto esperávamos ela tomar banho. Te apresentei a ela naquela mesma tarde, no caminho pra uma das cachoeiras mais bonitas da região. Dia de semana, ninguém pra incomodar. O espaço era só nosso. Pude observá-la se jogar na água, à vontade, e admirar aquele corpo lindo.
De vez em quando eu olhava pra você, que olhava pra mim, que olhava pra ela, que olhava pra você, que olhava pra ela, que olhava pra mim. Eu só conseguia pensar que aquilo daria muito certo. Ela era doce e ao mesmo tempo provocante: sabia o que estava fazendo. Divertida, contou vários casos durante a trilha. Você, outro palhaço. Ainda que tudo desse errado: não daria. Na minha cabeça, ou daria certo ou daríamos muita risada.
Chegando em casa, sugeri um vinho verde, gelado, perfeito pra um dia quente. Ela disse que queria tomar banho antes, sozinha – por nós, a coisa começaria no chuveiro. Mas tudo bem.
Você estava impossível: me comia com os olhos, prevendo tudo que poderíamos fazer. Eu devolvia, sabendo que ia acontecer.
Quando ela apareceu na porta, só de toalha, fiquei sem ar. Ela chegou mais perto, tomou um gole da minha taça. Passou a mão no meu cabelo, suave, e você começou a me beijar. Ela riu. Teu beijo foi uma confirmação de que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Foi como selar o acordo.
Você me olhou e disse que ia sair pra fumar – sabia que eu queria ficar com ela a sós. Sedutora, sentou de frente para mim: enfim, nós. A toalha escorregando pelo corpo dela, e eu só consegui falar: “Caralho, que mulher”. E que sorriso!
Entre uma bobagem e outra, começamos a nos pegar. Beijo que encaixa, pele quente, éramos duas loucas e queríamos você pra completar. Ouvi barulho na porta. Você entrou, deslumbrado diante daquela cena. Sorriu ao nos ver. Fiz um sinal: “Vem. Só falta você”.
Lua cheia. Eu estava em transe, vendo a silhueta dela subir e descer, de costas para mim, de frente para você. Há muito que meu desejo de ser voyeur havia se manifestado… que realização divina.
Ela pedia, você metia com força e ao mesmo tempo com carinho. Tinha cuidado, tinha jeito e ela não pensava duas vezes antes de demonstrar. Ela estava entregue. E eu, só aguardando a minha vez de começar.
A verdade é que eu já não sabia se eu queria partir pra cima: tão bom ver você e ela ali. Tão bom ver, de fora, como você faz, e imaginar que ela estava sentindo tudo que eu também já senti… que noite. Sob a luz da lua, ela gritou de prazer.
Entre outras coisas, nosso maior combinado era que explorássemos nossas vontades: havendo consentimento, tudo certo. Tive vontade de ir até vocês e passear pelo corpo dela. O coração batia acelerado. Foi a sua vez de parar. Eu sabia muito bem como era ficar com uma mulher, mas transar até o fim, nunca tinha acontecido. Tesão da porra imaginar você ali, assistindo.
Nós duas éramos lindas de ver, de pegar, de beijar. Não havia pudor algum, não havia medo. Fiquei por cima, instintivamente. Ela olhava descaradamente pro meu corpo e acariciava de uma forma única. Fogo, ritmo, movimento: caímos juntas, extasiadas.
Enquanto me recuperava, senti você me abraçar. Não deu muito tempo de pensar – você e ela voltaram a atenção para mim. Com você, revisitei lugares e sensações, potencializei o que eu já conhecia. Com ela, descobri partes do corpo onde nunca imaginei sentir prazer e me deixei levar por um toque suave, uma boca macia e uma força feminina sem igual. Perdi a noção do tempo. Ninguém tinha pressa de chegar… ninguém estava ali só por estar. Estávamos inteiros e aquilo tudo era um ato de amor. Por si, pelos outros, pelo corpo que se tem.
E pensar que algum dia acreditei naquela ideia de que um é pouco, dois é bom e três é demais. Realmente, três é demais – no melhor e mais delicioso sentido.