[Crônica] Resistir e desistir

“Não quero falar sobre isso”, ele disse, ríspido, porque essa era sempre sua resposta diante de qualquer frustração. Estávamos na cama, e ele não tinha conseguido me fazer gozar com a boca. Logo, se sentiu um fracasso.

Paciente, expliquei que não tinha problema algum – quer dizer, mais ou menos. Procurei acalmá-lo porque minha intenção era que voltássemos a nos divertir.

Sexo bom é sexo sem roteiro. Sem amarras. Tudo bem dar uma pausa, respirar, conversar sobre outra coisa, assistir um vídeo qualquer, falar bobagem. Mas desistir? Não tava nos meus planos.

Ele quieto. Eu sugerindo coisas, rindo, suave, querendo quebrar aquele gelo. Ele totalmente sem jeito: “Dá pra você parar de falar? Não quero fazer mais nada”. Uau… eu estava na cama com um homem ou uma criança? Que merda. Não era a primeira vez que aquilo acontecia.

Eu sempre disposta a dar um jeito, a encontrar uma solução, e ele mergulhando bonito nas dificuldades. Dando ouvidos à falação da mente, com o ego ferido, ao invés de me escutar e relaxar. É que, pra mim, diálogo resolve muita coisa. Pra ele, aparentemente, não falar era não piorar a situação. Tudo errado, meu Deus!

O clima fúnebre tomou conta e a masculinidade, frágil como caixa de papelão, deu lugar ao que poderia ser um momento de cura e aceitação.

É preciso aceitar que nem sempre a gente dá conta. Que satisfazer o outro é diversão, não obrigação. É preciso aceitar que nem sempre a lubrificação será natural, que às vezes o pau não vai subir tão rápido quanto gostaríamos e que por melhor que o sexo esteja, a mente – sempre ela! – pode sim interferir, comprometendo o momento e a entrega.

Às vezes rola de primeira, às vezes a gente chega ao ápice antes mesmo de tirar a roupa. É tudo tão relativo. Não é que ele não soubesse chupar – talvez eu também estivesse muito mental. Bem por isso eu queria conversar: pra dissolver a tensão, pra liberar, pra devolver força. Ser vulnerável não é ser fraco.

Ele permanecia quieto, olhando pro teto. Eu me sentindo ridícula: quantas vezes mais eu aguentaria aquele jeito dele de reagir às situações? Ele broxava: silêncio. Eu não gozava: silêncio. Ele gozava rápido demais: silêncio. Eu sentia dor: silêncio. Ele se comparava com o meu vibrador: silêncio.

O que ele esperava, afinal? Que o silêncio resolveria, que era só fingir que nada havia acontecido? Eu estava cheia de perguntas. Como eu ia quebrar esse ciclo e melhorar com alguém que nunca queria dialogar? Que nunca queria olhar para nada?

A intuição veio forte, como um tapa: tava mais que na hora de partir pra outra. Não no sentido de estética, de encontrar um pau maior ou alguém que me fizesse gozar em minutos. Não era ISSO que eu estava buscando.

Eu buscava compartilhamento de ideias, reflexão, carinho, companheirismo, troca, vontade de crescer, de aprender e evoluir junto. Alguém que não se fechasse na própria concha diante dos problemas.

O olhei por um longo tempo, processando todas aquelas informações. Cínico, ele deu um sorrisinho pra dizer: “Fala a real, mesmo eu sendo desse jeito, você não resiste a mim”. Eu o olhei bem nos olhos, pela última vez. Sorri de volta. Então levantei, vesti minha roupa, peguei minha bolsa, abri a porta e decretei: “Verdade. Eu não resisto a você. Eu DESISTO de você”.

Você tem algo a dizer?