“Prazer, Paty”: uma reflexão sobre nomes e identidade profissional

“Oi, meu nome é Paty”: já tem algum tempo que eu me apresento assim, com o meu apelido no lugar do meu nome próprio. Na verdade, percebi que isso acontece desde que me demiti para ser freelancer, 3 anos atrás.

O nome é algo bem importante na vida de uma pessoa. A gente se reconhece por ele, se identifica (ou não) e pode, por causa dele, viver momentos divertidos ou constrangedores. Com meu primeiro nome, Patrícia, escapei, mas Cozer geralmente virava piada em sala de aula.

Me peguei refletindo sobre essa história de nomes no último fim de semana, enquanto listava os prós e contras de voltar a publicar no LinkedIn.

Gosto do meu nome, mas, de alguma forma, ele sempre me incomodou quando pronunciado por completo. Pa-trí-cia. São três separações silábicas que me lembram uma entonação de voz desagradável, paterna, diante de alguma situação nada favorável.

Situações que vivi mais de uma vez entre a infância e a adolescência: uma nota baixa em matemática (fiz coleção delas), uma briga com meus irmãos ou eu mesma, do alto da minha impaciência, querendo interromper o discurso do meu velho pai: “Shhh, Patrícia, não me interrompa, papai tá falando”. Essas lembranças aparentemente bobas que levamos para a vida adulta, sabe?

Pode parecer bobagem, mas, resgatando da onde vem esse ranço por ouvir o meu nome completo, cheguei a uma conclusão curiosa sobre a minha dificuldade de ser ativa no LinkedIn.

De todas as redes sociais onde dou minha cara a tapa, o LinkedIn é a única onde assinei como Patrícia. Sabe como é, pra parecer mais profissional.

Mas peraí.

Eu também ajo profissionalmente nos demais lugares onde me exponho e assino como Paty. Seja como podcaster, como escritora ou revisora de textos nas redes sociais. Por que seria diferente no LinkedIn? Será que, afinal, era o meu nome completo me travando?

Quais as sensações que o seu nome te causa?

Seres humanos são mestres em fazer associações, até de forma inconsciente. Vemos ou ouvimos alguma coisa que não gostamos e pronto: lá vai o nosso cérebro guardar uma imagem ou sentimento relacionado àquela situação.

Com o nosso nome, acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se sentem desconfortáveis quando são chamadas pelo primeiro nome ou nome completo porque têm lembranças de um momento tenso, com uma figura de autoridade dando bronca, por exemplo. Associamos aquilo a algo não tão bom.

Eu entendo que Patrícia seja o registro oficial. É assim que está escrito em diversos documentos meus, e tudo bem. Não ligo de ser chamada pelo meu nome completo quando o contexto pede: na fila da casa lotérica, no banco, preenchendo uma ficha no hospital e por aí vai.

Contextualizar é essencial. Me refiro a sensação que o nosso nome pode causar no âmbito profissional ou quando estamos nos recolocando enquanto profissionais.

Algumas perguntas que me ajudaram nesse sentido foram:

>> Quando te chamam pelo seu primeiro nome ou nome completo, você se sente bem?

>> Você se sente parte daquele local ou daquele grupo de pessoas?

>> O seu nome te causa sensação de afastamento ou te aproxima dos demais?

>> Você se identifica com o seu nome? Acha que ele combina com sua forma de ser, pensar e agir?

Me fiz essas perguntas todas enquanto rascunhava este artigo.

Quando trabalhava como CLT, poucas eram as pessoas que conseguiam me chamar de Paty, por mais que eu pedisse. Isso se colocava como uma barreira para mim. Era como se as relações não pudessem ser estreitadas.

Quem me chamava de Patrícia o tempo todo (mesmo na informalidade) me passava uma espécie de medo – por essas pessoas eu me sentia vigiada e pouco próxima, a ponto de ver meu desempenho cair.

Quem conseguia me chamar de Paty e ainda assim, me ver como profissional, ganhava não só o meu coração – como também a minha melhor performance.

Louco, mas real.

Uma questão de (in)formalidade e identificação

Ainda ontem, resolvi mudar: troquei Patrícia por Paty. Editei como quero ser chamada aqui no LinkedIn e agora sim, sinto que todas as minhas redes sociais estão coerentes.

Acho que vale a pena mudar quando você percebe que há uma lacuna entre o seu nome e quem você realmente é. Patrícia tem jeito de pessoa séria demais e taí uma coisa que eu não sou.

Se isso vai jogar contra mim profissionalmente? Não acredito. E para me convencer disso, listei 3 razões para não me arrepender de ter mudado o meu nome e que podem servir para você também, caso esteja pensando em modificar a sua identidade profissional.

1. Minha comunicação é informal: não curto frescura, etiqueta e gente cheia de dedos. Eu me comunico de maneira informal – com algum limite, é claro – e acho que Patrícia simplesmente não orna com o meu comportamento.

2. Proximidade e conforto: eu me sinto mais próxima das pessoas que me chamam de Paty. Me sinto mais capaz de gerar conexão dessa forma. É um lugar de leveza, conforto e mais importante: pertencimento.

3. Quebra de padrões mentais: passar de Patrícia para Paty ajuda a quebrar aquela ideia incrustada bronca e autoridade, permitindo uma nova mentalidade.

Não precisa mudar tudo

Estou animada com a mudança que fiz porque já senti a diferença onde mais importa: no meu humor. No meu ânimo, na minha disposição.

Se você também tá a fim de rever o seu nome e a forma como se coloca profissionalmente, ok. Só não precisa sair modificando tudo.

O meu site, por exemplo, continuará sendo patriciacozer.com. Primeiro que, visualmente falando, acho até mais bonito do que patycozer.com. Segundo que é a maior trabalheira trocar o nome do domínio e refazer a logo.

Por enquanto, me apresentar como Paty Cozer é mais do que suficiente.

Vai dizer: você também não tá achando mais divertido agora? Não se sente um pouco mais próxima a mim podendo me chamar de Paty, não importa qual a ocasião?

Então. É dessa sensação de aproximação que eu tô falando.

Concluindo…

Acho que as pessoas devem ser chamadas exatamente pelo nome que elas querem ser chamadas.

Meu avô paterno acreditava que se você fosse registrada como Defunta Menezes, ~babau~, já era: você deveria ser chamada sempre por Defunta, ou seja, pelo nome completo, sem abreviações. Nada de Dê, Defu, Funtinha. Não. Defunta Menezes.

Taí uma ideia familiar sobre a qual discordo completamente.

Afinal, um nome diz muito sobre nós e se sentir confortável com ele é o primeiro passo para a autoexpressão.

Tô sentindo isso na pele. Resolvi aproveitar que o mês virou e recomeçar aqui no LinkedIn. Além de trocar o meu nome, estou revisando minha descrição no perfil e em breve a foto também não será a mesma. Sabe aquele faxinão de fim de ano? Tô fazendo agora.

Mesmo já tendo arriscado alguns artigos na plataforma, vou considerar este como o meu primeiro. Porque é o primeiro que assino como Paty.

Bem-vind@ às minhas esquisitices.

Com amor,

Paty Cozer.

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