Eu era cheia dos preconceitos. Por quebrar a cara com coaches de araque diversas vezes, me fechei. Quando mentores e mentoras começaram a brotar, sobretudo no LinkedIn, pensei: ~Ih, lá vem!~.
Embora irritada, eu também ficava curiosa, pensando o que tinha de tão especial em participar de uma mentoria ou ser mentora.
Referências do marketing digital diziam que era um jeito rápido de fazer dinheiro (e eu pude comprovar), mas, antes de abraçar a ideia, precisei lidar com algo muito desagradável: a minha autossabotagem disfarçada de arrogância.
Antes de mentorar, procure mentoras
Gosto muito de ouvir quem já viveu o que estou prestes a viver. Buscar referências é fundamental.
Quando decidi que queria mentorar (após algumas sessões de terapia encarando a droga da autossabotagem), pensei logo em chamar a Dalva Corrêa pra conversar.
Dalva é uma das minhas criadoras de conteúdo favoritas da rede. Eu já era fã dessa mulher antes mesmo de vê-la se tornar Top Voice 2020, mas foi do final do ano pra cá que ficamos mais próximas, a ponto de eu me sentir à vontade pra chegar e mandar logo um áudio no ~Zap~ da criatura.
Pedi conselhos, assim, na ~caruda~. Perguntei-lhe se achava que eu estava sendo arrogante por não acreditar que se pode mostrar a alguém como escrever com a alma e a resposta afirmativa dela me desconcertou.
Respirei… contei até três… e segui disposta a quebrar minhas crenças. Apertei o play e ouvi, ansiosa, as pílulas de sabedoria da rainha.
Dalva foi tão amorosa e paciente comigo que a considero minha fada-madrinha. Fechamos parceria, falamos sobre a vida e celebramos as vitórias, ainda que pequenas. Prova disso é o diálogo abaixo, logo após minha primeira venda:
Esta é a minha terceira semana como mentora e eu estou muito realizada, pagando os boletos e fazendo o que sei de melhor.
Se você também tem vontade (e medo) de mentorar, os passos abaixo podem ajudar.
7 passos para criar, estruturar e vender a sua mentoria no LinkedIn
1. Pesquisa: uma fase chata, mas necessária
Isso vale tanto para você quanto o seu público. Pesquise mentorias do nicho que você tem interesse e perceba o que te chama a atenção. O que poderia ser aplicável à sua mentoria? Sobre o que você gostaria de falar por semanas consecutivas? Quão boa você é nisso?
O negócio é mesclar o que você curte com a necessidade do público. Não adianta oferecer mentoria sobre algo que você ama mas ninguém tem interesse em saber mais.
Nada de inventar a roda: abre logo um formulário no Google Forms, simples e intuitivo, para mapear as pessoas que poderiam se interessar pela sua mentoria. Criei apenas duas perguntas nessa fase:
- Qual sua maior dificuldade na hora de escrever soltinho?
- Quanto você poderia investir: menos de R$ 997, R$ 997 ou mais de R$ 997?
Como nem todo mundo tem saco para responder formulário, criei também uma enquete sobre o que as pessoas não aguentavam mais ouvir quando se tratava de escrita e me surpreendi positivamente com os votos e a discussão que rolou nos comentários.
Ao final do post, anunciei que estava querendo lançar uma mentoria para quebrar essas dicas toscas sobre escrita e só ali, já consegui pessoas interessadas.
2. Estruturação: o melhor formato é aquele que não afeta o seu bem-estar
Tem gente vendendo mentoria de tudo quanto é tipo. Não vejo problema nisso: cada um é que sabe até onde consegue ir.
Prezar pelo seu bem-estar é importante, além de calcular em quantos encontros você conseguiria causar uma transformação na vida da mentorada. Às vezes 4 encontros são suficientes; no meu caso, optei por 7.
Você pode oferecer um número menor de encontros e aumentar o tempo ao vivo. Para mim, estipulei que 1 hora e meia é o ideal. Mais que isso, o cansaço bate e eu começo a me perder no raciocínio.
3. Expectativa: gerando curiosidade e intenção
Provoque curiosidade sobre o que você quer oferecer. Antes de abrir carrinho, dê pequenas amostras do que a pessoa receberá. Se houver convidadas especiais, não revele o nome delas tão cedo. Se a mentoria inclui bônus (recomendo que inclua, hein), mencione isso durante a divulgação.
Converse com o seu público animadamente, responda todas as dúvidas que surgirem e foque em construir relações transparentes. A melhor propaganda é ser você.
Algo que ouvi num curso on-line e me marcou para sempre foi:
As pessoas não compram o seu serviço ou produto: elas compram você.
Qual é a imagem que você passa? Por que alguém compraria de você?
O que eu costumo ouvir de quem acompanha meu conteúdo é: ~Leio seus textos e fico querendo ser sua amiga~, ~Você é muito divertida, parece que consigo te ver na minha frente~, ~Queria que você fosse minha professora~, etc.
Mostre-se. Apareça. Crie intenção. Compartilhe o que você pensa. Permita que as pessoas se conectem com o seu jeito e os seus valores. Isso faz diferença.
4. Considerando investimentos: ferramentas importantes
Mentoria é um serviço de valor alto, quando comparado a um curso com aulas gravadas. Geralmente, os encontros da mentoria são ao vivo e para gravá-los por mais de meia hora, não há uma plataforma gratuita disponível (pelo menos, não encontrei).
O Zoom aguenta 40 minutos gratuitamente, mas pense: é possível passar o que você quer nesse tempo?
Considerei as opções (Zoom, Whereby, Google Meet, Loom) e assinei um plano do Google Meet. Estou apaixonada pela minha escolha, pois as ferramentas são úteis e muito simples de usar. Integrei tudo ao Google Workspace e ele só falta trazer o café na cama!
Achei perfeito para me organizar.
Reflita também sobre a hospedagem da sua página de vendas (caso queira uma) e plataforma de pagamento. Gosto da Hotmart e fiz quase tudo por lá. Sim, há taxas, mas para mim, valeu a pena.
5. Pré-lançamento e lançamento: tipos de posts no LinkedIn
Marketing de conteúdo é a alma do negócio. Se você não costuma criar conteúdo sobre o assunto da mentoria, se as pessoas não te pedem informações sobre o tema, se você nunca foi elogiada pelo que faz e quer oferecer, qual o sentido?
Fiz poucos posts anunciando a mentoria. O trabalho mais árduo é o da pesquisa, pois é a fase da atração e da peneira (essa pessoa está disposta a se comprometer até o fim da mentoria?).
Separei algumas ideias de posts que você pode aplicar. Lembrando que fiz tudo pelo LinkedIn, mesmo, mas que boa parte do público já tinha curiosidade sobre a minha forma de escrever e comunicar.
Pré-lançamento
- Enquete + checagem para ver se há interesse numa possível mentoria;
- Solucionar algumas dúvidas em forma de post curto ou artigo;
- Pesquisa para entender o que aborrece o seu público.
Lançamento
- Post anunciando que as inscrições estão abertas e link no primeiro comentário para a página de vendas;
- Post contando como você está se sentindo e redirecionando, novamente, para a página de vendas;
- Post anunciando vagas sociais e afirmativas (leia mais sobre isso ao final do artigo).
6. Inspirar e transformar
Entenda: mentoria não é aula, não é sessão de terapia, não é dizer exatamente o que a pessoa tem que fazer. Mentorar é entender onde a pessoa quer chegar. O que ela busca? E por que você pode guiar?
Eu me preocupava quando recebia comentários do tipo ~Ahhh, me ensina a escrever que nem você!~, até perceber que isso não é possível.
Quando você compra uma mentoria, você quer, no mínimo, ser impulsionada. É a chance de descobrir sua própria luz.
Mentorar é fazer com que a pessoa coloque em AÇÃO o que lhe é mostrado. É oferecer ferramentas e todo o apoio para o destrave. Não basta encontrar o que a incomoda, é preciso ir mais fundo. Por isso, fala-se tanto em jornada: mentorar é caminhar com quem te procurou.
7. Seguindo os passos de quem já realizou mentorias de sucesso
Conheci a Carolina Inthurn recentemente e amei. A forma dela de trabalhar me conquistou, então, quando vi o Manual da Mentoria Inesquecível, não pensei demais: comprei.
É um material bem completo sobre como mentorar e envolve até questões de contrato e Código do Consumidor. Recomendo muito para quem vai mentorar pela primeira vez.
Outro conteúdo que me ajudou pra caramba foi esse aqui. Embora focado na mentoria individual, o artigo contém exemplos preciosos e materiais gratuitos para baixar.
Dica final: dê visibilidade a quem não costuma ser vista
Pare e reflita: quantas pessoas pretas estão naquela comunidade de escrita criativa da qual você faz parte? Quantas pessoas pardas ou trans poderiam pagar pelo valor da sua mentoria?
Você não se incomoda de ter só depoimentos de pessoas brancas? Não é esquisito dizer que apoia a diversidade e agir como se pessoas pretas e trans não existissem? Será mesmo que é só questão de ~quem quer, dá um jeito, quem não quer, arranja uma desculpa~?
O Brasil é um país desigual. As oportunidades não estão ao alcance de todas as pessoas.
É por isso que existe o sistema de cotas nas universidades. É por isso que significa muito oferecer vagas sociais e afirmativas destinadas a pessoas pretas/pardas/trans.
Eu tinha receio de fazer isso e não ser bem interpretada, então busquei ajuda na rede e entendi como agir. Você pode se inspirar com as sugestões que recebi e criar sua oferta.
O importante é dar a essa parcela da sociedade a chance de viver experiências tão legais como uma mentoria em grupo.
Bastidores da minha primeira mentoria
Só tivemos dois encontros até agora e eu já consegui visualizar mudanças interessantes em algumas participantes.
Seja no humor, no olhar, naquela vontade de partilhar uma dica ou aprendizado: é lindo ver alguém se desenvolver.
Tem gente que entra toda tímida e com o passar do tempo, descobre que só precisava sentir-se confortável e aceita para desenrolar as próprias ideias. Tem gente que já chega chacoalhando tudo, fazendo todo mundo dar risada. Tem gente que não bota fé no início e depois vem agradecer. Tem gente angustiada, ansiosa, tem gente querendo entender.
Mentorar é observar com calma. É tirar o holofote de mim mesma. Mentorar é muito mais sobre ouvir que sobre falar.
Se você tem um desejo genuíno de guiar e ver a outra pessoa crescer, aposte em mentoria. Você não vai se arrepender.
🍓 As pré-inscrições para a segunda turma da Mentoria de Escrita Gostosinha estão abertas, pessoa! Vem ver e me contar qual é o seu porquê!