10 passos para ADOECER na internet (e como se recuperar)

Sim, nós amamos a internet. Linda, revolucionária, inteligente, rápida e… doentia. Mais do que nunca, vemos pessoas adoecendo por não saber como lidar com os efeitos colaterais do mundo virtual.

Inclusive, fui uma dessas pessoas.

O problema é a pecinha atrás do celular

Uma coisa é precisar de internet para divulgar o nosso trabalho, falar com parentes distantes, negociar com clientes, assistir séries, baixar e-books interessantes, ~pá e tchans~.

Outra é depender dela para se sentir amada, para sentir que se importam, que você é alguém legal ou tentar diminuir a ansiedade e a insônia segurando na mão o causador da sua ansiedade e da sua insônia (seu celular).

Na verdade, não são as redes nem o nosso celular: somos nós.

Tive uma professora de matemática que dizia que o problema não era a calculadora e sim a pecinha atrás dela (ou seja, meu dedo e como eu fazia os cálculos incorretamente). Na internet, é a mesma coisa.

Você escolhe quantas horas quer passar olhando o conteúdo alheio ou trabalhando no seu. Você pode optar por não se maltratar.

Como diria ~Sense Márcia~ (só os dinossauros da internet vão entender):

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PARAAA!

10 passos para enlouquecer na internet

1. Acorde e bote a mão no celular

Não vá ao banheiro, não medite, não espreguice, não coma: abra a tela do celular e comece a dar aquela olhadinha no Facebook, no WhatsApp, no Instagram, no LinkedIn, no Pinterest, no YouTube… antes mesmo do café da manhã.

PARA DE SER DOIDA: se você usa o celular como despertador, coloque-o bem longe da cama: pode ser até em outro cômodo. A ideia é que você levante para desligar o alarme e SÓ. Se a tentação de fuçar nas redes sociais for muito grande, vale a pena investir num despertador mesmo, daqueles grandões, ou num gato de estimação (eles costumam acordar e miar incansavelmente, até você pirar, digo, levantar).

2. Ligue para o que os outros vão pensar

Lá vai você, com receio de escrever algo, só porque alguém da sua família pode ler e não gostar. Rola um tremelique só de imaginar o que seus colegas de trabalho poderão dizer ou pensar, quando você fizer um vídeo meio amador, falando sobre alguma coisa que você ama. Sem contar aquela amiga da sua prima, que já te chamou de ~blogueirinha~, no maior tom de deboche. 

PARA DE SER DOIDA: coloque na sua cabeça que as pessoas VÃO FALAR, de um jeito ou de outro. Mesmo que você não faça nada. Já que é assim, por que não fazer? Quando começar a se importar demais com a opinião alheia, vá para a frente do espelho e pergunte-se: ~Peraí, alguém paga as minhas contas?~. Aposto que, em seguida, você saberá como proceder.

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Para não dizer outra coisa.

3. Tente responder e agradar todo mundo num curto período

Um belo dia, disseram que se você não responder os comentários logo e deixar o povo que te acompanha no vácuo, já era. O algoritmo surta, cai teu alcance e as pessoas começam a te achar metida. Você se preocupa em responder tudo que te perguntam nas redes com educação e empatia, mesmo que a resposta seja óbvia ou que você esteja atrasada para um compromisso, porque, afinal, a pessoa te viu ~on-line~.

PARA DE SER DOIDA: existe vida fora das telas. Você não nasceu para agradar estranhos na internet e satisfazer suas necessidades o mais rápido possível. Responda no seu tempo, sem estresse e sem se cobrar. Permita-se descansar e analisar a situação. Não ceda à tentação de agradar: você não deve nada a ninguém e as expectativas dos outros são… dos outros!

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Relaxa…

4. Fique triste com comentários maldosos

~Sua p*ta~, ~Você devia morrer~, ~Seu texto é ridículo~, ~Nunca li tanta m*rda na minha vida~, ~Feminazi do car*lho~, ~Você se acha melhor do que os outros, né?~ etc. Sei o quanto é difícil passar por cima de comentários como esses (reais, por sinal), mas é preciso. 

PARA DE SER DOIDA: não leve em consideração a opinião negativa de quem você nunca viu, ainda mais se a pessoa já chega na agressividade. Isso diz muito mais respeito a essa pessoa do que a você. É ela que não tá de bem com a vida e se sentiu chacoalhada pelo seu conteúdo. Ou, pior, se irritou contigo porque queria ter a coragem que você tem. O melhor que você faz é ignorar e, em alguns casos, bloquear. Quer uma frase motivacional para se lembrar quando for alvo de comentários maldosos? Toma:

Você nunca será criticada por alguém que tá ralando como você; sempre será por alguém que tá fazendo menos.

Baita clichê, né? Mas, eu concordo.

5. Fique sem fazer terapia

Terapia é vida. Sem ela, pode ser que, durante a escrita de um texto para a internet, você tenha vontade de desaparecer, como eu tantas vezes tive. Pode ser que você comece a acreditar que nada do que escreve vale a pena. E pode ser que, como eu, você descubra que o buraco é mais embaixo e que precisa de intervenção médica urgentemente.

PARA DE SER DOIDA: não espere chegar ao fundo do poço para pedir ajuda. Se você notar que a internet vem te despertando memórias doloridas, acionando gatilhos, revirando seu estômago, te fazendo sentir impotente e infeliz, é hora de procurar um profissional da saúde mental. Se você não souber de ninguém, recomendo uma consulta gratuita para conhecer a Anna, minha psicóloga especialista em prevenção do suicídio.

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Haja terapia (e dinheiro!)

6. Abrace todas as causas

Política, feminismo, racismo, meio ambiente, miséria, fome, sustentabilidade, saúde pública, suicídio, índios, homofobia, corrupção, as queimadas, a pandemia, o desemprego, enfim: sinta-se encarregada de falar sobre tudo, de dar seu pitaco, se expor e lutar bravamente. Acredite que você pode salvar o mundo e veja a sua energia ir embora rapidinho.

PARA DE SER DOIDA: sei como é sentir todas as dores do mundo e chorar por se ver impotente diante do caos, mas isso não pode te paralisar. Infelizmente, você não dará conta de tudo. Você não conseguirá abrir a cabeça de todas as pessoas. Essa foi uma lição muito dura pra mim: aprender a escolher minhas batalhas, a entender onde sou mais potente, a focar minha energia onde dá pé. Do contrário, vou afundar outra vez nesse mar de gente insana e notícia ruim.

7. Tenha a autoestima baixa e se compare o tempo todo

Quem nunca? Talvez nem todo mundo tenha a autoestima baixa, mas todo mundo já viveu, ainda que por pouco tempo, a paranoia da comparação. É difícil não passar por isso, pois crescemos numa sociedade que incentiva a competição e que nos faz acreditar na rivalidade — sobretudo feminina! — como algo natural. Com as redes sociais e a ilusão de uma vida perfeita, a ideia de que ~temos que ser mais assim e menos assado~ grudou.

PARA DE SER DOIDA: é inútil se comparar. Isso não te faz ir mais longe. Foca no que é teu. Inspire-se em quem já chegou onde você quer chegar, mas não diminua seus esforços, não menospreze a sua trajetória. O seu tempo, o seu jeito e as suas experiências são únicas. A real é que todas as pessoas estão encarando algum monstro, mas nem sempre você pode ver. Tenha paciência e, por amor, acredite em você.

8. Consumir mais do que produzir

~Role menos o feed, desenrole mais suas ideias!~. Pra mim, essa frase diz tudo. Não recomendo buscar inspiração nas próprias redes: é cansativo. Acredite na pausa do dia a dia, na beleza da sua história e passe a produzir muito mais do que consumir. Claro que estamos nos relacionando o tempo inteiro e que essas trocas podem ser valiosas, mas não esqueça que você também tem muito pra compartilhar. 

PARA DE SER DOIDA: aprenda a filtrar conteúdo. Escolha bem quem você vai acompanhar e dê tempo ao seu cérebro para assimilar os aprendizados e as leituras. Isso é ser gentil consigo mesma. Inclusive, é por meio da quietude e do autocuidado que nossas melhores ideias podem aparecer, junto da motivação para executá-las.

9. Foque nas métricas de vaidade

Sim, fique lá, vidrada e contando, que nem um cachorro olhando o frango rodar na padaria, quantas curtidas aquela tua foto recebeu, quem compartilhou seu último textão, quantas pessoas salvaram o seu post, quantas clicaram no teu vídeo… enfim. Abra o celular e observe a ausência de comentários com pesar, ao invés de utilizar isso como uma pista para melhorar o seu conteúdo.

PARA DE SER DOIDA: foque em produzir o melhor que você pode. Ofereça conteúdo de qualidade, converse com sua audiência, investigue e faça mais do que deu certo. Celebre seus posts de sucesso e todo o reconhecimento que vier, mas lembre-se: seguidor não paga boleto e os famosos likes também não.

10. Durma com o celular na mão ou a mão no celular

Novamente, uma péssima ideia. Além de aumentar a ansiedade, a exposição à luz do celular, à noite, prejudica o sono porque a iluminação proveniente da tela do dispositivo corta a produção de melatonina, um hormônio que influencia na qualidade do sono. 

PARA DE SER DOIDA: desligue-se. Leia um livro, escreva sobre os acontecimentos do dia, saia para caminhar (não esquece a máscara!), cuide de plantinhas, cozinhe devagar… esteja presente e preste atenção nas pequenas grandes coisas, pois elas estão em todo lugar.

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Já reparou numa flor hoje?

Nenhum reconhecimento vale a sua saúde mental

Ouça a voz da experiência aqui: nenhum reconhecimento pode ser mais importante do que o seu bem-estar.

Nada pode ser mais importante do que a sua saúde mental.

Parcerias, contratos, clientes novos, fãs, convites, palestras, troféus, prêmios, posts que viralizam, infoprodutos de sucesso, aquele tão sonhado livro: nada disso importa quando você tá um caco.

Para desfrutar do reconhecimento do seu trabalho de forma verdadeira e seguir firme produzindo conteúdo na internet, é preciso estar com a cabeça boa e o coração em paz. É preciso chutar o seu ego pra longe, não se deixar impressionar.

A menos que você não se importe de ficar completamente abalada, a ponto de precisar se afastar, conversar com um psiquiatra e começar a tomar remédio, para alguns meses depois, entender como você foi adoecer.

Você tem algo a dizer?